segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Da Poesia ao Teatro. A trajectória de Virgínia Victorino. A Musa da dramaturgia portuguesa. Fábio M. Silva. «… outros comentários a esta obra: “triunfo no mundo das letras” (Semana Alcobasence, 1921,?); “impecável obra de arte” (O Tempo, 1921,?); “o mais ruidoso sucesso dos últimos tempos” (Diário de Lisboa, 1921); por fim no Jornal do Recife, em 1921, “a maior poetisa de Portugal”»

jdact e wikipedia

Resumo
«Virgínia Victorino é, certamente, a escritora portuguesa mais prestigiada no começo do século XX. Inicialmente aventurando-se pelo universo da poesia, a escritora elege a forma dramática como seu principal objecto de criação literária, tornando-se, ainda em vida, uma grande referência do teatro em Portugal. Seu teatro consegue atrair o aplauso do público, a crítica jornalística (do Brasil e de Portugal) e representantes do governo português; porém, com o passar dos anos, sua literatura entra numa zona de invisibilidade crítica e académica. O presente artigo abordará a trajectória de sucesso de uma das mais importantes dramaturgas da história da literatura portuguesa».

«Numa época de crescente ascensão da mulher portuguesa à escolarização e de novos paradigmas trazidos com os movimentos feministas, observa-se em Portugal, no começo do século XX, uma transformação no cenário literário, principalmente em Lisboa, quando várias mulheres iniciam-se nos mundos das letras. É neste contexto histórico que surge uma escritora, Virgínia Victorino (1895-1967), que primeiro escreve em versos e depois dedica-se quase que exclusivamente ao teatro. Sua estreia acontece a partir de 1917, quando lança suas primeiras poesias nos jornais, como que já esboçando a publicação de sua futura primeira obra, Namorados (1921), atraindo a atenção dos críticos de jornais: são lindos os seus versos e d’um encanto e merecimento inconfundível (1917, ?) O que a autora queria, a princípio, era revelar ao público suas produções poéticas e ver como seriam recebidas. A partir do momento em que vieram críticas positivas, a escritora cada vez mais aventura-se no mundo da poesia, publicando vários textos, como aconteceu em A canção de Portugal: fala-se de um dos mais nobres espíritos femininos […] conquistou rapidamente um nome no mundo das letras portuguesas; outro crítico, na Semana Alcobacense, afirma que Virgínia estaria entre as melhores escritoras portuguesas e brasileiras. Com a crescente visibilidade das mulheres, não só escritoras mas também como leitoras, Dulce Machado escreve ao Jornal do Comércio de Pernambuco (Brasil) falando do monopólio masculino e dos elogios a versos masculinos que muitas vezes não têm méritos e sugere ao jornal a publicação de um dos sonetos de Virgínia Victorino. Graças a este interesse além-mar pela obra da escritora, é referenciado na imprensa portuguesa o seu sucesso internacional, considerando sua obra, no Século da Noite, como as produções poéticas da primeira poetisa portuguesa do nosso tempo (1920,?).
Ora, notamos que, mesmo antes do seu primeiro livro, a autora já é reconhecida e aclamada pela crítica, tornando-se um símbolo também como pioneira a se destacar no mundo das letras do começo do século XX. Em relação à sua primeira publicação, Namorados (? ), destaca o Diário de Notícias: Apareceu à venda o já anunciado livro de versos da poetisa Virgínia Victorino.

NOTA: Os textos que se encontram apenas com o ano e nome da edição da revista ou jornal são aqueles que fazem parte do espólio de Virgínia Victorino da Biblioteca Nacional. A escritora guardava organizadamente as notas que saíam na imprensa sobre sua obra, mas não se preocupava, em sua maioria, em destacar quem escrevia os textos, nem tampouco as suas páginas. Por isso, encontram-se neste artigo o sinal de ?, que demonstra a falta de informação sobre a página do Jornal/Revista, como também, em alguns casos, a falta de referência da autoria ou do título do artigo.

É uma maravilhosa colecção de sonetos, todos eles equilibradíssimos, calmos na sua grande nota humana, rítmicos, adoráveis para o ouvido e para o coração, femininos, teimosa e confessadamente femininos (1921,?). A ideia de feminino da época constrói-se a partir de conceitos fundados na educação dada às mulheres: o equilíbrio formal, o sentimentalismo contido, a confissão do coração e a teimosia; obstinação feminina quando reluta em não aceitar os ditames da sociedade masculinizada. Observemos também outros comentários a esta obra: triunfo no mundo das letras (Semana Alcobasence, 1921,?); impecável obra de arte (O Tempo, 1921,?); o mais ruidoso sucesso dos últimos tempos (Diário de Lisboa, 1921); por fim no Jornal do Recife, em 1921, a maior poetisa de Portugal (?).
Os versos de Virgínia Victorino chegam a ser comentados na imprensa francesa, Paris Notícias, por Mme de Moraes Sarmento: Jamais il ne fut au Portugal un plus grand talent féminin (1922,?), como também na imprensa espanhola, Le pesion: los versos de Virgínia Victorino, la exposición de una historia de amor, tan fina y sutilmente observada, que bien merece el título de curso de psicologia amorosa, inventado por Méziéres al estudiar el Petrarca ( 1922,?)». In Fábio Mário Silva, Da Poesia ao Teatro, A trajectória de Virgínia Victorino, A Musa da dramaturgia portuguesa,Revista Crioula nº 10, Novembro, 2011, Universidade de Évora, Dossiê Fabio Mario Silva.

Cortesia RCrioula/JDACT