Cortesia
de wikipedia e jdact
Portugal Mítico
O
mistério da cruz templária
«(…)
Com a queda do império romano do Ocidente, no século V, a Europa entra numa
profunda regressão cultural. O caos é completo, a barbárie e o desespero
psíquico deixam os povos num estado de grande depressão, superstição e confusão
mental; impera um estilo de vida primitivo e rústico. Por mais teorias que
alguns historiadores defendam sobre a Luz
na Idade Média, jamais se poderá escamotear a verdadeira idade
obscurantista que constituíram, sem dúvida alguma, os séculos da Alta Idade
Média, ou seja, as primeiras centúrias a seguir ao descalabro de Roma. Ler e
escrever chegou a ser considerado diabólico; acreditava-se na fecundação das
raparigas e das religiosas sem a intervenção masculina através de um ar espermático; após o grande
ideal de higiene dos romanos, que nas suas majestosas termas cultivavam a
máxima grega de mente sã em corpo são, muitas destas termas, como as de Caracala
em Roma, não apenas se dedicavam ao corpo como também eram palco de inúmeras
actividades artísticas, como exposições de arte e concertos de música, a
sujidade chegou a ser um ideal medieval. Só para dar um exemplo do fanatismo
medievo citamos a demolição da enorme estátua da deusa Atena do Partenon,
de ouro e marfim, obra de Fídias, para aproveitar o ouro fundido com o escopo
de fazer pequenos amuletos cruciformes. A preservação da cultura ocidental foi
possível graças aos árabes que viviam em áreas limítrofes do império romano; e
ao trabalho das primeiras ordens monásticas, entre as quais se destaca a de S.
Bento.
Apesar
do anátema da Igreja lançado sobre as tradições religiosas da antiguidade,
alguma da antiga sabedoria foi assimilada pelos monges e eremitas medievais.
Sabe-se hoje que muita da tradição pagã foi assimilada sob formas
cristianizadas. O problema é que a chave mistérica já tinha sido perdida, ou
perdeu-se, entretanto. Mais do que o clero secular, normalmente demasiado
absorvido por questões de ordem política, o clereo regular teve uma acção
preponderante no necessário fortalecimento espiritual da Europa, para que esta
pudesse de alguma maneira renascer das cinzas. Um estudo de Jeff Sawward mostra
a relação dos locais sagrados da Europa pré-cristã com os primeiros mosteiros
da Ordem de S. Bento, ou seja, demonstra que estes conheciam a rota telúrica
dos lugares sagrados. As ordens monásticas, os eremitas cristãos e todo o
ambiente do cristianismo do primeiro milénio deixaram uma marca profunda no
Centro e Norte de Portugal. São o alvor do passado mítico que evocamos. Esse
cristianismo, ao contrário da exposição da historiografia catolicista, foi
plural. Basta lembrar o gnosticismo prisciliano, a ortodoxia de Paulo Osório, discípulo de S. Agostinho, que na
sua Cidade
de Deus veicula a filosofia mística de Plotino e uma concepção
platónica da realidade, assim como a específica espiritualidade moçárabe, para
além do cristianismo ariano que durante séculos foi a religião oficial dos
Visigodos, Suevos e outros povos germânicos.
Desse
tempo ficaram-nos alguns monumentos, poucos, embora preciosos, como
documentos de uma época, mas é no período românico dos sé4culos XI e XII que
encontramos uma riqueza impressionante de símbolos, vestígios de uma sabedoria
arcaica ainda hoje praticamente indecifrável. Rota do românico no Norte de
Portugal é algo de absolutamente deslumbrante e riquíssimo como património
cultural, não apenas num âmbito nacional como europeu. Nestes templos românicos
encontramos também a influência das Ordens de Cister e do Templo. E é na
totalidade, frisamos, na totalidade destes templos românicos que
encontramos insculpida a cruz orbicular (que tem forma de orbe,
globular, esférica), que viria a ficar mais conhecida como cruz templária,
visto que a Ordem dos Cavaleiros de Salomão a adoptou como sua insígnia
principal no reino português. Por exemplo, no templo românico de S. Cristóvão de rio Mau, perto de Vila do
Conde, encontramos esta cruz insculpida ao redor de todo o templo. Este facto
revela bem a importância deste símbolo como talismã protector.
«Situado
em Vila do Conde, o pequeno templo, que em tempos comportava um mosteiro
pertencente aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, é marcado por expressiva
sobriedade típica da arte românica. Apesar de se tratar de uma edificação
regional, levantada em granito de segunda escolha, nem por isso deixa de
revelar certa qualidade construtiva. Nesta edificação facilmente se percebe que
o corpo e a cabeceira não foram feitos pela mesma mão, nem os materiais
utilizados são da mesma qualidade.A fachada principal, construída em silhares
de granito, é dominada por um alçado ressaltado em relação ao resto do
frontispício, onde se inscreve um pórtico de três arquivoltas ligeiramente
elevadas, arredondadas e molduradas, no contorno externo, por friso de
elegantes entrançados. As arquivoltas são sustentadas por seis colunas (três de
cada lado) capitelizadas e preenchidas com ornatos de cariz vegetalista. No
tímpano encontra-se incipiente baixo-relevo, tendo ao centro uma figura com
mitra e báculo, abençoando no meio da representação de duas figuras
atarracadas, ostentanto livros abertos. Um pássaro sob um sol e uma sereia,
segurando uma lua, ladeiam este conjunto. Remata o alçado empena triangular
coroada com cruz inscrita num círculo, semelhante à da Ordem dos Templários. Nas
fachadas laterais aparecem-nos duas outras portas, uma delas com o tímpano
preenchido por dois dragões a lutar e uma moldura ressaltada suportada por dois
modilhões. O interior, de nave única e planta retangular, é realçado por um
baixo-relevo representando um Agnus Dei, reminiscência da fase românica
inicial. O arco triunfal é composto por três arquivoltas de arestas sustentadas
por colunas de diferentes perfis. A capela-mor é construída em bom granito,
constituindo o trecho mais valioso desta igreja. Separada em dois setores pelo
lançamento de um arco que reforça a cobertura de abóbadas de berço, ela é
valorizada pela arcaria cega de colunas capitelizadas nas paredes. Os capitéis
são trabalhados numa peculiar iconografia, onde se representam toscas e
volumosas figuras humanas, animais fantásticos e aves de grande efeito plástico».
In Infopédia.
O
templo românico é um espaço sagrado onde reina o cosmos, protegendo o homem do caos,
da instabilidade e insegurança, que vigora no exterior». In Paulo Alexandre Loução,
Portugal, Terra de Mistérios, Edições Ésquilo, 2001, ISBN 972-8605-04-8.
Cortesia
de Ésquilo/JDACT