Alexandre III
«(…) Então, o bispo de Lisboa, Álvaro, acompanhou também o
cardeal à Galiza e encontrou-se lá com o arcebispo de Compostela; sem dúvida
prestou-lhe então obediência por indicação de Jacinto (no diploma de Jacinto em
Yepes aparecem lado a lado o arcebispo Pedro de Compostela e o bispo Álvaro,
assim se deve emendar o António da impressão, de Lisboa; o facto do bispo
Álvaro ter prestado obediência é abonado por Pott, embora sem indicação de
data). O ponto de viste do cardeal quanto ao bispado de Évora, que ficava longe
do seu caminho e certamente não visitou, não sabemos qual tenha sido, mas em princípio
não pode ter sido diferente do de Lisboa. Aqui manteve-se Jacinto pois apegado
ao ponto de vista jurídico, que abandonara na questão da primazia; o sul de
Portugal, pertencente à antiga Lusitânia, devia pertencer à metrópole leonesa, Compostela.
Tal maneira de proceder parece à primeira vista inconsequente ou mesmo contra
toda a razão, Desde sempre que a divisão eclesiástica devia acompanhar a
divisão política, adaptando-se a ela mais ou menos. Se Portugal era agora
estado independente, e a metrópole portuguesa possuía reconhecidamente os
mesmos direitos que as vizinhas, devia-se esperar também que todas as dioceses
portuguesas fossem adstritas à metrópole portuguesa. Mais impressionante se
torna a situação, se lançarmos um olhar sobre o mapa: Santiago de Compostela,
situado ao Norte de Portugal, ficava separado das dioceses portugueses do Sul
por meio de todo o conjunto da província eclesiástica de Braga. Mas o problema
toma logo outro aspecto, se considerarmos o outro lado da questão: também,
precisamente o coração do reino leonês, toda a Galiza pertencia à província
eclesiástica de Braga, metrópole portuguesa, e de todos os bispados
leoneses, só os três do sul, Salamanca, Ciudad Rodrigo e Coria, pertenciam à
metrópole nacional. Este entrelaçamento, certamente único no género, de duas
províncias eclesiásticas em dois países vizinhos era o resultado dos
acontecimentos sucedidos no tempo de Diogo de Compostela e só assim
compreensíveis; mas, por fim, da necessidade se fez virtude. Do lado da
Cúria continuou naturalmente o esforço de evitar tanto quanto possível litígios
entre os príncipes cristãos que deviam lutar conjuntamente contra o Islão.
Se tal não podia acontecer sob o domínio dum só, era de
tentar consegui-lo pela ligação, tão estreita quanto possível, dos estados em
tudo possuidores de iguais direitos. Uma grande parte de Leão sob a metrópole
portuguesa, uma grande parte de Portugal sob a metrópole leonesa, esta situação
dificultava naturalmente a ambos os reis guerrearem-se mutuamente, sem contudo
agora fazer perigar a independência de Portugal. Alguns anos antes concluíra-se
de facto paz entre ambas as terras, graças à magnanimidade de Fernando de Leão
para com o rei de Portugal aprisionado por ele, paz que na primeira grande
crise, a invasão moura do ano de 1184,
deu bons resultados, levando os dois reis a combaterem juntos contra os
infiéis. Dar forma duradoira a esta paz e além disso sancionar a sobreposição
das duas províncias eclesiásticas, tal deve ter sido a ideia do cardeal Jacinto,
que, no conjunto, provou ser realizável». In Carl Erdmann, O Papado e Portugal no
primeiro século da História Portuguesa, Universidade de Coimbra, Instituto
Alemão da Universidade de Coimbra, Coimbra Editora, 1935.
Cortesia de Separata do BIAlemão/JDACT