«(…) Esta é, aliás, apenas uma
das muitíssimas citações possíveis que bem ilustram a sua relação tão superior
com a História da Filosofia em geral e o seu peso na reflexão e no trabalhos
filosóficos. Dito isto, passemos a um breve enquadramento e apreciação do inédito,
lamentando embora que a ele o autor não tivesse agregado, como seria
necessário, uma Bibliografia para os alunos. Antes de mais, talvez fique
bem evocar, em momento de centenário, quem, antes de 1971 ensinou História da
Filosofia Medieval na Faculdade de Letras. Alves dos Santos em
primeiro lugar (1911-20), seguido naturalmente de Joaquim Carvalho (1920-29);
seguiram-se-lhes Sílvio Lima (1929-35); Jules Chaix-Ruy,
num breve interregno (1935-36); Manuel Trindade
Salgueiro (1936-40); de novo retomada por Joaquim Carvalho (1940-41),
antes de passar para Miranda Barbosa (1941-54), que conta a
partir de 1954-55 com a colaboração de Vítor Matos, nas aulas
práticas, e de Cruz Pontes, a partir de 1957-58 (que assiste nas
aulas práticas até 1960). Vítor Matos retoma a coadjuvação de Miranda Barbosa
em 1963, e em 1964 Joaquim Ferreira Gomes lecciona História da Filosofia Medieval, seguido por Miguel Baptista
Pereira no ano lectivo imediato. Esta actividade será temporariamente
interrompida em 1968, com a
leccionação de José Silva Dias, para ser imediatamente retomada até 1973 ano em que J. Cruz Pontes
passa a reger a cadeira. Como se vê e ficara dito antes, quando escreve o Programa abaixo reproduzido, já
B. Pereira leccionava há muito esta disciplina. Trata-se portanto de um Programa maduro, devidamente cogitado
e criteriosamente gizado. Mas, se tivermos em consideração os mestres que antes
a haviam leccionado, os nomes que se destacam são os de Alves dos Santos,
Joaquim Carvalho, Trindade Salgueiro e Miranda Barbosa. Não podemos,
evidentemente, aqui e agora, confrontar todas estas propostas, aliás provindas
de épocas historiográficas tão diferentes e de professores e pensadores
incomparáveis entre si. Mas mesmo que quiséssemos correlacionar a actividade de
Miranda Barbosa à de Baptista Pereira, haja em vista a confessada dependência
deste último em relação ao mestre, teríamos de notar uma impressão de radical
diferença no discípulo. A observação é nítida se reproduzirmos, por exemplo, os Sumários de História da Filosofia
Medieval das aulas que M. Barbosa rege conjuntamente com a assistência de Vítor
Matos no ano lectivo de 1963-64:
Método e Objecto da História da
Filosofia Medieval
- A. Questões propedêuticas; método e objecto:
- 1. Generalidades. Ordem das questões.
- 2. Dificuldades em relação à História da Filosofia Medieval. Concepções de Filosofia e História da Filosofia. Visões da Idade Média. Dificuldades metódicas.
- B. Objecto da história da filosofia medieval
- 1. Noções fundamentais. Filosofia e História da Filosofia. A História como ciência. A História da Filosofia como ramo da História da Cultura.
- 2. O pensar medieval. Limites da Idade Média. Sentido restrito de Filosofia Medieval: a Escolástica medieval, seus limites cronológicos.
- 3. A Filosofia na Idade Média. Carácter predominantemente teológico da cultura medieval. Existência de filosofias na Idade Média. Actualidade de problemas filosóficos medievais.
- C. Método da história da filosofia medieval
- 1. Método analítico ou monográfico. Heurística e hermenêutica. Organização de edições críticas: genealogia dos manuscritos e reconstituição de textos. Análise histórico-filosófica das doutrinas. Fontes. Ciências auxiliares. Finalidades do método.
- 2. Método comparativo ou sintético. Natureza e finalidades do método. Síntese e análise.
- D. Escolha de programa
- 1. Âmbito das civilizações medievais. As várias culturas na Idade Média. Necessária redução: a Escolástica latina.
- 2. Métodos. Fusão dos métodos analítico e sintético.
- 3. Origens e prolongamentos do pensar medieval. Raízes antigas da Escolástica. Primeiros adaptadores da Filosofia grega ao Cristianismo: a Patrística. Transmissão do saber antigo à Idade Média. Prolongamento moderno da Escolástica: a Nova Escolástica. Os movimentos contemporâneos neo-escolásticos».
In
Mário Santiago Carvalho, Um Inédito de Miguel Baptista Pereira sobre Filosofia
Medieval, Revista Filosófica de Coimbra, nº 39, FLUC, Coimbra, 2011.
Cortesia
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