terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Batalha de Las Navas de Tolosa. 1212. 16 de Julho. João Paulo Oliveira Costa. «Centralizar, resistir ao vizinho peninsular e avançar contra o vizinho muçulmano constituiu afinal uma matriz secular da monarquia portuguesa»

jdact

«A afirmação de Portugal como reino independente foi um processo complexo, marcado por duas dinâmicas político-militares complementares, que já referi noutros episódios, a rivalidade entre as monarquias cristãs e a guerra contra os mouros. Portugal impusera-se no momento em que o islão peninsular fraquejava, no ocaso dos Almorávidas, e sobrevivera ao grande assalto almóada, embora tivesse perdido todas as conquistas a sul do Tejo, salvo Évora. Ao mesmo tempo, mantivera uma relação tensa com o reino vizinho de Leão, marcada por casamentos anulados e por alianças entre os leoneses e os mouros. Aliás, a primeira bula de cruzada concedida ao reino de Portugal destinara-se a legitimar a guerra contra Leão, por este reino se ter aliado aos Almóadas. A subida ao trono de Afonso II, em 1211, foi marcada pelo estalar de um conflito entre o rei e os seus irmãos e irmãs, o que atraiu os leoneses para a guerra civil portuguesa.
Entretanto, na Páscoa de 1272, três reis encontraram-se em Toledo: Afonso VIII de Castela, Pedro II de Aragão e Sancho VII de Navarra. Congregaram as suas hostes e as das ordens militares e terão recebido ainda um reforço de peões e cavaleiros enviados por Afonso II de Portugal. O grande exército avançou para sul e derrotou o inimigo em Las Navas, há oitocentos anos. Afonso VIII vingava a derrota sofrida na Batalha de Alarcos, em 1195, e os Almóadas ficavam feridos de morte; deixavam de ser uma verdadeira ameaça para a cristandade peninsular, mas continuavam fortes nos seus bastiões, pelo que a marcha dos cristãos para sul só ganhou um novo fôlego no final dos anos 20. Entretanto, no momento em que o grande exército cristão enfrentava os sarracenos, as forças de Afonso IX de Leão invadiam Portugal e Afonso II recolhia-se ao Norte do país, mas sairia vencedor do conflito, beneficiando do apoio do rei de Castela. Nesse ano crucial, el-rei Afonso II ganhou em todos os tabuleiros do complexo xadrez hispânico, pois beneficiou do triunfo do sogro castelhano e do primo aragonês em Las Navas que tornou a fronteira meridional mais segura, logrou resistir à investida do primo leonês e impôs-se aos seus irmãos dentro do reino. Centralizar, resistir ao vizinho peninsular e avançar contra o vizinho muçulmano constituiu afinal uma matriz secular da monarquia portuguesa». In João Paulo Oliveira Costa, Episódios da Monarquia Portuguesa, Círculo de Leitores, Temas e Debates, 2013, ISBN 978-989-644-248-4.

Cortesia de CL/TDebates/JDACT