«Da
manhã cedinho
eu
salto do ninho e vou p’rá paragem
de
bandolete à espera do 7
mas
não p’la viagem.
Eu
bem que não queria
mas
um certo dia vi-o passar
e
o meu peito céptico
por
um pica de eléctrico voltou a sonhar.
A cada
repique
que
soa do clique d’aquele alicate
num
modo frenético
o
peito céptico toca a rebate.
Se
o trem descarrila
o
povo refila e eu fico num sino
pois
um mero trajecto
no
meu caso concreto é já o destino.
Ninguém
acredita no estado em que fica o meu coração
quando
o 7 me apanha
até
acho que a senha me salta da mão
pois
na carreira desta vida vã
mais
nada me dá a pica que o pica do 7 me dá.
Que
triste fadário que itinerário tão infeliz
cruzar
meu horário com o de um funcionário de um trem da
Carris
se
eu lhe perguntasse se tem livre passe para o peito
de
alguém
vá-se
lá saber talvez eu lhe oblitere o peito também».
Poema
de Miguel Araújo,
in ‘Rua da Emenda’
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