Resumo
«Virgínia Victorino é, certamente, a
escritora portuguesa mais prestigiada no começo do século XX. Inicialmente
aventurando-se pelo universo da poesia, a escritora elege a forma dramática
como seu principal objecto de criação literária, tornando-se, ainda em vida,
uma grande referência do teatro em Portugal. Seu teatro consegue atrair o
aplauso do público, a crítica jornalística (do Brasil e de Portugal) e
representantes do governo português; porém, com o passar dos anos, sua
literatura entra numa zona de invisibilidade crítica e académica. O presente
artigo abordará a trajectória de sucesso de uma das mais importantes
dramaturgas da história da literatura portuguesa».
«Numa época de crescente
ascensão da mulher portuguesa à escolarização e de novos paradigmas trazidos
com os movimentos feministas, observa-se em Portugal, no começo do século XX,
uma transformação no cenário literário, principalmente em Lisboa, quando várias
mulheres iniciam-se nos mundos das letras. É neste contexto histórico que surge
uma escritora, Virgínia Victorino (1895-1967), que primeiro escreve em
versos e depois dedica-se quase que exclusivamente ao teatro. Sua estreia
acontece a partir de 1917, quando
lança suas primeiras poesias nos jornais, como que já esboçando a publicação de
sua futura primeira obra, Namorados
(1921), atraindo a atenção
dos críticos de jornais: são lindos os
seus versos e d’um encanto e merecimento inconfundível (1917, ?) O que
a autora queria, a princípio, era revelar ao público suas produções poéticas e
ver como seriam recebidas. A partir do momento em que vieram críticas
positivas, a escritora cada vez mais aventura-se no mundo da poesia, publicando
vários textos, como aconteceu em A
canção de Portugal: fala-se de
um dos mais nobres espíritos femininos […] conquistou rapidamente um nome no
mundo das letras portuguesas; outro crítico, na Semana Alcobacense, afirma que Virgínia estaria entre as melhores escritoras portuguesas e
brasileiras. Com a crescente visibilidade das mulheres, não só escritoras mas
também como leitoras, Dulce Machado escreve ao Jornal do Comércio
de Pernambuco (Brasil) falando do monopólio masculino e dos elogios a
versos masculinos que muitas vezes não têm méritos e sugere ao jornal a
publicação de um dos sonetos de Virgínia
Victorino. Graças a este interesse além-mar pela obra da escritora, é
referenciado na imprensa portuguesa o seu sucesso internacional, considerando
sua obra, no Século da Noite,
como as produções poéticas da primeira
poetisa portuguesa do nosso tempo (1920,?).
Ora, notamos que, mesmo antes do seu primeiro livro, a autora já é
reconhecida e aclamada pela crítica, tornando-se um símbolo também como
pioneira a se destacar no mundo das letras do começo do século XX.
Em relação à sua primeira publicação, Namorados
(? ), destaca o Diário de Notícias: Apareceu à venda o já
anunciado livro de versos da poetisa Virgínia Victorino.
NOTA: Os textos que se encontram apenas
com o ano e nome da edição da revista ou jornal são aqueles que fazem parte do
espólio de Virgínia Victorino da Biblioteca Nacional. A escritora guardava
organizadamente as notas que saíam na imprensa sobre sua obra, mas não se preocupava,
em sua maioria, em destacar quem escrevia os textos, nem tampouco as suas
páginas. Por isso, encontram-se neste artigo o sinal de ?, que demonstra a falta de informação sobre a página do
Jornal/Revista, como também, em alguns casos, a falta de referência da autoria
ou do título do artigo.
É
uma maravilhosa colecção de sonetos, todos eles equilibradíssimos, calmos na
sua grande nota humana, rítmicos, adoráveis para o ouvido e para o coração, femininos, teimosa e confessadamente femininos (1921,?). A ideia de feminino da época constrói-se a
partir de conceitos fundados na educação dada às mulheres: o equilíbrio formal,
o sentimentalismo contido, a confissão do coração e a teimosia; obstinação
feminina quando reluta em não aceitar os ditames da sociedade masculinizada.
Observemos também outros comentários a esta obra: triunfo no mundo das letras
(Semana Alcobasence, 1921,?); impecável obra de arte (O
Tempo, 1921,?); o mais ruidoso sucesso dos últimos tempos (Diário de Lisboa,
1921); por fim no Jornal do Recife, em 1921, a maior poetisa de Portugal
(?).
Os versos de Virgínia Victorino
chegam a ser comentados na imprensa francesa, Paris Notícias, por Mme de
Moraes Sarmento: Jamais il ne fut au
Portugal un plus grand talent féminin (1922,?), como também na imprensa
espanhola, Le pesion: los
versos de Virgínia Victorino, la exposición de una historia de amor, tan fina y
sutilmente observada, que bien merece el título de curso de psicologia amorosa,
inventado por Méziéres al estudiar el Petrarca ( 1922,?)». In Fábio Mário Silva, Da Poesia ao Teatro, A trajectória
de Virgínia Victorino, A Musa da dramaturgia portuguesa,Revista Crioula nº 10, Novembro,
2011, Universidade de Évora, Dossiê Fabio Mario Silva.
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