«(…) O governo e o seu ministro da Defesa preparavam-se assim para
tomar conta das forças armadas, restaurarem uma hierarquia militar fascista
para utilizarem depois as forças armadas para esmagar a resistência popular. Vivemos
assim no mês de Dezembro último um
momento de extraordinário perigo. Mas finalmente a grandiosa luta dos
trabalhadores e das massas populares impediu que se concretizasse esse sinistro
objectivo da reacção. O governo reaccionário foi demitido em Janeiro. O
ministro da Defesa (que era também vice-primeiro-ministro e presidente do
partido de extrema-direita) renunciou a todos os seus cargos públicos. A
Assembleia foi dissolvida em Fevereiro. Eleições gerais antecipadas terão lugar
no próximo mês de Abril. Estes acontecimentos representam uma grande derrota da
reacção e uma grande vitória do nosso povo. É nesta situação que
presentemente nos encontramos. A democracia portuguesa e as conquistas da
Revolução correm ainda sérios perigos. Mas a Revolução portuguesa não está
morta. Está viva e bem viva na luta
constante do nosso povo em defesa das conquistas revolucionárias.
Está viva e bem viva no elevado grau de organização, de consciência de
classe e de combatividade da classe operária, dos camponeses, das mulheres, dos
jovens, dos intelectuais. Está viva e bem viva na força, influência crescente e
autoridade do nosso partido. Desde a Revolução de 25 de Abril, mesmo nos
momentos mais difíceis e perigosos, temos reforçado incessantemente as nossas
fileiras. No primeiro recenseamento depois da legalização do partido tínhamos 15
000 membros. Actualmente temos 190 000, além de 30 000 jovens comunistas. Temos
confiança no nosso partido, cujas raízes profundas estão solidamente assentes
na classe trabalhadora e nas massas populares. E porque temos confiança no povo
português, estamos certos de que a Revolução portuguesa alcançará a vitória
final. As terras roubadas pela força armada às cooperativas e entregues de novo
aos grandes latifundiários voltarão para as mãos dos trabalhadores e
camponeses.
As empresas entregues de novo aos grandes capitalistas voltarão para a
legítima posse do Estado. Os direitos e liberdades violados e espezinhados
pelos governos reaccionários nos últimos anos serão assegurados. Temos profunda
confiança em que a reacção será totalmente derrotada, a democracia portuguesa e
as suas conquistas serão defendidas, Portugal retomará o caminho aberto pela Revolução
de Abril e o socialismo acabará também por triunfar na nossa pátria. Na nossa
luta não estamos sós. Contamos com o apoio e a solidariedade internacional. E
entre esse apoio e solidariedade internacional contamos com o apoio e a
solidariedade da Etiópia socialista, da COPTE, do povo da Etiópia. Foi com
profunda emoção que em toda esta nossa visita, nas conversações com os vossos
dirigentes e militantes nacionais e regionais, nas visitas às vossas cooperativas,
recebemos constantes provas de apoio e solidariedade e fomos sempre recebidos e
tratados como irmãos.
Irmãos de luta, irmãos no ideal, irmãos na solidariedade recíproca. Nós
transmitiremos ao nosso partido e ao nosso povo tudo o que vimos, conhecemos e
aprendemos na Etiópia. Guardaremos uma lembrança imorredoura dos vossos dirigentes,
dos vossos militantes, dos vossos camponeses. Nunca esqueceremos a determinação
e a confiança revolucionária que nos foi expressa por todos aqueles com quem
tivemos a felicidade de nos encontrar. E as mãos firmes que apertámos. E a
felicidade que tivemos de beijar as vossas crianças, que, elas, podem estar seguras
de virem a ser mulheres e homens livres e felizes numa Etiópia socialista. Também
o povo etíope, a revolução etíope (que o nosso partido apoiou desde os
primeiros dias), podem contar no futuro, em todas as circunstâncias, com o
apoio e a solidariedade fraternal dos comunistas portugueses». ». In Álvaro
Cunhal, Discursos Políticos, 19, Falência da Política de Direita do PS
(1983-1985), Edições Avante!, Lisboa, 1988.
Cortesia de Avante!/JDACT