quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Jazz. As Mãos. Bernardo e Mário. «Como um sol de polpa escura para levar à boca, eis as mãos: procuram-te desde o chão, entre os veios do sono e da memória procuram-te: à vertigem do ar abrem as portas: vai entrar o vento ou o violento aroma de uma candeia…»

Cortesia de wikipedia

«As minhas mãos magritas, afiladas,
tão brancas como a água da nascente,
lembram pálidas rosas entornadas
dum regaço de Infanta do Oriente.

Mãos de ninfa, de fada, de vidente,
pobrezinhas em sedas enroladas,
virgens mortas em luz amortalhadas
pelas próprias mãos de oiro do sol-poente.

magras e brancas... Foram assim feitas...
Mãos de enjeitada porque tu me enjeitas...
Tão doces que elas são! Tão a meu gosto!

Pra que as quero eu - Deus! - Pra que as quero eu?!
Ó minhas mãos, aonde está o céu?
...Aonde estão as linhas do teu rosto?»


«Aqui estão as mãos.
São os mais belos sinais da terra.
Os anjos nascem aqui:
frescos, matinais, quase de orvalho,
de coração alegre e povoado.

Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
 - eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece».

JDACT