segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Isabel de Portugal. Duquesa de Borgonha. Uma Mulher de Poder no coração da Europa Medieval. Daniel Lacerda. «A duquesa Isabel apoiava Filipe, então a ocupar a cadeira do ducado de Brabante na cidade senhorial de Bruxelas, um modo de impressionar o povo desta capital colocada sob a sua protecção»

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A duquesa e Joana d'Arc
«(…) Materialmente, a condessa teria podido visitar Joana durante a sua deslocação à Picardia. Mas, conhecendo o distanciamento que o duque Filipe tomou relativamente ao caso, ficando impassível face às exigências dos dignitários da Igreja e deixando João de Luxemburgo tomar a iniciativa, nenhum outro verdadeiro sinal é conhecido, a não ser a reaproximação ao rei de França que se tornará efectiva dois anos mais tarde, depois da grande reunião de Arras. O historiador contemporâneo Michel Lamy admite que Isabel possa ter visto Joana prisioneira em Noyon, mas não apresenta nenhum documento novo.

NOTA: Sem indicar a sua fonte, M. Lamy escreveu: Ao longo dessa permanência em Beaulieu, que durou uma dezena de dias, Jeanne foi conduzida um dia a Noyon, onde residia o duque de Borgonha e sua mulher, Isabel de Portugal, que a teria encontrado. Uma tradição sugere que Jeanne pernoitou uma noite em Noyon.

O Capítulo do Tosão de Ouro em Lille
A duquesa Isabel apoiava Filipe, então a ocupar a cadeira do ducado de Brabante na cidade senhorial de Bruxelas, uma maneira também de impressionar pelo fausto o povo desta capital recentemente colocada sob a sua protecção. A duquesa e as respectivas damas assistiram às cerimónias, procissões e missas solenes ao lado de embaixadores, outros hóspedes e oficiais da Câmara. No início de Novembro de 1431, fizeram demonstração do seu poder sobre a região no decurso de uma assembleia convocada por Filipe, que sempre desejoso de ilustrar os seus cavaleiros, além da procura de brilho, fez anunciar pelos arautos a celebração do primeiro capítulo (reunião magna) do Tosão de Ouro, previsto para Lille no dia de Santo André. A cerimónia começou nesse mesmo dia. Dezoito cavaleiros do Tosão de Ouro, rejubilando, seguiram com o duque desde o palácio local até, à Igreja de São Pedro. Quatro cavaleiros ausentes, os senhores de Saint-Georges, de Saint-Pol, João de Luxemburgo e
Reignier Pot, fIzeram-se representar. A sessão de entronização teve lugar na presença dos oficiais do capítulo a que presidia o teólogo bispo de Nevers, Jean Germain, acompanhado do escrivão, Jean Imbert, do tesoureiro Guy Guibault, e do novo rei de armas do Tosão de Ouro, Jean Lefèvre de Saint-Remy, que escreveu crónica.
No dia seguinte, na missa, quando decorria o ofertório, correspondendo ao apelo do rei de armas, cada cavaleiro ou procurador, precedido do Grande Mestre, depositou uma moeda de ouro. Estavam presentes os reis de armas de Flandres, Brabante, Artois e Hainaut, arautos e numerosos candidatos de armas do duque e de vários senhores. Mestre Jean Germain, durante uma homilia, explicou então as relações das historietas bíblicas do juiz Gedeão com a lenda mitológica de Jasão que perseguia o Tosão de Ouro. O miraculoso velo de carneiro de Gedeão, beneficiando dos auspícios de Jeová, seria a arma que melhor inspiração traria aos cavaleiros que tomavam o compromisso de defender a cruz, missão que o bispo de Nevers os exortou a cumprir sem descanso para pôr fim ao mundo pagão. Outras cerimónias, marcadas sempre pelo aparato hierárquico, se seguiram, incluindo jantares faustosos. No decurso deste primeiro capítulo da ordem, Simon de Lalaing e o conde Fréderic de Meurs foram armados cavaleiros. Soberano mestre, Filipe fazia-se rodear por cerca de uma trintena de cavaleiros, escolhidos um a um entre os melhores e os mais dedicados, aperfeiçoando assim a organização da imponente guarda de honra cujos estatutos faria promulgar pouco depois.
Filipe, o Bom, não fundava a acção da sua cavalaria somente sobre a Igreja mas queria-se também um protector, um fiel escudo dos papas que não se opunha jamais à sua autoridade. Atribui-se-lhe igualmente uma devoção que o levava a rezar durante horas. A história conta os repetidos esforços e as despesas calculadas pelo duque tendo em vista organizar uma cruzada à Palestina. Certos historiadores explicaram esta obstinação profunda pelo desejo de vingar a derrota de Nicopolis face aos Turcos e a prisão de seu pai. Mas Jean Paviot, que estudou bem o assunto, conclui que no fundo de Filipe, o Bom, há um profundo desejo de defesa da fé cristã em geral, contra os infiéis e os heréticos, e a libertação da Terra Santa». In Daniel Lacerda, Isabelle de Portugal – duchesse de Bourgogne, Éditions Lanore, 2008, Isabel de Portugal, Duquesa de Borgonha, Uma Mulher de Poder no coração da Europa Medieval, tradução de Júlio Conrado, Editorial Presença, Lisboa, 2010, ISBN 978-972-23-4374-9.

Cortesia de Presença/JDACT