«(…) Entre varias
curiosidades, menciona o padre Manoel d'Almeida, as ruínas de Accuma ou Axuma como
amostras da beleza original d'aqueles edifícios; e outrossim confirma a tradição
dos artistas empregados em essas construções, terem sido mandados vir do
Egypto, por ser desconhecida na Abyssínia a arte de lavrar a pedra. O notável
historiador João de Barros, corrobora a magnificência das ruínas de Accuma, corte
que diz fora da rainha de Sabá e de vários Imperadores da Ethiópia. Descreve
aquelas ruínas, e faz menção do que sobre elas afirma o cardeal Baronio, nos
seus anais eclesiásticos. Diz figurarem ali várias ruínas, obeliscos, etc,
especialmente de uma igreja que mostra ter sido de cinco naves, medindo
duzentos e vinte palmos de comprimento e cem de largura. Distam estas ruínas
três léguas de Eremonia, e de Macuá trinta e cinco, em altura de 14 graus e meio.
João de Barros descreve outras ruínas similares, denominadas Zimbabe, situadas a 170 léguas de
Sofala, na África oriental.
O padre Balthazar apoia
a sua narrativa em cartas pertencentes à missão da Ethiopia, então arquivadas
no cartório do Colégio, em Coimbra, algumas de 1556.
Não é fora de propósito
mencionar os escritos do padre jesuíta Damião Vieira, o qual missionara na Índia
quarenta anos. Entre seus trabalhos citam-se excelentes memórias relativas à
história da Índia, como também um volumoso manuscrito sobre a descoberta da Índia,
que pertencera ao marquês de Fontes, antigo embaixador em Roma. Afirma-se que
esse manuscrito contém detalhes e particularidades relativas à descoberta da Índia
que não existem na obra de João de Barros. É também digna de atenção a carta
publicada na Colecção de Ramusio, sob o titulo: Lettere del padre maestro
Francisco Xavier de Cangoxina, Città del Giapan, inderezzata a un Collegio de Scholari
di detta Compagnia en Coimbra, Portogallo; datada de 5 de Outubro de 1549. Merecem também estudo os escritos
do padre Procurador em Roma, Alvaro Semedo, da província do Japão e da China,
publicados em 1642.
Sobe de interesse o
itinerário do padre Jeronymo Lobo, cujo manuscrito original pertencera à biblioteca
dos condes da Ericeira, e fora traduzido em francês por Le Grand, e publicado
em Amsterdão em 1728. As bibliotecas
dos marqueses de Castel Melhor e dos condes da Ericeira eram afamadas pelos
valiosos documentos que continham relativos às descobertas dos portugueses.
Muitos d'esses padrões de glória nacional ficaram sepultados nas ruínas do
terramoto de 1755; alguns foram
felizmente parar a várias bibliotecas estrangeiras. Em Roma, Florenca, Bologna
e Veneza, tive eu a fortuna de compulsar algumas relíquias do outrora levantado
Portugal.
Revertendo ao itinerário do padre Jeronymo Lobo, é mister confessar que
contém informação de alto interesse, inclusive uma carta geográfica da Abyssínia,
na qual estão designadas as igrejas dos padres jesuítas e suas residências.
Este notável membro da Companhia foi perseguido, e até encarcerado em Macuá, de
onde conseguiu evadir-se para Lisboa, de cujo ponto passou a Roma em serviço da
missão da Abyssínia. Não fora, porém, bem acolhido pela Cúria. Regressou a Goa,
e ali ocupou o cargo de Reitor daquela província; e passados vários anos
regressou a Lisboa, falecendo de idade avançada na Casa Professa de S.
Roque, a 29 de Janeiro de 1678.
O padre Lobo não perdeu o tempo na Abyssínia, nem mesmo escapou a agudeza de
seu espírito investigador apontar Macuá como ponto estratégico e chave da
Abyssínia. Os italianos assim o reconheceram há poucos anos, quando ocuparam
aquela cidade. Os abexins favoreceram e trataram bem os portugueses enquanto
careceram do seu auxilio, nas dissensões internas; passado o perigo, a sua
conduta tornou-se insuportável. O próprio Patriarca João Bermudez foi preso, e
se conseguira a liberdade, ele mesmo declara deve-la ao auxilio de três
portugueses, cujos nomes menciona: Manoel Soveral, Peropalha e Denis
Lima. O Patriarca conseguiu por fim abandonar o país em 1565». In Visconde de Soveral, Memória
acerca dos portugueses na Abyssínia, Porto, Tipografia do Comércio do Porto,
1894.
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