«(…) Veremos ainda as
consequências dos ideais do romantismo na sociedade portuguesa do século XIX. Seguidamente
passaremos à tentativa de uma definição para o romantismo, com o surgimento
deste movimento na Europa e finalmente em Portugal e com as suas fases. Procuraremos
caracterizá-las de modo a realçarmos essas características com alguns textos de
autores românticos, sobretudo Almeida Garrett. A ideia da identidade
nacional é reforçada, como referimos, a partir do romantismo, por isso neste
trabalho iremos ter em conta essa questão, observando as diferentes acepções
que os principais teorizadores têm sobre o assunto bem como a maneira como
essas ideias se manifestam na literatura.
Um breve historial do
percurso da literatura são-tomense antecederá ao estudo do perfil
biográfico do autor que nos propomos trabalhar. Tendo em conta que o nosso objecto
principal de estudo é o livro intitulado Versos
de Caetano Costa Alegre, começaremos por fazer a sua breve apresentação,
vendo como se compõe o livro, as suas formas de composição, as dominantes
temáticas, com particular referência mas não excessiva à questão da cor da
pele. Particular referência sobretudo por esse tema ter sido motivo de análises
fora do contexto em que o tema foi desenvolvido, análises que em vez de
reflectirem os sentidos poéticos dos textos reflectem as ideologias dos
críticos. Finalmente tentaremos mostrar as marcas do romantismo presentes em Versos, realçando o que há de
romântico na obra, o sentido conotativo dos textos, os recursos estilísticos
mais marcantes na obra, no sentido da afirmação de uma individualidade a que o
romantismo confere características nacionais de S. Tomé e Príncipe.
No que tange ao tipo de
investigação académica necessária, este trabalho seguirá a metodologia com base
em pesquisa de textos, e a bibliografia que utilizaremos como referencial
teórico, compreenderá a crítica literária, o ideário romântico na Europa, e muito
particularmente em Portugal. Também nos socorreremos de bibliografias que retratam
a questão da identidade vista ao longo dos tempos, bem como as ligadas às literaturas
africanas de expressão portuguesa, muito especificamente, a de São Tomé e Príncipe.
Jornais e Boletins Oficiais servirão de referências bibliográficas para perquirir
o autor em estudo.
Contextualização. Historial de S. Tomé e Príncipe
Conforme anotámos na Introdução,
abriremos a nossa dissertação neste capítulo com as necessárias considerações
contextuais da história para melhor entendermos o autor a que nos propomos
estudar, inserindo-o na sociedade da sua época. Faremos uma breve
historiografia de São Tomé, sua terra natal, desde a sua situação
geográfica, até a formação de sociedade com características muito híbridas.
Tendo em conta que o nosso autor partiu muito cedo para Portugal (cerca dos
dez anos) e foi a partir de lá que fez os seu estudos e onde começou a
escrever, faremos também uma breve contextualização sócio-cultural da época. São
Tomé e Príncipe, duas das quatro ilhas (mais Fernando Pó e Ano Bom)
que compõem um conjunto vulcânico na zona equatorial da Costa Ocidental
Africana, distam uma da outra cerca de 82 milhas, com uma superfície terrestre
de 875 km2 e 114km2 respectivamente, estando afastadas do continente africano
em 160 milhas, ilha do Príncipe, 180 milhas ilha de São Tomé.
Apesar de não haver
documentos fidedignos quanto à exactidão da descoberta do Arquipélago, supõe-se
que o descobrimento tivesse decorrido entre os anos de 1470 (São Tomé) e 1472
(Príncipe) durante o reinado de Afonso V. Os seus descobridores foram seguramente
João de Santarém e Pêro Escobar que estavam a serviço de Fernão
Gomes, nos termos de um contrato que tinha com o rei de Portugal (fora-lhe
concedido o monopólio do comércio na Costa da Guiné, com a obrigação de
explorar toda a costa sul da Serra Leoa).
De acordo com o
princípio de descentralização administrativa adoptada pela Coroa no início da
expansão marítima, a ilha de São Tomé foi doada a João Paiva, em 1485, num sistema de capitania, dando
assim o início ao seu povoamento, uma vez que esse território era supostamente
desabitado aquando do seu achamento. Dificuldades inerentes às características
naturais da ilha que na altura não permitiam a exploração económica imediata, e
consequentemente, lucros directos. O donatário João Paiva renunciou à
capitania, sucedendo o mesmo ao segundo donatário. Só em 1493, e com Álvaro Caminha, o grande impulsionador da
colonização da ilha, é que se verificaria o arranque definitivo do povoamento
efectivo do território, através de medidas muito concretas destinadas a
multiplicar os habitantes e desta forma aumentar a produtividade em benefício
da coroa. É-lhe concedida a jurisdição civil e criminal, ampliando os
privilégios aos colonos aí estabelecidos ou que viessem a se estabelecer. É também
nesta altura que se faz a transferência da povoação para a baía de Ana
Chaves, uma das mais amplas no nordeste da ilha, uma região que permitia
uma melhor penetração no território, bem como o desenvolvimento da cultura de
cana e o escoamento da produção açucareira». In Instituto Camões, Repositório
da Universidade de Lisboa, 2009.
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