Linhagem dos Reis
«(…) O menino, Aminadab
(nascido em 1394 a.C.), foi devidamente educado na região a leste do
delta pelos sacerdotes egípcios de Rá. Depois, na adolescência, ele foi viver
em Tebas. Naquela época, sua mãe tinha adquirido mais influência do que a
rainha mais velha, Sitamun, que nunca tivera um filho e herdeiro do faraó, só
uma filha chamada Nefertite. Em Tebas, Aminadab não aceitava as divindades egípcias
com sua miríade de ídolos; e assim ele introduziu a noção de Áton, um deus omnipotente
que não tinha imagem. Áton era, portanto, equivalente ao Adon dos hebreus (um
título emprestado da língua fenícia e que significa Senhor), de acordo com os ensinamentos israelitas. Naquela
época, Aminadab (o equivalente hebraico de Amenhotep: Amon está alegre) mudou o nome para Akhenáton, que significa Servo de Aton. O faraó Amenhotep passou
por um período com problemas de saúde e, como não havia um herdeiro homem directo
da casa real, Akhenaton desposou sua meio-irmã Nefertite para ser co-regente
durante o conturbado período. No devido tempo, porém, quando Amenhotep III
morreu, Akhenaton pôde ascender ao trono como faraó, ganhando o título oficial
de Amenhotep IV. Ele e Nefertite tiveram seis filhas e um filho, chamado
Tutankháton.
O faraó Akhenaton fechou
todos os templos dos deuses egípcios e construiu novos templos a Aton. Ele
também administrava uma casa distintamente doméstica, muito diferente da norma
real no antigo Egipto. Ele se tomou impopular em muitas frentes,
particularmente entre os sacerdotes da antiga divindade nacional, Amon (ou
Amen) e do deus sol Rá (ou Re), o que resultou na proliferação de
intrigas contra a sua vida. As ameaças de insurreição armada eram fortes, se
ele não deixasse que os deuses tradicionais fossem venerados junto ao deus
sem rosto, Áton. Mas Akhenaton recusou, e acabou sendo forçado a abdicar em
favor de seu primo Smencare, que foi sucedido pelo filho de Akhenaton,
Tutankhaton. Quando assumiu o trono aos 11 anos de idade, porém,
Tutankhaton foi obrigado a mudar o nome para Tutankhamon, mas só viveu
nove ou dez anos, morrendo ainda muito jovem.
Akhenaton, enquanto
isso, foi banido do Egipto. Ele fugiu com alguns seguidores para a remota segurança
de Sinai, levando seu cetro real, encimado por uma serpente de bronze. Para os
seus partidários, ele continuava sendo o monarca por direito (o herdeiro ao
trono que lhe fora usurpado) e ainda era considerado por eles o Mose,
Meses ou Mosis, que significa herdeiro
ou nascido de, como no nome Tuthmosis
(nascido da Verdade) e Ramsés (modelado por Rá). Evidências do
Egipto indicam que Moisés (Akhenáton) conduziu seu povo de Pi-Ramsés (perto
da moderna Kantra) para o sul, através do Sinai, e na direcção do lago
Timash. Era um território extremamente pantanoso e, apesar de passável a pé
com certa dificuldade, qualquer cavalo ou carroça em perseguição cairia
desastrosamente. Entre os seguidores de Moisés estavam as famílias de
Jacó-Israel: os israelitas. E, com a inspiração de seu líder, eles construíram
o Tabernáculo e a Arca da Aliança no sopé do monte Sinai. Quando Moisés morreu,
eles começaram a invadir a região abandonada por seus antepassados muito tempo atrás,
mas Canaã (Palestina) tinha mudado consideravelmente nesse meio tempo,
tendo sido infiltrada por ondas de filisteus e fenícios. Os registos falam de
grandes batalhas marítimas e de poderosos exércitos marchando para a guerra.
Finalmente, os israelitas (sob seu novo líder, Josué) tiveram sucesso e,
após atravessar o Jordão, tomaram Jericó dos cananeus, garantindo uma posição
segura em sua tradicional Terra Prometida.
Após a morte de Josué, o
período de governo nas mãos de Juízes nomeados foi um rol de desastres, até que
as tribos hebraicas e israelitas se uniram sob o primeiro rei, Saul,
por volta de 1048 a.C.. Futuramente, porém, com a conquista de Canaã mais
completa possível, David de Belém se casou com a filha de Saul e se tomou rei
de Judá (correspondente à metade do território palestino) por volta de 1008
a.C.. Subsequentemente, ele também adquiriu Israel (o equilíbrio do
território) para se tomar rei geral dos judeus.
No Princípio Javé e a Deusa
Além das explorações
militares dos israelitas, os compiladores do Antigo Testamento descreveram a evolução
da fé judaica desde os tempos de Abraão. Não é a história de uma nação
unificada devotada ao Deus Javé, e sim de uma seita tenaz que, a despeito de
todas as dificuldades, esforçou-se para instituir a religião dominante de
Israel. Na opinião deles, Javé era do sexo masculino, mas esse era um conceito
sectário que originou muitos e graves problemas. No cenário mais amplo
contemporâneo, entendia-se geralmente que a criação da vida deveria emanar tanto
de uma fonte masculina como de uma feminina. Outras religiões, no Egipto,
na Mesopotâmia e em outros lugares, tinham divindades de ambos os sexos.
O deus masculino primário costumava ser associado ao sol ou ao céu, enquanto a
divindade feminina primária tinha raízes na terra, no mar e na fertilidade. O
sol dá sua força a terra e às águas, de onde surge a vida; uma interpretação
muito natural e lógica.
Em relação a essas ideias
teístas, um dos personagens mais flexíveis mencionados nos textos bíblicos é o
filho do rei David, Salomão, célebre não só pela magnificência e esplendor de
seu reino, mas por sua sabedoria. Muito tempo depois, o legado de Salomão seria
crucial para a emergente cultura do Graal, pois ele foi o verdadeiro defensor
da tolerância religiosa. Salomão foi rei séculos antes do período do cativeiro
dos israelitas na Babilônia, e era uma parte importante do velho cenário. Na
era de Salomão, Javé tinha considerável importância, mas outros deuses também
eram reconhecidos. Era uma época espiritualmente incerta, na qual, não raro, as
pessoas apostavam em deidades alternativas. Afinal de contas, com tal pletora
de diferentes deuses e deusas sendo homenageados na região, seria falta de
visão depreciar todos, excepto um, pois quem podia afirmar que os devotos hebreus estavam certos? Nesse
sentido, a renomada sabedoria de Salomão era baseada no bom senso. Embora
venerasse Javé, o Deus da seita de uma minoria, ele não tinha motivo para negar
aos súditos o deus deles. Ele próprio não abriu mão de suas crenças nas forças
da natureza, independentemente de quem ou o que as liderasse.
A veneração da divindade
feminina primária era muito comum e popular em Canaã, onde ela assumia a forma
da deusa Astorete. Ela correspondia a Ishtar, a principal deusa dos babilónios.
Como Inana, seu templo sumério ficava em Uruk (Ereque na Bíblia, actualmente
Warka) no sul da Mesopotâmia, enquanto na Síria e Fenícia, regiões
próximas, ela seria chamada de Astarte, segundo os antigos gregos. O Santo dos
Santos (Santuário interior) do Templo de Salomão supostamente
representaria o ventre de Astorete (ou Asera, mencionada várias vezes no
Antigo Testamento). Astorete era venerada abertamente pelos israelitas até
o século VI a.C. Como senhora Asera, ela era esposa superior de EI, suprema
divindade masculina, e juntos eles formavam o casal divino. Sua filha era Anat,
rainha dos Céus, e seu filho, o rei dos Céus, era chamado He. Com o passar do
tempo, os personagens separados de EI e He se fundiram para se tornarem Javé. Asera e Anat se tornaram
uma, convertendo-se na consorte de Javé, conhecida como a Sekiná ou Matronit». In
Laurence Gardner, A Linhagem do Santo Graal, A verdadeira história de Maria
Madalena e Jesus Cristo, Madras Editora, 2004.
Cortesia de Madras/JDACT