Outono
sombrio
«A
vida envolta em noite por demais esquecida,
sufocada,
nos
braços nus das ramadas de Outono!
Já
a folha caiu e o verde secou,
Com
ele as flores desfeitas em pétalas vãs
escurecem.
Já
as aves deixaram seus ninhos,
calor,
amor, seu lar.
Sobem
no ar fumos cinzentos
de
casa sem interior.
A
noite baixa.
Alguém
assobia, ao longe, as notas de uma velha canção.
Tão
gasta! Tão velha! Tão fora de moda!
A
vida parou aqui.
Só
a velha estrada esburacada se ilumina…
De
automóveis perdidos,
de
estrelas vermelhas,
que
rumam, loucas, ao infinito».
18 de Janeiro de 1989
Manifestação
«Arde
em fogo a pradaria,
estilhaços,
confusão
e
a Natureza em agonia
revolve-se
na escuridão.
Lá
longe no horizonte,
de
braços nus para o céu,
surgem
uns vultos a monte
reivindicando
o que é seu.
Vultos
nus, desencantados,
e
de vermelho vestidos
protestam
ódios calados,
por
nunca serem ouvidos
não
lhes importa morrer,
nem
ouvir o coração,
se
nem no acto de nascer
tiveram
opinião!
Mas
a vida é uma miragem
que
é preciso viver,
há
quem nos mande morrer,
chamando
isso, coragem!
Mas
manda o poder da força
e
é ele que traça a vida
de
quem antes de nascer
lá
traz a sentença lida.
É
assim o poder do fogo,
como
elemento primeiro
que
reduz toda a floresta
A
um imenso braseiro».
27 de Janeiro de 1989
Poemas de Maria Mar de Carvalho, in ‘Lágrimas de Ametista’
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