domingo, 26 de janeiro de 2014

A Batalha de Pedroso. 1071. Eduardo P. Oliveira. «… não lhe permitiu o seu ânimo aguardá-lo no ponto em que estacionava. Dirigia-se ao seu encontro e no lugar de Pedroso acharam em face um do outro os dois exércitos. Principiou o combate; ambos se atiravam cegos e impetuosos à luta renhida e desesperada…»


Cortesia de wikipedia

Com a devida vénia a José Carlos Peixoto, in História por um Canudo

«O Mosteiro de Tibães tinha, em Parada de Tibães, a Quinta de Pedroso, onde ocorreu a Batalha de Pedroso, em 17 de Fevereiro de 1071, adquirida pelos monges no triénio de 1680-1682. Junto a esta quinta, existia outra propriedade, denominada a Devesa do Pedroso.  Diversos documentos falam da Batalha de Pedroso, junto a Tibães, mas nem todos os historiadores estão em sintonia com o seu resultado. Uns dão como vitorioso Dom Garcia (Monarquia Lusitana de frei António Brandão, parte 3.ª; História de Portugal de Alexandre Herculano, vol. 1) e derrotado e morto o conde Nuno Mendes, outros seguem a opinião contrária. Segundo Jerónimo Cunha Pimentel (em Folhas soltas da história de Braga. 2. A Batalha de Pedroso. Junto a Tibães. 1871. Regenerador, Braga, 5 e 8 de 1886), a batalha teve lugar em 18 de Janeiro, no entanto Avelino Jesus Costa impõe a data de 17 de Fevereiro de 1071.
Junto descrição da Batalha de Pedroso (in Eduardo Pires Oliveira, Parada de Tibães):

«Dom Garcia, tendo notícia de que o bando de revoltosos se aproximava de Braga pôs em acção todos os elementos de guerra de que podia dispor, a fim de reprimir os que tão ousadamente reagiam contra a sua autoridade. As fortificações da cidade não davam nessa época uma segura garantia de defesa. Um castelo no lugar onde hoje existe a igreja de São Tiago da Cividade e outro nas vizinhanças de São Pedro de Maximinos, eram os únicos pontos defensivos de Braga, que sem muralhas então, e sem outras fortificações não oferecia resistência a qualquer assédio. A antiga corte dos Suevos, outrora cidade importante e seguro, ainda não pudera levantar-se e restabelecer-se da ruína porque passara. Dom Garcia empenhava-se na sua restauração de material e empregava os meios para restituir à sua antiga igreja a importância que havia perdido. Não era um curto espaço de tempo que se lhe podia fazer readquirir a grandeza que tivera, quando fora tão profunda a destruição que a assolou.
Não tendo, portanto, Braga os necessários meios de defesa e não querendo transformar as ruas em campo de batalha, resolveu D. Garcia ir de encontro aos revoltosos, que na tarde de 17 de Fevereiro de 1071 estavam junto às margens do Cávado, em caminho para a cidade. Quando as sombras da madrugada se esvaíram aos primeiros clarões da manhã do dia 17 de Fevereiro, estava Dom Garcia e o seu exército no Lugar de Parada, já próximo a Tibães.  A manhã estava fria e húmida como era próprio da estação. À luz do dia já se divisavam os campos que as chuvas de inverno tornavam alagadiços e pantanosos.
Um nevoeiro pouco denso levanta-se do lado do Cávado e um frio penetrante açoutava os soldados bracarenses. Não arrefecia, porém, o ânimo aos heróicos descendentes dos que durante muitos anos arrastaram o poder de Roma e venceram em mil combates as aguerridas hostes dos serracenos. Era nesse esforço tradicional que confiava D. Garcia, que tinha pela frente o valoroso conde Nuno Mendes com soldados descendentes dos mesmos heróis. As vigias que este colocara à distância do seu acampamento deram aviso que se aproximava o exército real.
Não lhe permitiu o seu ânimo aguardá-lo no ponto em que estacionava. Dirigia-se ao seu encontro e no lugar de Pedroso acharam em face um do outro os dois exércitos. Principiou o combate; ambos se atiravam cegos e impetuosos à luta renhida e desesperada. Os cadáveres já alastravam os campos de sangue, juntando-se à água dos poços e dos atoleiros, fazia-os parecer um lago vermelho. A batalha prosseguia com várias fortunas e à vitória indecisa continuavam uns e outros a imolar vidas naquela lide afanosa e sanguinolenta. À medida que rareavam os combatentes mais encarniçada e delirante se tornava a luta.
Nuno Mendes fez um último e denoado esforço na esperança de com ele alcançar a vitória, a que sempre o guiara a sua boa estrela. Desta vez a sorte foi-lhe adversa; o brilho dessa estrela empanara-se-lhe ali; a espada valente partiu-se em estilhaços e a lança sempre vitoriosa, caiu-lhe da mão desfalecida pela morte. Do herói de tantos combates restava um cadáver!  A morte do campeão audaz pôs termo à luta. Dos seus soldados, os poucos que escaparam à morte ou ficaram prisioneiros ou procuraram salvação na fuga desordenada. Dom Garcia entrou em Braga triunfante, mas a vitória tornou-o mais soberbo e mais despótico no seu governo.
O sangue derramado nos campos de Tibães não pôde sufocar a rebelião que lavrava funda entre os nobres oprimidos, Vernula ou verna, valido do rei. A expulsão agora não se manifestou num campo de batalha; foi no próprio palácio real onde, na presença de Dom Garcia, foi pelos nobres assassinado o seu valido. Nem com isso se aplacaram os ânimos irritados e conhecendo-o Dom Sancho, rei de Castela e já então de Leão e das Astúrias, aproveitou-se desse descontentamento para mais facilmente vencer e destronar seu irmão Dom Garcia.
Declarou-se a guerra e na batalha de Água de Mayas, junto a Coimbra, ou noutra próximo a Santarém, Dom Garcia perdeu com a liberdade o domínio destes reinos que incorporando-se na monarquia de Espanha trouxeram a Dom Sancho a realização dos seus sonhos ambiciosos. Dezanove anos depois da Batalha de Pedroso morreu Dom Garcia, a 22 de Março de 1090, sendo sepultado na Igreja Maior de Leão, onde na sepultura se gravou o seguinte epitáfio: H. R. Domnus Garcia Rex Portugaliae et Galiciae, filius regis magni Ferdinandi. Hic ingenio captus a fratre suo invinculis obiit. Era MCXXVIII kalendis aprilis
.

A sublevação de Nuno Mendo ou Nuno Mendes, contra o rei da Galiza, Garcia II, foi o sétimo e o derradeiro conde de Portucale, descendente da família de Vimara Peres. Filho do conde Mendo III a quem sucedera. As suas aspirações a uma maior autonomia dos portucalenses face ao reino da Galiza levaram-no a enfrentar o rei Garcia II e a reclamar a independência e o título de Rei de Portugal. Em 17 de Fevereiro (Janeiro?) trava-se a batalha do Pedroso junto do Mosteiro de Tibães a qual teve como desfecho final a sua derrota e morte, travando assim as ambições dos barões portucalenses». In Eduardo Pires Oliveira, Parada de Tibães, História por um Canudo, José Carlos Gonçalves Peixoto, Braga, Tibães.

Cortesia de H Canudo/JDACT