sábado, 13 de outubro de 2012

Guimarães. Barroso da Fonte. As Duas Cabeças: «O que nos levava ao Norte de África? Era a busca do trigo, a expansão da Fé, o dar ocupação e terras à nobreza, a tentativa de cortar as rotas sarianas do ouro e dos produtos da África de além-deserto, conseguir bases de apoio para os barcos na sua descida pela costa africana»


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«Depois desta interpretação explicativa vem a tradução do latim para o português que diz o seguinte:

No dia seguinte, porém, sábado, festa de S. Bartolomeu, 24 do mesmo mês de Agosto, antes do nascer do sol, exortando o rei aos homens de armas, uns pelas recentes brechas do muro, outros encostando escadas à vista (do inimigo), entram com sumo ímpeto a cidade, onde também se travou uma luta acérrima e houve grande mortandade nos que já combatiam a pé quedo.
Depois a maior parte dos mouros refugiam-se tumultuariamente no fortificadíssimo castelo, onde, assim como era mais difícil a entrada, assim também foi maior o perigo e maior a mortandade que se seguiu. Prolongou-se até o meio-dia por toda a parte, um combate atroz, qual o costuma ser entre vencedores cheios de ira e vencidos desesperados. De mouros de ambos os sexos que sobreviveram ao grande morticínio e de riquezas fez-se maior presa do que era de supor, em vista do tamanho da cidade. É que era o principal empório desta região. O liberalíssimo rei deu todos os despojos aos soldados’.


Até há poucas décadas atrás, nas escolas primárias, havia mapas de Portugal de Aquém e Além-Mar. E os reis do tempo chamavam-se ‘Senhores dos Algarves de aquém e além-mar em África’, querendo com esse designativo dizer que o norte de África era português.
Pinto Garcia, director de ‘Notícias Magazine’, acompanhou, em Novembro de 1993, um grupo de Amigos dos Castelos que visitaram as fortalezas de Marrocos que foram fundadas pelos portugueses. Do que viu e ouviu fez uma reportagem:

O que nos levava ao Norte de África? Era a busca do trigo, a expansão da Fé, o dar ocupação e terras à nobreza, a tentativa de cortar as rotas sarianas do ouro e dos produtos da África de além-deserto, mesmo conseguir bases de apoio para os barcos portugueses na sua descida pela costa africana. Na época existia a ideia de que Marrocos era um grande celeiro. Parte da dieta alimentar estaria assim resolvida. Mas a conquista de Ceuta foi uma ilusão. De 1418 a 1421, os portugueses de cercadores passaram a cercados. Com o desenrolar dos acontecimentos foi fácil de verificar que o potencial militar português não tinha força por terra. Regista-se então uma alteração estratégica: passamos a utilizar a via marítima.
Em 1458, após várias discussões na Corte, a ofensiva africana seguia em frente: em 23 de Outubro de 1458, Afonso V toma Alcácer Ceguer aos mouros. Situada a meio caminho entre Tânger e Ceuta, Alcácer Ceguer será portuguesa durante 102 anos, mas a sua importância foi sendo cada vez menor por culpa da capacidade inimiga. Continua».

In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT