O Pólo Museológico da Flor da Rosa
«A cedência pelo Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) de um grupo de
esculturas em pedra provenientes da colecção do comandante Ernesto de Vilhena
para serem mostradas no Mosteiro da Flor da Rosa em depósito de longa duração,
acordado protocolarmente pelas respectivas instituições de tutela, Instituto
dos Museus e Conservação e IGESPAR, constitui o acervo material de um novo espaço
museológico. Integra-se no projecto global de Conservação Recuperação e
Valorização do Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa, na perspectiva da
melhoria das condições de fruição pública deste espaço monumental e da sua
adaptação a novos usos.
Se os actos de empréstimo de longa duração são práticas correntes entre
os organismos encarregados da salvaguarda e mostra pública do património
nacional, provendo complementaridades cronológicas, temáticas e narrativas, em
Portugal, o programa da Flor da Rosa apresenta algum pioneirismo. O conceito
parte da selecção de um conjunto de objectos extraídos de uma única colecção, a
Colecção de Escultura do MNAA, e desta foram eleitas peças com uma proveniência
específica, a colecção Vilhena, todas seleccionadas entre espécies conservadas
em reserva, assim destinadas à criação de um pólo museológico.
O projecto nasceu em 2004, proposto ao MNAA pela então Direcção Regional
de Évora do IPPAR, cujas competências passaram para a Direcção Regional da
Cultura do Alentejo e, desde essa data, ficou salvaguardada a responsabilidade
técnica e científica do Museu em todas as fases do plano de trabalhos, desde a
concepção museológica e programática, passando pelos procedimentos necessários
à concretização material da cedência, que incluiu intervenções de conservação e
restauro, e pela participação na exposição e na divulgação de conhecimento
sobre as esculturas, que resulta desde já neste primeiro catálogo patrocinado
pelo IGESPAR.
Desta experiência destacam-se quer o reforço da fronteira institucional
entre o sector museológico e o sector do património, quer a participação
pluridisciplinar de profissionais com especializações heterogéneas que incluem
a arquitectura, a engenharia, a arquitectura museográfica, a conservação e restauro,
a gestão patrimonial, a história da arte e a programação cultural.
O Museu Nacional de Arte Antiga contará, portanto, com um novo pólo
expositivo inteiramente dedicado à mostra de parte das suas esculturas, em
complementaridade programática com a sua própria exposição permanente sedeada
em Lisboa, magnificado pela inclusão num monumento com a importância do
Mosteiro de Santa Maria da Flor da Rosa. A situação geográfica,
refuncionalizando a valia histórica de atalaia em região de fronteira,
integra-o estrategicamente nas redes do turismo cultural, tal como recomendado
nas resoluções das Assembleias Gerais do ICOM em 1998,2000 e 2006, que se
afiguram fundamentais para a captação de novos públicos para o núcleo-mãe. A implementação
deste conceito em parceria inter-institucional, conquanto sujeita à tutela
ministerial comum, incluiu-se, em perspectiva teórica e salvaguardadas as
correlativas diferenças de escala, na mais recente tendência internacional dos
museus nacionais de referência para a criação de núcleos/pólos em territórios e
realidades culturais distintas, como acontece com o Museu Hermitage de São Petersburgo
desde 2004 e acontecerá com o Museu do Louvre no emirado do Abu Dhabi». In Maria
João V. Carvalho, O Pólo Museológico de Escultura em Pedra, IGESPAR,2008, ISBN
978-989-8052-07-0.
Cortesia de
IGESPAR/JDACT