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Maurício de Braga e Diego de Compostela
«Mas, enquanto Maurício triunfava assim em Roma sobre os seus adversários, aconteciam coisas na sua própria província que tornava, este êxito ilusório. A aliança com Diego, que tanto lhe tinha custado, não fora segura desde o princípio, visto Diego nunca ter definitivamente rompido com Bernardo de Toledo. E quando em 24 de Junho de 1114 o Papa deu uma sentença desfavorável a Diogo na questão dos direitos metropolitanos de Mérida, e Bernardo, por seu lado, se mostrou mais razoável para com Diego, este abandonou Maurício, que fora suspenso, e procurou com o auxílio do teledano realizar as suas ambições de metropolita à custa de Braga.
Graças à ausência de Maurício, que estava a caminho de Roma, e dos direitos que tinha o arcebispo de Toledo como legado do Papa, Diego apoderou-se primeiro das sufragâneas de Braga. É claro que o consentimento dos “comprovinciales episcopi” era de grande importância para a decisão da cúria. Em 17 de Novembro de 1114 Diego convoca em nome de Bernardo os bispos de Tuy, Mondoñedo, Lugo, Orense e Porto, todos sufragâneos de Braga, para um sínodo em que os prelados se comprometeram a reunir-se anualmente em Santiago de Compostela e a prestarem-se auxílio mútuo. O acto sinodal, demonstrando claramente a posição autoritária de Diego o as simpatias dos bispos, de cuja obediência se tratava, destinou-se a ser apresentado à cúria. Mas antes disso procurou-se a aliança do bispo Gonçalo de Coimbra, a quem os prelados reunidos escreveram, convidando-o a entrar na nova comunidade e pedindo-lhe ao mesmo tempo que esquecesse as questões que tinha com Diego de Compostela e Hugo de Porto. Com efeito, Gonçalo assinou com este último, que era nesta questão o vigário de Diego, um acordo em 30 de Dezembro de 1114, cujo teor faz suspeitar que o bispo de Coimbra se tivesse reconciliado também com Diego e que houvesse entrado na comunidade dos bispos.
NOTA: O tratado era sob o ponto de vista territorial muito favorável para Coimbra, pelo menos segundo o texto coimbrão. Ao que parece, Hugo queria adquirir a boa vontade de Gonçalo para com Diego por meio da sua transigência. É também característica a cláusula: salva amicitia domni Bernaldi Toletani archiepiscopi et domniDidaci Compostelani episcopi.
Diego constituía assim em seu favor uma frente única dos bispos galegos e portugueses e podia agora pensar em proceder contra Braga. A coincidência destes acontecimentos com o êxito de Maurício em Roma fez com que nenhum dos dois partidos conseguisse o seu fim. Parece que Maurício, que sem dúvida soube ainda no regresso da profunda mudança de situação na sua província, teria perdido todas a esperança de se manter e abandonado o arcebispado. Não há pelo menos nenhuma notícia de ter estado em Braga. Mas também Diego ficou desiludido. O seu mandatário, Hugo do Porto, que foi no Verão de 1115 a Roma apresentar à cúria o facto de solidariedade dos bispos, não conseguiu que fosse revogada a recente confirmação dos direitos metropolitanos de Braga.
Conseguiu contudo a isenção e ampliação do seu próprio bispado à custa de Braga. Além disso aproveitou-se da estada em Roma para graças, aliás, a falsas declarações que naturalmente ninguém podia examinar na Santa Sé, se fazer atribuir também uma das possessões de Coimbra. E isso determinou o bispo Gonçalo de Coimbra a ir por sua vez a Roma e pôr de novo a questão coimbrã». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.
Cortesia de Separata do Boletim do Instituto Alemão/JDACT