Acção diplomática após a conquista de Ceuta
«Os embaixadores
portugueses, após a conquista de Ceuta, propuseram uma aliança a Aragão e
Castela, com vista à libertação da península, o que colidia com os interesses
daqueles países, como se sabia em Portugal, mas os obrigaria a não elevarem
demasiado o seu protesto após a conquista de Ceuta. No ‘Concílio de Constança’,
que pretendia pôr termo ao ‘Cisma do Ocidente’, tentou-se de novo a aliança dos
Estados cristãos peninsulares para a conquista de Granada, e, em 1416, na
segunda reunião conciliar, insistiu-se de novo. Mas deparou-se a Portugal a recusa
firme de Castela e de Aragão, cujos interesses se começavam a confundir. Ao
Concílio assistiram dois frades da Ordem de S. Antão da Etiópia, Pedro e Bartolomeu,
e decerto os contactos estabelecidos interessaram os Portugueses que, no
regresso, teriam relatado aos infantes as notícias da África Oriental que puderam
colher. Animados ao prosseguimento da empresa, alcançaram de João I que
solicitasse às Cortes, reunidas em Santarém, os meios financeiros para um novo
empreendimento: a conquista de Tânger.
Entretanto os
embaixadores de Portugal conseguiam que fosse erecta a diocese de Ceuta e a
concessão de outra bula: “Decens esse
videtur” que dava aos cristãos que desejassem participar na defesa de Ceuta
contra os mouros a possibilidade de comprar armas nas partes da Cristandade e
levá-las livremente por terra e por mar, o que representava um incitamento aos
fiéis de todo o mundo para prosseguirem na reconquista.
Outra bula, “In apostolice dignitatis specula”, investiu
o infante Henrique no cargo de Administrador-Geral da Ordem da Milícia de Nosso
Senhor Jesus Cristo. Competia-lhe prover às despesas com a guarda e defesa de
Ceuta e aplicar os rendimentos em benefício da expansão da Fé. Pensara-se,
dando cunho religioso à conquista de Ceuta e atribuindo as responsabilidades da
sua administração a uma Ordem Militar, reduzir as preocupações dos Castelhanos,
se não anular a sua oposição, atendendo aos direitos a que se arrogara o rei de
Castela sobre o reino de Fez, como sucessor do império visigótico.
Na ratificação, de 30 de
Abril de 1423, do tratado de paz luso-castelhano, em que se prolongavam as
tréguas por 29 anos, nova vitória alcançava Portugal, pois conseguia-se que
João II de Castela declarasse abrangida na sua ratificação a cidade de Ceuta, e
autorizasse a travessia dos portugueses, pelo seu reino, para aquela cidade.
Era o reconhecimento da soberania portuguesa sobre Ceuta.
Prelúdio da conquista de Tânger
Em 1428 celebrou-se o
contrato de casamento do monarca Duarte I com a infanta aragonesa D. Leonor,
autêntico tratado entre os dois países, visando os seus inimigos externos. O
rei de Aragão, por essa altura, recebeu na sua Corte uma embaixada etíope, e
resolveu mandar àquele país Pedro de Bónia, a propor o casamento do infante Pedro
com uma princesa etíope, devendo D. Joana casar com o imperador e celebrando-se
uma aliança entre a Etiópia e Aragão, contra os Turcos.
Por essa época se
consorciou o nosso infante Pedro, que andava viajando pela Europa, com uma
filha do conde de Urgel e serviram de intermediários os embaixadores de
Portugal, nas tréguas castelhano-aragonesas, de 1430». In Manuel Fernandes Costa, As
Navegações Atlânticas no Século XV, Biblioteca Breve, volume 30, Instituto de
Cultura Portuguesa, CCV Camões, Instituto Camões, Oficinas Gráficas da Livraria
Bertrand, 1979.
Cortesia de Instituto
Camões/JDACT