quarta-feira, 6 de maio de 2015

Música. Poesia. António Zambujo. «Um velho deitado na palha molhada, molhada da chuva e ele também molhado, do sumo da uva. Ele não tem mais nada, do que a saudade daquele trem, o pobre velhinho»

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«Da manhã cedinho
eu salto do ninho e vou p’rá paragem
de bandolete à espera do 7
mas não p’la viagem.

Eu bem que não queria
mas um certo dia vi-o passar
e o meu peito céptico
por um pica de eléctrico voltou a sonhar.

A cada repique
que soa do clique d’aquele alicate
num modo frenético
o peito céptico toca a rebate.

Se o trem descarrila
o povo refila e eu fico num sino
pois um mero trajecto
no meu caso concreto é já o destino.

Ninguém acredita no estado em que fica o meu coração
quando o 7 me apanha
até acho que a senha me salta da mão
pois na carreira desta vida vã
mais nada me dá a pica que o pica do 7 me dá.


Que triste fadário que itinerário tão infeliz
cruzar meu horário com o de um funcionário de um trem da
Carris
se eu lhe perguntasse se tem livre passe para o peito
de alguém
vá-se lá saber talvez eu lhe oblitere o peito também».
Poema de Miguel Araújo, in ‘Rua da Emenda

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