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de wikipedia
Introdução
«(…) Outras obras importantes são
as de António Vasconcelos, que escreveu sobre os Colégios Universitários de
Coimbra, e Nuno Rosmaninho sobre a Cidade Universitária do Estado Novo. Já
Walter Rossa ou Jorge Alarcão analisam a evolução geral da cidade de Coimbra;
António Pimentel estudou o Paço Real e a sua transformação desde as origens até
ao estabelecimento da Universidade. Estas obras, embora visem assuntos mais
abrangentes ou mais específicos, quer no espaço, quer no tempo, juntas,
contribuíram com informação essencial para a análise da Rua Larga. Dado o assunto
do trabalho, praticamente toda a bibliografia foi consultada em Coimbra: Biblioteca
Geral e Arquivo da Universidade de Coimbra, Biblioteca Municipal, bibliotecas
de alguns departamentos da Universidade de Coimbra e Museu Machado de Castro.
Origens
Uma das primeiras referências à
via urbana em estudo, actualmente chamada Rua Larga, data do século XIII. Era
a que, em 1262, o rei Afonso III
designava por via publica que vadit de meo alcaçar ad Portam Solis. Em 1374 é identificada por Rua da Alcáçova que vai para o Castelo. Já
em 1511 aparece-nos como Rua da
Alcáçova. Todavia, na documentação conhecida, só nas décadas depois de consolidada
a instalação definitiva da Universidade de Coimbra (1537), é que este
percurso começa a surgir designado por Rua Larga. Mesmo assim, em 1603, a rua era ainda designada por
expressões como rua que vai das Escolas
Gerais para o Castelo. Como se percebe, era prática normal, desde tempos
medievais, que o nome das ruas reflectisse a sua função, as actividades
económicas aí desenvolvidas, nomes de edifícios importantes como igrejas ou
castelos, ou qualquer outra particularidade. Em Coimbra existem ou existiram
vários exemplos desses: a Rua da Moeda ou a Rua Direita (directa) na Baixa, e
na Alta a Rua dos Lóios ou a Rua dos Estudos. Sendo assim, a Rua
Larga recebeu este nome, pois seria na época a rua mais larga da parte
elevada da cidade. Não é de surpreender, por isso, que haja inúmeras Ruas
Largas em todo o mundo.
Apesar dos primeiros registos
documentais surgirem na Idade Média, presume-se que este eixo tenha origens bem
mais antigas, possivelmente romanas. Assim é essencial perceber como a situação
geográfica, as sucessivas ocupações e os edifícios mais importantes,
contribuíram para o aparecimento deste eixo. O espaço onde se viria a
desenvolver o núcleo da cidade romana Aeminium,
era já habitado antes. Contudo, pouco se sabe sobre esse povoado, que em pouco
se pareceria com uma cidade. A cidade nasceu com os romanos. O lugar escolhido,
uma forma de mamoa gigante, que veio sendo aplanada no topo pela erosão e pelo
Homem possui vertentes vincadas a norte, a oeste e a sul, e um acesso mais
suavizado a leste.
É
precisamente a partir deste ponto, ligando a entrada na cidade à parte oeste do
morro, que pode ter havido um
arruamento correspondente, com alguma diferença à Rua Larga que nos chegou
até ao início dos anos 1940. Na
imagem de Jorge Alarcão pode ver-se os arruamentos da cidade de Aeminium, sendo um deles, mais
ou menos coincidente com a Rua Larga. Segundo este, não será
improvável, que, sendo romano, este alinhamento constituísse um eixo ao longo
do qual se terão disposto algumas das domus
das principais famílias da cidade. Após a ocupação suevo-visigótica, vieram
os muçulmanos, e mais tarde, os cristãos e a fundação da nacionalidade. Na
presença dos dois últimos surgem, então, construções que vão definir com maior
clareza os pontos de amarração da, futuramente, Rua Larga. Durante o domínio
árabe foi construído o Alcácer. Este poderá datar de meados do século VIII,
após a conquista árabe por Abdul Aziz, mas também tem sido atribuída a
sua construção a Almançor, em 994.
A evolução arquitectónica da Alcáçova, com as suas torres circulares e cubelos,
resultava na mais notável expressão de arquitectura militar, porventura de toda
a península Al Andaluz. Esta estrutura, um vasto quadrilátero, com cerca
de 80 metros de lado, cujas bases das torres ainda hoje se observam, possuía a
entrada a oriente, onde hoje se situa a Porta Férrea. Viria depois, a transformar-se
em Paço ou Palácio Real, e mais tarde, na morada da sabedoria». In
Rúben Neves Silva Vilas Boas, A Rua Larga de Coimbra. Das Origens à
Actualidade, Mestrado em Arquitectura, Departamento de Arquitectura da FCTUC,
Coimbra, 2010.
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da UCoimbra/JDACT