“Arquitectura residencial,
neoclássica. Conjugando na sua estrutura espaçosa as instalações hospitalares,
palácio particular e igreja, estabelece assim uma certa correspondência com o
programa construtivo de Mafra”.
Descrição
«Edifício rectangular, desenvolvido em 4 alas de 3 pisos separados por
friso, com alçados monótonos de janelas emolduradas em cantaria, tendo a do 3º
cornija saliente; é centrado por igreja, de planta em cruz latina de topos
arredondados e nave curta precedida por espaçosa galilé, criando assim 2
claustros. Frontespício da igreja com 3 portais de modelo serlliano, sendo os
laterais encimados por inscrições e 3 janelas, tendo a central frontão redondo
e balaustrada; coroamento em frontão triangular com armas no tímpano. Interior
revestido de mármores, com topos da cruz em abóbada de quarto de esfera, sendo
a fronteira sobrepojada por relevo em mármores; altar em pirâmide de caixas e
terminando num "tempietto" no cruzeiro, que é encimado por cúpula com
tambor. Tribuna real sobre galilé, onde se conservam pinturas e outras obras.
Cronologia
- Século XVIII, D. Maria Francisca Benedita pede à irmã, D. Maria I, autorização para fundar hospital; esta concedeu e ofereceu edifício da Luz, mas a Infanta preferia fazer obra completamente sua;
- 1790, compra Quinta de Alcobaça, e mais tarde outras;
- 1792, início da construção do Asilo de Runa, por ordem de D. Maria I, sendo os planos de José da Costa e Silva;
- 1803, início da construção, onde participaram mais de 300 operários;1807, quando a família real foge para o Brasil, grande parte do edifício
estava erguido e, mesmo fora, a princesa enviava dinheiro para o prosseguimento
das obras;
1821, aquando do regresso da família real, estava muito adiantado;
1827, inaugurado pela princesa; dadas grandes despesas com construção (mais de 600 contos), não foi possível deixar grande dotação ao hospital, que tinha de rendimento c. de 8.800$000, mais o valor das jóias legadas pela princesa - 57.281$200;
1830, valor das jóias apropriadas Casa do Infantado, pagando-se então 24.200$800; 1842, pagou-se os 23.060$400 restantes;
1831, hospital com grandes dificuldades de manutenção é integrado no Ministério do Exército;
1834, com abolição dos dízimos perdeu Comenda de Santiago;
1835, transferência do órgão do Convento da Graça em Penafirme;
1965, denominado Lar de Veteranos Militares.
Edifício onde está instalado o Asilo de Inválidos Militares. Com esta
obra, Costa e Silva soube ligar-se à tradição setecentista, mas livrando-a do
amaneiramento empírico em que fatalmente caíra. Releva um neoclassismo frio e
algo monótono, especialmente no edifício, do qual se destaca timidamente a
fachada da igreja, toda em cantaria, com coroamento mais elevado em frontão
triangular e acesso por vão triplo, segundo motivo serlliano. Na sala de
tribuna conservam-se 3 tábuas de "Primitivos Portugueses" e 1 tela de
Stº António e o Menino, assinada por Vieira Lusitano. O palácio da princesa
ocupava a ala S. e O. do edifício que são decoradas em motivos neoclássicas. No
topo do transepto direito órgão portátil, com algumas pinturas e com inscrição
interior: "João da Cunha o fez em / Lxª Novembro em o prº do mes / anno
1745 / pede pelo amo de Dº Hum padre / Nosso e ave maria pela alma / de seu Pay
Phelipe da / Cunha / que também hera da / mesma Arte.
(1746-1829)
jdact
Princesa da Beira e do Brasil, quarta e última filha do rei D. José I e da
rainha D. Mariana Vitória, sua mulher. Nasceu em Lisboa a 25 de Julho de 1746,
sendo baptizada com grande pompa na igreja patriarcal, a 10 do mês de Agosto
seguinte, pelo cardeal matriarca Tomás de Almeida, tendo por padrinho o papa
Benedito XIV, representado pelo infante Pedro, tio da infanta, a qual recebeu
os nomes de Maria Francisca Benedita Ana Isabel Josefa Antónia Lourença Inácia
Teresa Gertrudes Rita Joana Rosa Fal. no paço da Ajuda em 18 de Agosto de 1829.
D. Maria Benedita era muito formosa e inteligente; aprendia com muita facilidade,
tanto as línguas como as ciências e as artes liberais. Falava com toda a
correcção o inglês, espanhol. francês e italiano. O rei José I apreciava muito
a música, e foi ele quem organizou o teatro real no paço da Ribeira, para o
qual mandou vir os melhores cantores de Itália. O célebre maestro napolitano
David Peres foi contratado para vir ensinar as infantas, tornando-se D. Maria
Francisca Benedita a sua discípula mais dedicada. Tinha grande amor e vocação
para a música, amor que sempre conservou, porque já na avançada idade de 80
anos ainda gostava de tocar piano, cantar e recitar poesias».
In Paula Noé, Sistema de Informação para o Património Arquitectónico,
Monumentos, 1991.
Cortesia de Monumentos/JDACT