terça-feira, 5 de novembro de 2013

Centenário de Nascimento. Discursos Políticos. Falência da Política de Direita do PS (1983-1985). Álvaro Cunhal. «Os direitos e liberdades violados e espezinhados pelos governos reaccionários nos últimos anos serão assegurados. Confiança em que a reacção será derrotada, a “democracia portuguesa” e as suas “conquistas” serão defendidas»

Cortesia de alvarocunhal e jdact

«(…) O governo e o seu ministro da Defesa preparavam-se assim para tomar conta das forças armadas, restaurarem uma hierarquia militar fascista para utilizarem depois as forças armadas para esmagar a resistência popular. Vivemos assim no mês de Dezembro último um momento de extraordinário perigo. Mas finalmente a grandiosa luta dos trabalhadores e das massas populares impediu que se concretizasse esse sinistro objectivo da reacção. O governo reaccionário foi demitido em Janeiro. O ministro da Defesa (que era também vice-primeiro-ministro e presidente do partido de extrema-direita) renunciou a todos os seus cargos públicos. A Assembleia foi dissolvida em Fevereiro. Eleições gerais antecipadas terão lugar no próximo mês de Abril. Estes acontecimentos representam uma grande derrota da reacção e uma grande vitória do nosso povo. É nesta situação que presentemente nos encontramos. A democracia portuguesa e as conquistas da Revolução correm ainda sérios perigos. Mas a Revolução portuguesa não está morta. Está viva e bem viva na luta constante do nosso povo em defesa das conquistas revolucionárias.
Está viva e bem viva no elevado grau de organização, de consciência de classe e de combatividade da classe operária, dos camponeses, das mulheres, dos jovens, dos intelectuais. Está viva e bem viva na força, influência crescente e autoridade do nosso partido. Desde a Revolução de 25 de Abril, mesmo nos momentos mais difíceis e perigosos, temos reforçado incessantemente as nossas fileiras. No primeiro recenseamento depois da legalização do partido tínhamos 15 000 membros. Actualmente temos 190 000, além de 30 000 jovens comunistas. Temos confiança no nosso partido, cujas raízes profundas estão solidamente assentes na classe trabalhadora e nas massas populares. E porque temos confiança no povo português, estamos certos de que a Revolução portuguesa alcançará a vitória final. As terras roubadas pela força armada às cooperativas e entregues de novo aos grandes latifundiários voltarão para as mãos dos trabalhadores e camponeses.
As empresas entregues de novo aos grandes capitalistas voltarão para a legítima posse do Estado. Os direitos e liberdades violados e espezinhados pelos governos reaccionários nos últimos anos serão assegurados. Temos profunda confiança em que a reacção será totalmente derrotada, a democracia portuguesa e as suas conquistas serão defendidas, Portugal retomará o caminho aberto pela Revolução de Abril e o socialismo acabará também por triunfar na nossa pátria. Na nossa luta não estamos sós. Contamos com o apoio e a solidariedade internacional. E entre esse apoio e solidariedade internacional contamos com o apoio e a solidariedade da Etiópia socialista, da COPTE, do povo da Etiópia. Foi com profunda emoção que em toda esta nossa visita, nas conversações com os vossos dirigentes e militantes nacionais e regionais, nas visitas às vossas cooperativas, recebemos constantes provas de apoio e solidariedade e fomos sempre recebidos e tratados como irmãos.
Irmãos de luta, irmãos no ideal, irmãos na solidariedade recíproca. Nós transmitiremos ao nosso partido e ao nosso povo tudo o que vimos, conhecemos e aprendemos na Etiópia. Guardaremos uma lembrança imorredoura dos vossos dirigentes, dos vossos militantes, dos vossos camponeses. Nunca esqueceremos a determinação e a confiança revolucionária que nos foi expressa por todos aqueles com quem tivemos a felicidade de nos encontrar. E as mãos firmes que apertámos. E a felicidade que tivemos de beijar as vossas crianças, que, elas, podem estar seguras de virem a ser mulheres e homens livres e felizes numa Etiópia socialista. Também o povo etíope, a revolução etíope (que o nosso partido apoiou desde os primeiros dias), podem contar no futuro, em todas as circunstâncias, com o apoio e a solidariedade fraternal dos comunistas portugueses». ». In Álvaro Cunhal, Discursos Políticos, 19, Falência da Política de Direita do PS (1983-1985), Edições Avante!, Lisboa, 1988.

Cortesia de Avante!/JDACT