domingo, 14 de outubro de 2012

O Pólo Museológico de Escultura em Pedra. Crato. Maria João V. Carvalho. «… da salvaguarda e mostra pública do património nacional, provendo complementaridades cronológicas, temáticas e narrativas, em Portugal, o programa da Flor da Rosa apresenta algum pioneirismo»

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O Pólo Museológico da Flor da Rosa
«A cedência pelo Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) de um grupo de esculturas em pedra provenientes da colecção do comandante Ernesto de Vilhena para serem mostradas no Mosteiro da Flor da Rosa em depósito de longa duração, acordado protocolarmente pelas respectivas instituições de tutela, Instituto dos Museus e Conservação e IGESPAR, constitui o acervo material de um novo espaço museológico. Integra-se no projecto global de Conservação Recuperação e Valorização do Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa, na perspectiva da melhoria das condições de fruição pública deste espaço monumental e da sua adaptação a novos usos.
Se os actos de empréstimo de longa duração são práticas correntes entre os organismos encarregados da salvaguarda e mostra pública do património nacional, provendo complementaridades cronológicas, temáticas e narrativas, em Portugal, o programa da Flor da Rosa apresenta algum pioneirismo. O conceito parte da selecção de um conjunto de objectos extraídos de uma única colecção, a Colecção de Escultura do MNAA, e desta foram eleitas peças com uma proveniência específica, a colecção Vilhena, todas seleccionadas entre espécies conservadas em reserva, assim destinadas à criação de um pólo museológico.
O projecto nasceu em 2004, proposto ao MNAA pela então Direcção Regional de Évora do IPPAR, cujas competências passaram para a Direcção Regional da Cultura do Alentejo e, desde essa data, ficou salvaguardada a responsabilidade técnica e científica do Museu em todas as fases do plano de trabalhos, desde a concepção museológica e programática, passando pelos procedimentos necessários à concretização material da cedência, que incluiu intervenções de conservação e restauro, e pela participação na exposição e na divulgação de conhecimento sobre as esculturas, que resulta desde já neste primeiro catálogo patrocinado pelo IGESPAR.
Desta experiência destacam-se quer o reforço da fronteira institucional entre o sector museológico e o sector do património, quer a participação pluridisciplinar de profissionais com especializações heterogéneas que incluem a arquitectura, a engenharia, a arquitectura museográfica, a conservação e restauro, a gestão patrimonial, a história da arte e a programação cultural.
O Museu Nacional de Arte Antiga contará, portanto, com um novo pólo expositivo inteiramente dedicado à mostra de parte das suas esculturas, em complementaridade programática com a sua própria exposição permanente sedeada em Lisboa, magnificado pela inclusão num monumento com a importância do Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa. A situação geográfica, refuncionalizando a valia histórica de atalaia em região de fronteira, integra-o estrategicamente nas redes do turismo cultural, tal como recomendado nas resoluções das Assembleias Gerais do ICOM em 1998,2000 e 2006, que se afiguram fundamentais para a captação de novos públicos para o núcleo-mãe. A implementação deste conceito em parceria inter-institucional, conquanto sujeita à tutela ministerial comum, incluiu-se, em perspectiva teórica e salvaguardadas as correlativas diferenças de escala, na mais recente tendência internacional dos museus nacionais de referência para a criação de núcleos/pólos em territórios e realidades culturais distintas, como acontece com o Museu Hermitage de São Petersburgo desde 2004 e acontecerá com o Museu do Louvre no emirado do Abu Dhabi». In Maria João V. Carvalho, O Pólo Museológico de Escultura em Pedra, IGESPAR,2008, ISBN 978-989-8052-07-0.

Cortesia de IGESPAR/JDACT