Manique do Intendente
As Datas e Os Factos
«Alvará que dá notícia
da criação da vila de Manique do Intendente:
- Eu a Rainha… Faço saber que sendo me presente que o Doutor Diogo Ignácio de Pina Manique do Meu Conselho e Fidalgo da Minha Casa, Desembargador do Paço, Intendente Geral da Polícia do Reino, Administrador Geral da Alfandega do Assucar e Feitor Mor das do Reino e Comendador de Santa Maria da Orada e da Ordem de X.º sobre os distintos serviços que lhe tem feito, nos importantes cargos e comições que d’elle tenho confiado e que se tem feito dignos de toda a atenção e remuneração se tem tambem empregado como bom e util vassalo em promover a população e agricultura principalmente no termo de Santarem, onde tem principiado a povoação denominada Alcoentrinho, repartindo habitações e terras a diferentes cazaes de Moradores que com muita despeza, tem convocado e se propoem convocar adiantando o seu zello a querer edificar na mesma Povoação huma decente Igreja Parochial, donde possão receber os Moradores os necessarios secorros da Igreja que a antiga arruinada e fundada em lugar Ermo e improprio não podia comodamente ministrar lhes: Hei por bem em consideração do referido e para que de futuro conste da particular estimação que faço do ditto Desembargador Diogo Ignácio de Pina Manique e de quanto me são agradáveis os seus serviços, fazer lhe muito e honrado da maneira seguinte: Ordeno que a ditta Povoação se denomine daqui em diante Manique do Intendente. Que seja Senhorio do Sollar para elle e para todos os seus descendentes successores da sua Caza intittulandosse e todos Senhores de Manique. Que sejão lemites do Sollar e Senhorio a Freguesia em que está a ditta Povoação. Que esta seja criada Vila, servindo lhe de termo a Freguesia. Llogo que nela houver cento e vinte vezinhos, devendo então haver Juízes e Vereadores aprovados na forma da Ley, pelos Senhores do Sollar: Que da mesma sorte, e com as mesmas naturezas, seja anexo ao sullar (sic) o Padroado da mesma Igreja, e Freguesia; Logo que estiver construída a nova como elle propõem: Havendo Eu por bem ceder para este efeito o Padroado, que tenho na Igreja de S. Pedro de Arrifana que até agora servia, e que se acha em ruina e mal cituada. Pelo que mando a Meza do Meu Dezembargado do Paço que sendo lhe aprezentado este Alvará por mim assinado, registado no Registo geral das Mercês e passado pela Chancelaria Mor da Corte e Reino, lhe fação passar Carta desta Mercê, na qual se transladara este Alvará que se cumprirá inteiramente como nelle se contem pondosse as verbas necessarias a margem do Registo do decreto porque foi expedido. Lisboa, 11 de Julho de 1791 annos. Rainha // Luis de Vasconcelos e Sousa Presidente // Por Decreto de sua Magestade do primeiro de Julho de 1791 José Federico Ludovice a fez escrever e ficou escrita em Lisboa a 23 de Julho de 1791 assina Gerónimo Correia de Moura.
Palácio inacabado de
Manique
Situada a 60 Km a NE de
Lisboa, Manique do Intendente foi fundada num local que se sabe ser ocupado
desde há muito. Contudo, do antigo Alcoentrinho não restam marcas, sendo a maioria
das edificações actuais construídas no século XX, não se descortinando a
morfologia original dessa povoação. Geograficamente a vila está situada num
vale de suave pendente, que segue o curso da Ribeira do Judeu (ou Almoster),
que passa a Sul de Manique, a poucas centenas de metros. Toda a área é de
morfologia pouco acidentada, marcada por vales delineados por linhas de água
integradas no sistema hidrográfico do rio Tejo.
Em 1758, a sede de
freguesia era S. Pedro de Arrifana. Esta tinha, à data, 235 fogos (correspondendo
a 795 pessoas) e a ela pertenciam quatro outros lugares: Alcoentrinho, Póvoa,
Vila Nova e Massuça. Em 1751, Manique tem 405 habitantes (135 fogos), em 1869
tem 873 (291 fogos) e em 1890, 2458 habitantes (615 fogos). No início do século
XX a povoação tem perto de 3 000 habitantes, distribuídos por perto de 800
fogos. Hoje restam uns mil habitantes. Ao tempo do Marquês de Pombal foram
atribuídos foros na área de dependência da localidade, no que era já uma
prática corrente para fixar população e fazer render as terras. O prazo de Alcoentrinho
pertencia à Ordem de Cristo. Esta adjudicou-o ao Reverendo Capelão Fidalgo Dr.
Diogo de Pina Manique. Por ocasião do casamento do futuro Intendente com D.
Ignácia Margarida Umbelina de Brito Nogueira e Matos em 17733, seu tio, Dr.
Diogo de Pina Manique, instituiu em seu favor um morgadio constituído pelo dito
prazo. Em 17914, a Rainha D. Maria concede ao Intendente Pina Manique o
senhorio das terras do mesmo Alcoentrinho, e ordena que à nova povoação se
chame Manique do Intendente (ver transcrição do alvará acima). O Intendente
consegue também obter da Rainha autorização para realizar Feira Franca três
vezes ao ano e mercado todos os Domingos (1792).
Pelourinho
O Intendente Pina Manique
Promotor da construção
de Manique, o Intendente é uma figura contraditória, que ficou para a história
como um homem autoritário, que usou o seu poder com mão férrea, mas que
orientou muitas das suas acções numa perspectiva humanitária. Diogo Inácio de
Pina Manique nasceu a 3 de Outubro de 1733, em Lisboa, e aí faleceu em 1805, no
Palácio onde sempre viveu, no Largo que herdou o seu nome. Ingressou na Ordem de
Cristo em 1756. Estudou na Universidade de Coimbra, onde obteve o grau de
bacharel em 1757 e se formou em Leis no ano seguinte. Pina Manique tornou-se
magistrado decorria o ano de 1761. Homem da confiança do Marquês de Pombal, no
governo do qual iniciou a carreira em cargos secundários, soube escapar à
mudança do poder que provocou a queda do Ministro, e tornar-se um homem forte
no governo de D. Maria I. No decurso da sua carreira acumulou diversos cargos
de importância: foi Juiz do Crime nos Bairros do Castelo e Alfama, em Lisboa,
Superintendente-geral de Contrabandos e Descaminhos, Desembargador da Relação
do Porto, Desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação (1771), Intendente geral
da Polícia (1780), Contador da Fazenda, Fiscal da Junta de Administração de Pernambuco
e Paraíba (1778), Administrador-geral da Alfândega do Açúcar, Provedor e Feitor-Mor
das Alfândegas do Reino (1781), Desembargador do Paço (1786) e Chanceler-Mor do
Reino (1803). A sua carreira acaba em 1803 quando, por desentendimentos com o Embaixador
francês Lannes, que acusou de contrabando, foi forçado a demitir-se. Para a sua
queda em desgraça não terão sido alheias as circunstâncias decorrentes da
entrega da regência a D. João VI, junto do qual não granjeava grandes simpatias
e a sua aguerrida perseguição aos liberais e à maçonaria, que tinham simpatizantes
nos ministérios». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da
FCTUC, Junho de 2004.
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