«A existência duma igreja nacional seria um passo importante para
alcançar a independência. O espírito autonomista de Henrique causou-lhe
dissabores com o sogro. Afastado do condado portucalense chegou a estar ao
serviço de Afonso I de Aragão. Durante o período da sua ausência os almorávidas
atacaram a linha do Tejo. Em 1111 conquistam Santarém, o que obriga o conde Henrique
a retornar a Portugal. Provavelmente morre no ano seguinte quando se encontrava
em Astorga. Em 1112 D. Teresa herda o condado, vendo-se obrigada em função da
correlação de forças a seguir o partido da irmã D. Urraca, que entretanto se
desentendera com o marido Afonso I de Aragão.
O ano de 1116 chega a ser crítico na medida em que o condado
portucalense se vê ameaçado ao norte pelos ataques das forças galegas e ao sul
pelas dos almorávidas. O partido de Afonso Raimundes, mais tarde Afonso VII, vêm
a ter uma grande influência sobre D. Teresa através dos rico-homens liderados
por Fernão Peres de Trava. Em oposição a estes os infanções aglutinam-se em
torno de Paio Mendes, arcebispo de Braga, que se sente prejudicado com a
hegemonia de Santiago.
À volta de Afonso Henriques, ao que se julga nascido em Coimbra à roda de
1111, situa-se o arcebispo de Braga que acompanha a Zamora o jovem príncipe
(1125), o qual arma-se cavaleiro pelas suas próprias mãos numa atitude de
profundo simbolismo. O triunfo da causa de Afonso Henriques dá-se em S. Mamede
(1128) e tem como consequência o afastamento dos Travas. Na sequência de S.
Mamede aceitam-se tacitamente os direitos de Afonso Henriques, reacendendo-se a
guerra com Castela após a morte de D. Teresa em 1130. Depois duma série de
conflitos militares com Afonso VII firma-se em 1135 uma trégua por dois anos,
cujo corolário lógico, após a sua interrupção, resulta no tratado de Tui (1137),
através do qual Afonso Henriques se compromete a auxiliar militarmente o primo
sempre que necessário. Desenha-se agora uma frente comum contra os almorávidas
que provoca uma acção concertada com Afonso VII em Orela e Afonso Henriques em Ourique (1139).
O triunfo de Ourique permite a Afonso Henriques passar a usar o título
de rei, que significa sobretudo uma elevação da dignidade real.
Na sequência de novos conflitos entre ambos os primos seguem-se as tréguas de Valdevez, que abrem o
caminho para uma paz duradoura celebrada
em Zamora (1143) com a presença do legado pontifício Guido de Vico.
O rei português através da carta Claves Regni coloca a terra portucalense
sob a tutela de Roma e compromete-se a pagar anualmente quatro onças de ouro.
Substituía deste modo a suzerania de Afonso VII pela de Inocêncio II. Contudo a
morte do papa fez gorar o desiderato na medida em que o sucessor de Inocêncio
II, o novo papa Lúcio II temendo uma reacção de Afonso VII através da letra Devotionem
tuam (1144) furta-se ao compromisso e trata o monarca português por dux.
A par das constantes negociações diplomáticas, conduzidas sobretudo
pelo arcebispo de Braga João Peculiar, assiste-se a uma intensa ofensiva
militar que tem como finalidade estender o domínio português até à linha do Tejo.
Esta iniciativa ocorre em 1147 com a tomada de Santarém num ataque de surpresa,
a que se segue o cerco do castelo de Lisboa, no qual Afonso Henriques por
iniciativa do bispo portuense Pedro
Pitões obteve o auxílio dos cruzados que se dirigiam para a Palestina.
Seguidamente procede-se à ocupação dos castelos de Sintra, Almada e Palmela que
se entregam sem luta.
A ofensiva militar sofre uma paragem após uma tentativa condenada ao insucesso
para ocupar o castelo de Alcácer. Assiste-se de imediato a um interregno nas
operações bélicas que poder-se-á explicar pela dificuldade em definir a linha
da fronteira transtagana que separava Portugal de Castela e Leão». In Humberto
C. Baquero Moreno, Evolução Política, Nos Confins da Idade Média. Arte
Portuguesa. Séculos XII-XV, Instituto Português dos Museus, Porto.1992.
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