Martim Gil de Soverosa. O bisneto d'O Cativo
«É com a chegada de Afonso Henriques ao poder que a linhagem de origem
galega dos Soverosa se afirma como uma das mais poderosas e mais
prestigiadas da corte e do reino. Com efeito, o célebre Fernão Peres Cativo, desempenhará as
dignidades de alferes (1129-1137) e de mordomo-mor do rei (1146-1155),
acumulando-as com as tenências das terras de Viseu (1132-1145), de Oliveira
do Hospital (1145) e de Lafões (1152). A geração seguinte continuará
a ocupar destacados cargos palatinos, com Nuno Fernandes de Soverosa atestado
também como alferes, em 1169, e com
Vasco Fernandes a assumir a mordomia-mor em 1179-1186, em simultâneo
com a tenência da terra de Basto entre 1167 e 1186. É nesta altura que,
devido a contendas com os Sousa, outra das mais importantes famílias cortesãs,
se exila no reino de Leão, onde permanece até, 1194, ano que marca o seu regresso à corte portuguesa. O
protagonismo até então adquirido pelos Soverosa prossegue na geração seguinte
com os filhos de Vasco Fernandes:
Martim Vasques, que desempenhará a dignidade de alferes, entre 1193
e 1961 e, sobretudo, Gil Vasques, que irá também manter uma
sólida e longa ligação com a Coroa, cruzando os reinados de Sancho I, Afonso II e Sancho II,
durante os quais detém as tenências das terras de Basto (1207 e 1234-1235),de
Sousa e de Barroso (1207-1240) e ainda de Panóias e de Montalegre, porém, em data
que se desconhece.
Gil Vasques de Soverosa casou três vezes, a primeira das quais
com D. Maria Aires de Fornelos, que havia sido amante de Sancho I e de quem tivera
o bastardo Martim Sanches. Desse casamento resultou o nascimento de uma
filha e de dois filhos: Teresa Gil, que partirá para Leão, onde virá a ser barregã de Afonso IX; Fernão Gil, sobre
quem também pouco se sabe, excepto que, de acordo com o Livro do Deão, terá armado 37 cavaleiros e que não teve qualquer
descendência; e Martim Gil, sem dúvida
o mais conhecido dos três e, provavelmente, um dos mais prestigiados, mas
simultaneamente, o mais polémico de todos os membros da sua linhagem.
Os anos de ascensão
Ainda que as fontes se revelem silenciosas a esse respeito, é muito possível
que o baptismo de fogo de Martim Gil de Soverosa tenha ocorrido em 1226, por ocasião do cerco a Elvas,
provavelmente integrado na mesnada de seu pai, Gil Vasques, documentalmente
atestado nessa operação militar, a primeira comandada pessoalmente por Sancho
II. Teria então, segundo nos parece, entre 16 e 18 anos de idade. E foi
seguramente graças à projecção até então obtida por seu pai, mas também devido
ao crescimento da sua própria importância no seio da nobreza cortesã, que Martim
Gil, O Bom, como lhe chama o Livro
do Deão, começa a adquirir visibilidade documental. Coincidência, ou talvez
não, esta ascensão tem início numa altura em que os Sousa, que desde o reinado
de Afonso II haviam sido destituídos dos principais cargos que detinham, perdem
ainda mais influência, quando em 1227-1228 se vêm privados das
tenências de Pinhel e de Tancoso. Ainda que não seja possível descortinar
qualquer intervenção por parte dos Soverosa neste processo de afastamento dos
Sousa, parece evidente terem sido eles e os Riba de Vizela os principais
beneficiados, porquanto isso lhes vai permitir obter uma posição
verdadeiramente hegemónica junto de Sancho II.
Segundo Leontina Ventura, talvez em 1230 Martim Gil de Soverosa ocupasse já a tenência de
Riba-Minho. Ainda assim, as referências mais seguras à sua presença no comando
dessa terra datam apenas de
Março de 1232, quando surge, em Coimbra,
pela primeira vez, arrolado entre os confirmantes da doação do lugar do Crato à
Ordem do Hospital. A partir daí será uma figura quase constante na corte d'O Capelo. Assim, entre Março de 1235 e Fevereiro do ano seguinte,
testemunha a elaboração de diversas cartas régias, como as que beneficiam João Mendes,
o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e, sobretudo, a Ordem de Santiago». In
Miguel Gomes Martins, Guerreiros Medievais Portugueses, A Esfera dos Livros,
Lisboa, 2013, ISBN 978-989-626-486-4.
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