domingo, 31 de maio de 2015

Bombeiros no 31. Um Olhar sobre as Antigas Viaturas dos Bombeiros Privativos da Fábrica Robinson. Portalegre. Armando Quintas. «O segundo incêndio deu-se a 28 de Novembro, na fábrica pequena; nessa mesma noite, teve lugar uma reunião extraordinária na Câmara Municipal…»

Bomba braçal 
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«Aos Robinson, proprietários da fábrica de cortiça de Portalegre se deve, entre outras iniciativas, a criação de dois corpos de bombeiros na cidade, um deles voluntário e um outro privativo da própria fábrica, sendo a este último, constituído em 1908, que pertenciam as viaturas que ainda hoje permanecem no espaço da antiga fábrica. Estas viaturas, datam do último quartel do século XIX, época na qual em Portugal já tinha tomado consciência da necessidade de um serviço permanente de combate aos fogos, que actuasse na nova realidade urbana marcada por uma maior concentração de pessoas e actividades industriais. Em 1868, surge em Lisboa a primeira Companhia de Bombeiros e, em 1874 é criada a Companhia de Bombeiros do Porto. No Alentejo, a primeira Companhia de Bombeiros foi a de Montemor-o-Novo, criada em 1875, a que se seguiram a de Évora em 1883, a de Beja em 1889 e a de Portalegre em 1898. Em finais de oitocentos existiam no país cerca de 82 corpos de Bombeiros.

A Corporação dos Bombeiros Voluntários de Portalegre
A primeira tentativa de criar a Corporação data de 1887, mas apesar do entusiasmo inicial, estreando-se num fogo com uma bomba de extinção e algum material angariado, nunca se conseguiram institucionalizar. O projecto só seria reanimado após o deflagrar de dois grandes incêndios nas fábricas de George Robinson. O primeiro teve lugar na Fábrica Robinson, a 28 de Julho de 1898, onde o fogo alastrou rapidamente apesar de equipada com os modernos sistemas de válvulas anti-fogo Grinnell. Lavrando numa extensão até meia légua, queimou os olivais próximos e levou à evacuação do quartel de Infantaria 22 situado junto à fábrica, bem como parte desta. Neste incêndio perdeu parte da cortiça armazenada na fábrica, ascendendo os prejuízos a cerca de 30 contos de réis e colocando em risco 600 postos de trabalho, caso não tivesse havido um rápido retorno à laboração. No combate ao fogo, foram utilizadas seis bombas de extinção, pertencendo duas à própria fábrica, duas à Câmara Municipal e outras duas à fábrica Costa & Irmão, tendo sido utilizada a água de todas as fontes da cidade, o que obrigou a cortar o abastecimento público e a recorrer à água de alguns poços particulares. Colaboraram os operários destas fábricas, da empresa Pina Carvalho e Esperança, bem como a guarda-fiscal, soldados de Infantaria 22 e muito povo.
O segundo incêndio deu-se a 28 de Novembro, na fábrica pequena e, apesar de ter mobilizado todos os meios da cidade e centenas de populares, destruiu parte das instalações e causou muitos prejuízos. Nessa mesma noite, perante a situação de destruição, teve lugar uma reunião extraordinária na Câmara Municipal com o objectivo de promover a criação de uma Corporação de Bombeiros, prometendo o seu vice-presidente, João Maria Mourato, uma verba de 500$000 réis para a aquisição do material necessário.
A 4 de Dezembro de 1898 numa nova reunião no Teatro Portalegrense foi aprovada a redacção final dos estatutos da Corporação, recebendo a mesma, a verba prometida, bem como outras doações: 50$000 réis do visconde de Cidrais e os seus serviços como clínico, 4$500 réis da redacção do jornal A Plebe,100$000 réis de Pedro Castro Silveira, 500 réis de Júlio Baptista e 60$000 réis de Francisco Barahona, tendo ainda recebido de George Wheelhouse Robinson, uma bomba e respectivas mangueiras. A corporação recebeu o alvará de funcionamento a 28 de Fevereiro do ano seguinte. George Wheelhouse Robinson foi eleito para a presidência da 1.ª direcção da Corporação, mantendo-se no cargo até 14 de Fevereiro de 1903. Para equipar a Corporação George Wheelhouse Robinson, ofereceu uma bomba de extinção de incêndios, que chegou à cidade em 16 de Agosto de 1899 vinda directamente de Inglaterra em Março de 1900 cedeu parte da Fábrica Real para os bombeiros ai instalarem a direcção, a secretaria e uma casa escola, ajudando ainda na aquisição do fardamento». In Armando Quintas, Um Olhar sobre as Antigas Viaturas dos Bombeiros Privativos da Fábrica Robinson, Portalegre, Publicações da Fundação Robinson, Portalegre, nº 28, p.22-33, 2014, ISSN 1646-7116.

Cortesia da FRobinson/JDACT