sexta-feira, 29 de maio de 2015

Vagas. Pragas. Adagas. Fernando Baralba. «O homem deve trazer, um livro sempre consigo, para que à mão possa ter o seu porto de abrigo. Cansado de infeliz ser que começou a pensar se tudo em mim mudar, nada terei a perder»

jdact e wikipedia

[…]
«Se me dão boa comida,
fico muito satisfeito,
mas p'ró manjar ser perfeito,
tem que haver boa bebida.

Fazem-se filmes às centenas,
todos pagos pelo Estado,
dinheiro ao povo roubado,
que nunca vê essas cenas.

Pobres artistas, coitados,
que vendem a alma ao poder,
não fazem o que sabem fazer,
são p'la lama enterrados.

Andamos cães desolados,
por os homens chamarem cão,
a todo aquele que é vilão,
sentem-se por isso lesados.

Quem não quer ver a verdade,
viverá na escuridão,
é, tal e qual a maldade,
que no mal só vê razão.

Um artista sem dinheiro,
tem a alma hipotecada,
é melhor não fazer nada,
que se vender ao banqueiro.


Se adoçares a tua vida,
e a dos outros também,
viverás como ninguém,
tens tua sina cumprida

Se regares o teu jardim
com muita, muita alegria
vai-se a tristeza, agonia,
serás mais feliz assim.

O pai que mostre o caminho
para o filho caminhar,
mas se ele não se esforçar,
'Inda acaba a pão e vinho.

Se Deus visita o inferno,
vai o diabo louvar,
quer ao diabo agradar,
Vê sol em dia de inverno.

Tanto imposto que se paga.
Sem qualquer retribuição,
É a moderna escravidão,
Pobre o povo, grande praga.

As grandes revoluções,
P'la plebe alimentadas,
Gentes tão sacrificadas,
P'ra proveito dos vilões».
[…]

In Fernando Baralba, Vagas, Pragas e Adagas, Chiado Editora, colecção Prazeres Poéticos, 2014, ISBN 978-989-511-322-4.

Cortesia de ChiadoE/JDACT