domingo, 27 de janeiro de 2013

Devisme, Monserrate e o Romantismo. José Augusto França. «Vem então Beckford, que acrescenta um comentário perfectly true à carta, e este perfeitamente verdade que também indica que a casa não tinha grande interesse. DeVisme manteve-se em Monserrate entre 1790 e 1794. Além da casa, fez melhorias na propriedade, que murou e na qual pôs portões»


jdact e cortesia de wikipedia

(Continuação)

Devisme, Monserrate e o Romantismo
Se sabemos algo de Monserrate e muito do Romantismo, sobre Devisme pouco se sabe.

«Quanto à casa, quanto a Monserrate, podemos dizer que as terras pertenciam ao Hospital Real de Todos os Santos, que elas foram parar, parte delas, às mãos da família Mello e Castro, mais tarde Nova Goa (condes), e foi a ela que o negociante Devisme de Lisboa, trazido aqui sabe-se lá porquê ou por quem, talvez por um outro negociante de Lisboa, também cônsul da Holanda, Daniel Guilmeester, que está ligado a uma outra casa perto daqui, Seteais, e que, beneficiário do contrato do monopólio de diamantes e fazendo parte da pequena elite da economia pombalina, manteria com ele relações próximas e foi certamente ele que mostrou então a Devisme a bela serra de Sintra. A verdade é que ele veio, quis comprar as terras, os Castros não venderam mas arrendaram, deixando construir. Sabe-se que o terramoto de 1755 causou grandes estragos na propriedade, pelo que havia naturalmente por ali casas, casas em ruínas que ele fez reconstruir no sítio onde estavam.
Aqui entra uma outra informação, dada por Lady Carven, que diz que ele está building em a full situation - o que nos dá a certeza da construção, podendo entender-se o full situation como beautiful, logo uma alusão à situação ecológica privilegiada em que o faz, à implantação, à paisagem – um casa vilmente planeada, (vile planned house), uma alusão esta negativa, pejorativa, em relação ao que estava projectado. Vem então Beckford, que acrescenta um comentário perfectly true à carta, e este perfeitamente
verdade que também indica que a casa não tinha grande interesse.
DeVisme manteve-se em Monserrate entre 1790 e 1794. Além da casa, fez melhorias na propriedade, que murou e na qual pôs portões, atendendo a que se encontraria antes toda aberta. Em 1794 sub-aluga a propriedade a Beckford, aluguer que tem direito a referência no relato das viagem de William Beckford em Portugal, e que corresponde à sua segunda estada, em 1793-95, mais brilhante e proveitosa para ele porque finalmente apresentado na Corte, livrado já da má fama que o acompanhava e da oposição do Embaixador da Inglaterra, Walpole. Esse aluguer faz-se depois da sua visita, consagrada num texto famoso, a Alcobaça e a Santa Maria da Vitória na Batalha, concretizando assim, nas suas palavras, an old desire. Quando finalmente Devisme lhe sub-alugou, o que faz ele? Tentou mais uma vez comprar a casa aos Castro, que mais uma vez a recusaram. Beckford resolve então fazer obras e destrói a casa que lá havia para construir uma outra para lhe servir de residência. Isso é de resto confirmado também pela correspondência com Lady Carven, com a referência I Knocked down; de resto há ainda uma outra em que diz I built it, Eu construi-a. É a essa casa de Beckford que Lord Byron se pode referir, e que conheceu na visita que lhe fez, atendendo a que eram amigos.
Beckford faz uma referência misteriosa a um carpinteiro de Falmouth, a sua casa em Inglaterra (não confundir com a enorme Fonthill), a terra de onde ele próprio vinha, o que tira certa nobreza arquitectónica, que não valor profissional, à casa que ele acabou de fazer, construída sobre a de Devisme, e que é a mesma casa que mais tarde o primeiro Cook embelezaria, fazendo o edifício de gosto mogol que ainda hoje apreciamos, e que passou à imagem a Sintra com Monserrate.


Essa casa anterior, da qual temos referências através de Lady Carven e do próprio Beckford, existiu mesmo e temos uma prova da sua existência num desenho e numa planta dela, um documento precioso, que me foi cedido na altura em que estava a trabalhar sobre o século XIX, sobre Sintra portanto, e muito à última hora, porque já tinha os elementos prontos para publicação. Joaquim Couto Tavares, conservador do palácio da Pena nos anos 60 do século XX, trouxe-me então um desenho da sua colecção particular, que mostra a planta do Palácio e que eu fotografei a tempo de publicar na minha obra A Arte em Portugal no século XIX. Tenho esta precisão porque esta fotografia substituiu uma outra que já estava alinhada na produção do livro». In José Augusto França, Wikipédia.

continua
Cortesia de Wikipédia/JDACT