quinta-feira, 6 de março de 2014

A Voz do Silêncio. Helena Petrovna Blavatsky. «Sábios, não choreis nem pelos vivos nem pelos mortos. Nunca deixei de existir, nem vós, nem estes reis dos homens; nem no futuro deixará qualquer um de nós de existir (escrivão de puridade…)»

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Abalou-me a um ponto que eu julgaria impossível. In Fernando Pessoa

Aos Poucos
«(…) Destes aprendi de cor, há muitos anos, trinta e nove. Para traduzir os outros, teria de me referir a apontamentos dispersos entre um número de papéis e notas, representando um estudo de vinte anos e nunca postos em ordem, demasiado grande para que a tarefa fosse fácil. Nem poderiam ser todos traduzidos e dados a um mundo por demais egoísta e atado aos objectos dos sentidos, para que pudesse estar preparado a receber, com a devida atitude do espírito, uma moral tão elevada. Porque, a não ser que um homem se entregue perseverantemente ao culto do conhecimento de si próprio, nunca poderá de bom grado dar ouvidos a conselhos desta natureza. E, contudo, esta moral enche tomos e tomos da literatura oriental, sobretudo nos upanixades. Mata todo o desejo de viver, diz Krishna a Arjuna. Esse desejo mora apenas no corpo, veículo do ser encarnado, e não na própria individualidade, que é eterna, indestrutível, que não mata nem é mortal (Kathopanishad). Mata a sensação, ensina o Sutta-Nipata; olha do mesmo modo para o prazer e para a dor, para o ganho e para a perda, para a vitória e para a derrota. E ainda busca abrigo só no eterno, destrói o sentido da existência separada, repete Krishna de variadas maneiras. O Espírito [Manas], que segue os sentidos vagabundos, torna a alma [Budhi] tão inerte como o barco que o vento arrasa sobre as águas. Por isso se julgou melhor fazer uma escolha judiciosa só entre aqueles tratados que mais sirvam aos poucos verdadeiro místicos que há na sociedade teosófica, e que com certeza se ajustem às suas necessidades. Só esses compreenderão estas palavras de Krishna-Christos, a personalidade superior. Sábios, não choreis nem pelos vivos nem pelos mortos. Nunca deixei de existir, nem vós, nem estes reis dos homens; nem no futuro deixará qualquer um de nós de existir.

Estas indicações são para aqueles que não conhecem os perigos dos Iddhi inferiores. Aquele que quiser ouvir a voz de Nadã, o Som sem som, e compreendê-la, terá de aprender a natureza do Dharana. Tendo-se tornado indiferente aos objectos da percepção, deve o aluno procurar o raja dos sentidos, o produtor de pensamentos, aquele que acorda a ilusão. A Mente é a grande assassina do Real. Que o discípulo mate o assassino. Porque quando para si mesmo a sua própria forma parece irreal, como o parecem, ao acordar, todas as formas que ele vê em sonhos; quando deixar de ouvir os muitos, poderá divisar o Um, o som interior que mata o exterior. Então, e só então, abandonará ele a região de Asat, o falso, para chegar ao reino de Sat, o verdadeiro. Antes que a Alma possa ver, deve ser conseguida a harmonia interior, e os olhos da carne tornados cegos a toda a ilusão. Antes que a Alma possa ouvir, a imagem (o homem) tem de se tornar surda aos rugidos como aos segredos, aos gritos dos elefantes em fúria como ao sussurro prateado do pirilampo de ouro. Antes que a Alma possa compreender e recordar, ela deve primeiro unir-se ao Falador Silencioso, como a forma que é dada ao barro se uniu primeiro ao espírito do escultor. Porque então a Alma ouvirá e poderá recordar-se. E então ao ouvido interior falará AVoz do Silêncio (a do Ladino…), e dirá: Se a tua Alma sorri ao banhar-se ao sol da tua vida; se a tua Alma canta dentro da sua crisálida de carne e de matéria; se a tua Alma chora dentro do seu castelo de ilusão; se a tua Alma se esforça por quebrar o fio de prata que a liga ao mestre; sabe (escrivão de puridade…) ó discípulo, que a sua alma é da terra». ». In Helena Petrovna Blavatsky, The Voice of The Silence, A Voz do Silêncio, tradução de Fernando Pessoa, Editorial Presença, 2012, ISBN 978-989-8470-49-2.

Cortesia de Presença/JDACT