[…]
«Se
me dão boa comida,
fico
muito satisfeito,
mas
p'ró manjar ser perfeito,
tem
que haver boa bebida.
Fazem-se
filmes às centenas,
todos
pagos pelo Estado,
dinheiro
ao povo roubado,
que
nunca vê essas cenas.
Pobres
artistas, coitados,
que
vendem a alma ao poder,
não
fazem o que sabem fazer,
são
p'la lama enterrados.
Andamos
cães desolados,
por
os homens chamarem cão,
a
todo aquele que é vilão,
sentem-se
por isso lesados.
Quem
não quer ver a verdade,
viverá
na escuridão,
é,
tal e qual a maldade,
que
no mal só vê razão.
Um
artista sem dinheiro,
tem
a alma hipotecada,
é
melhor não fazer nada,
que
se vender ao banqueiro.
Se
adoçares a tua vida,
e
a dos outros também,
viverás
como ninguém,
tens
tua sina cumprida
Se
regares o teu jardim
com
muita, muita alegria
vai-se
a tristeza, agonia,
serás
mais feliz assim.
O
pai que mostre o caminho
para
o filho caminhar,
mas
se ele não se esforçar,
'Inda
acaba a pão e vinho.
Se
Deus visita o inferno,
vai
o diabo louvar,
quer
ao diabo agradar,
Vê
sol em dia de inverno.
Tanto
imposto que se paga.
Sem
qualquer retribuição,
É
a moderna escravidão,
Pobre
o povo, grande praga.
As
grandes revoluções,
P'la
plebe alimentadas,
Gentes
tão sacrificadas,
P'ra
proveito dos vilões».
[…]
In
Fernando Baralba, Vagas, Pragas e Adagas, Chiado Editora, colecção Prazeres
Poéticos, 2014, ISBN 978-989-511-322-4.
Cortesia
de ChiadoE/JDACT