sábado, 5 de janeiro de 2013

Nos Confins da Idade Média. Arte Portuguesa. Séculos XII-XV. Evolução Política. Humberto Moreno. «O rei português através da carta “Claves Regni” coloca a terra portucalense sob a tutela de Roma e compromete-se a pagar anualmente quatro onças de ouro»

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«A existência duma igreja nacional seria um passo importante para alcançar a independência. O espírito autonomista de Henrique causou-lhe dissabores com o sogro. Afastado do condado portucalense chegou a estar ao serviço de Afonso I de Aragão. Durante o período da sua ausência os almorávidas atacaram a linha do Tejo. Em 1111 conquistam Santarém, o que obriga o conde Henrique a retornar a Portugal. Provavelmente morre no ano seguinte quando se encontrava em Astorga. Em 1112 D. Teresa herda o condado, vendo-se obrigada em função da correlação de forças a seguir o partido da irmã D. Urraca, que entretanto se desentendera com o marido Afonso I de Aragão.
O ano de 1116 chega a ser crítico na medida em que o condado portucalense se vê ameaçado ao norte pelos ataques das forças galegas e ao sul pelas dos almorávidas. O partido de Afonso Raimundes, mais tarde Afonso VII, vêm a ter uma grande influência sobre D. Teresa através dos rico-homens liderados por Fernão Peres de Trava. Em oposição a estes os infanções aglutinam-se em torno de Paio Mendes, arcebispo de Braga, que se sente prejudicado com a hegemonia de Santiago.
À volta de Afonso Henriques, ao que se julga nascido em Coimbra à roda de 1111, situa-se o arcebispo de Braga que acompanha a Zamora o jovem príncipe (1125), o qual arma-se cavaleiro pelas suas próprias mãos numa atitude de profundo simbolismo. O triunfo da causa de Afonso Henriques dá-se em S. Mamede (1128) e tem como consequência o afastamento dos Travas. Na sequência de S. Mamede aceitam-se tacitamente os direitos de Afonso Henriques, reacendendo-se a guerra com Castela após a morte de D. Teresa em 1130. Depois duma série de conflitos militares com Afonso VII firma-se em 1135 uma trégua por dois anos, cujo corolário lógico, após a sua interrupção, resulta no tratado de Tui (1137), através do qual Afonso Henriques se compromete a auxiliar militarmente o primo sempre que necessário. Desenha-se agora uma frente comum contra os almorávidas que provoca uma acção concertada com Afonso VII em Orela e Afonso Henriques em Ourique (1139).
O triunfo de Ourique permite a Afonso Henriques passar a usar o título de rei, que significa sobretudo uma elevação da dignidade real.
Na sequência de novos conflitos entre ambos os primos seguem-se as tréguas de Valdevez, que abrem o caminho para uma paz duradoura celebrada em Zamora (1143) com a presença do legado pontifício Guido de Vico. O rei português através da carta Claves Regni coloca a terra portucalense sob a tutela de Roma e compromete-se a pagar anualmente quatro onças de ouro. Substituía deste modo a suzerania de Afonso VII pela de Inocêncio II. Contudo a morte do papa fez gorar o desiderato na medida em que o sucessor de Inocêncio II, o novo papa Lúcio II temendo uma reacção de Afonso VII através da letra Devotionem tuam (1144) furta-se ao compromisso e trata o monarca português por dux.
A par das constantes negociações diplomáticas, conduzidas sobretudo pelo arcebispo de Braga João Peculiar, assiste-se a uma intensa ofensiva militar que tem como finalidade estender o domínio português até à linha do Tejo. Esta iniciativa ocorre em 1147 com a tomada de Santarém num ataque de surpresa, a que se segue o cerco do castelo de Lisboa, no qual Afonso Henriques por iniciativa do bispo portuense Pedro Pitões obteve o auxílio dos cruzados que se dirigiam para a Palestina. Seguidamente procede-se à ocupação dos castelos de Sintra, Almada e Palmela que se entregam sem luta.
A ofensiva militar sofre uma paragem após uma tentativa condenada ao insucesso para ocupar o castelo de Alcácer. Assiste-se de imediato a um interregno nas operações bélicas que poder-se-á explicar pela dificuldade em definir a linha da fronteira transtagana que separava Portugal de Castela e Leão». In Humberto C. Baquero Moreno, Evolução Política, Nos Confins da Idade Média. Arte Portuguesa. Séculos XII-XV, Instituto Português dos Museus, Porto.1992. 


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