Indiculum
Fundationis Monasterii Beati Vincentii Vlixbone
«A contagem dos anos de reinado, ao subentender o início do
reinado de Afonso Henriques em 1129 (=1147-18),
difere das outras fontes. Se tomarmos 1128,
como é mais usual, a mesma contagem daria 19 anos, como acontece aliás no De
expugnatione Scallabis. Do texto se retira o ano de nascimento em 1107 (=1147-40), mas possível
de harmonizar para 1106, se o
nascimento foi posterior ao mês de Junho. Na parte final do texto, uma outra
referência dá-nos a indicação da data em que este documento foi escrito: …,
durante a governação do rei Sancho, filho do referido rei Afonso, governação
essa que leva já três anos decorridos no ano da Encarnação do senhor de 1188. Como
se vê, o texto tem data de composição certa em 1188, embora o testemunho manuscrito que possuímos seja cópia dos
inícios do século XIII (A. Nascimento, 2001, considera que a não referência
no texto a aspectos como o da disputa das relíquias de S. Vicente, levam a
pensar que a sua redacção primitiva possa ser anterior a esse episódio que data
de 1173).
A referência a Sancho, que também aparece no Translatio et Miracula S.
Vincentii induz a que pelo menos a parte final do Indiculum tenha
sido influenciada por aquele texto, como possivelmente também aconteceu no que
respeita à idade de Afonso Henriques.
Martirológio da Sé de
Lisboa
Refere ainda o ano de 1106
um martirológio da Sé de Lisboa, citado por José Barbosa, aonde, a seis de
Dezembro, se lê na margem estas formaes palavras, de que dou a copia com
a sua mesma orthographia: Eodem die sub era 1222. Obijt illustrissimus Rex Portugallensium doñus Alfonsus año
vitæ suæ septuagesimo octavo. Regni vero ejus quinquagesimo sexto. Qui inter
plurima militiæ suæ gesta Civitatem hanc à potestate Sarracenorum eripuit.
& operis hujus Ecclesiæ ad honorem Dei, ac memoriam beatæ Virginis regali
munificentia extitit fundator, & factor. Continua o mesmo
autor: Dizem em Vulgar. No mesmo dia na era de 1222. morreo o Illustrissimo Rey dos Portuguezes D. Affonso aos 78. annos da sua idade, e aos 56. do seu reinado. O qual entre as
muitas acções da sua vida, ganhou aos Mouros esta Cidade, e para honra de Deos,
e em memoria da Virgem Maria fundou, e fez com Real magnificencia a obra desta
Igreja A Era de 1222
corresponde ao ano do nascimento de Cristo de 1184, pelo que subtraindo 78 anos, remeteria o nascimento
para 1106, em sintonia com a Vita
Theotonii e as fontes do Mosteiro de São Vicente e da Sé de Lisboa.
Note-se contudo a deficiência de um ano na indicação da data da morte do rei
Afonso Henriques, pois esta só ocorreu em 1185.
Apesar disso, constata-se a coerência interna dos dados cronológicos
apresentados, sendo correcta a contagem do número de anos de reinado, desde 1128
até 1184.
Apesar do empenho que colocámos na busca do martirológio, e do
apoio dado por vários especialistas de que nos socorremos, não o encontramos, o
que nos levou a atribuir a sua perda ao terramoto de Lisboa de 1755. Como também não conseguimos
encontrar mais nenhuma referência a este martirológio, hesitamos em inclui-lo
neste trabalho. Todavia, para além das conclusões que se poderão retirar numa
futura análise crítica do texto citado, as referências que lhe são feitas por
José Barbosa, de que se trata de um manuscrito antiquíssimo e a
importância que atribui à fonte ao sublinhar de que [dele] se naõ
lembrou frei António Brandão, permite-nos intuir alguma ancianidade.
Acabamos assim por decidir inclui-lo para memória futura.
A tradição associada
ao ano de 1110. De expugnatione Scallabis
O De expugnatione Scallabis é um texto de
celebração da tomada de Santarém aos mouros, em que o narrador se reveste da
personagem de Afonso Henriques para conduzir a narrativa na primeira pessoa.
Recentemente, Aires Nascimento apresentou uma nova edição crítica deste
documento com o título que detinha anteriormente este manuscrito medieval Quomodo
sit capta Sanctaren a rege Alfonso comitis Henrici filio. A sequência
dos momentos da acção da conquista de Santarém dá-nos um relato de pormenor que
parece transmitir o testemunho de alguém que acompanhou ou refez todo o
percurso da acção. Aires Nascimento considera assim que terá sido escrito por
algum membro do séquito que participou no ataque, ou por alguém que recolheu
impressões de um testemunho directo. Chama ainda à colação um trabalho de
Armando de Sousa Pereira onde se admite que represente a memória de um
companheiro do rei que depois tenha professado no Mosteiro de Santa Cruz». In
Abel Estefânio, A Data de Nascimento de Afonso I, Medievalista, nº 8, 2010, Instituto de Estudos Medievais, direcção
de José Mattoso, ISSN 1646-740X.
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