Dona Maria Francisca Benedita (25 de Julho de 1746 – 18 de Agosto de
1829)
«(…) Durante este largo prazo os rendimentos da princesa, assim como os de
toda a família real, haviam diminuído consideravelmente por causa dos
franceses. Dona Maria I havia consignado a sua irmã uma pensão anual de 100.000
cruzados, que não fora paga desde a partida para o Brasil. As cortes, porém, de
1822 lha restituíram. Além disso os
desperdícios e as despesas excessivas nas obras do asilo de Runa, obrigaram
a princesa a suspender as obras e satisfazer todas as dívidas que, segundo as
contas que lhe apresentavam, pesavam sobre ela. Os trabalhos prosseguiram
afinal com toda a actividade, e o asilo inaugurou-se a 25 de Julho de 1827, dia em que a bondosa princesa
completava 81 anos. Chegaram até nós vários testemunhos desse dia, que dão
conta do programa das festas. Depois de uma parte religiosa celebrada com
grande solenidade, foi a própria princesa quem serviu a primeira refeição aos
16 veteranos militares que ali deram entrada naquele dia. As palavras que então
lhes dirigiu estão gravadas em letras douradas no átrio central do edifício:
Estimo ter podido concluir o hospital
que mandei construir para descansardes dos vossos honrosos trabalhos; em
recompensa, só vos peço a paz e o temor a Deus.
Foram 16 os militares inválidos que se albergaram: 1 primeiro-tenente de
artilharia, 3 sargentos e 12 cabos, anspeçadas e soldados. A fundadora presidiu
a todas as cerimónias da inauguração, a que assistiram muitas pessoas da corte
e das vizinhanças. Ela própria, com a maior benevolência, serviu os primeiros
pratos aos asilados, sendo o resto servido pelo seu mordomo-mor, o marquês de
Lavradio, e pelos criados da Casa Real. O edifício, e a majestosa capela, com
os seus ornamentos e alfaias, importaram em 600.000$000 réis. A princesa
reservou uma parte do edifício para sua habitação. Dona Maria Francisca Benedita
sobreviveu apenas dois anos à inauguração do asilo, não chegando a ver completo
o zimbório da igreja. Enquanto duraram as obras a princesa ia frequentes vezes
a Runa, dirigindo e activando os trabalhos, recebendo ali a visita de João
VI, numa ocasião em que o monarca regressava das Caldas da Rainha. Convivia com
as pessoas que moravam nas vizinhanças do asilo, dando largas esmolas aos
pobres que a ela recorriam. A princesa conservou-se sempre estranha às intrigas
e conspirações que agitavam o paço e a corte, durante a regência e reinado de João
VI. Em 1829 preparava-se a viver
alguns meses em Runa, quando adoeceu gravemente, falecendo pouco tempo
depois. Fez testamento deixando ao hospital dos inválidos de Runa quase
todos os bens de raiz e acções que possua, bem como tudo quanto estava dentro
do edifício e capela, incluindo a bela e riquíssima custódia, um primor
artístico, que ela mandara fazer por um desenho seu. O resto da herança foi
distribuído em legados pios e por todas as pessoas da família real, sendo a
mais contemplada a infanta dona Isabel Maria, como regente que era na época em
que fora feito o testamento. Em virtude dos legados recebidos da princesa ficou
o asilo
de Runa com um rendimento de perto de 9.000$000 réis, provenientes dos
seguintes valores: comenda de S. Tiago de Beduído; apólice de 26.000$000 réis
com juro de 5% ao ano; título da dívida pública de 14.999$960 réis; duas acções
da Companhia das Vinhas do Alto Douro no valor de 800$000 réis; as quintas de
Runa, Enxara do Bispo e da Amora com seus anexos. A legislação liberal que
suprimiu os rendimentos das comendas, e o não pagamento dos juros da chamada
divida mansa, afectaram consideravelmente a receita do asilo. O infante Miguel
havia confirmado o testamento, fazendo passar a administração das rendas para
um conselho administrativo, ficando todo o estabelecimento sob a intendência do
ministério da guerra, em cumprimento da vontade da doadora.
Alguns anos depois do seu falecimento, com a extinção das comendas e dos
dízimos, o Real Hospital de Veteranos passou a defrontar muitas dificuldades
de financiamento. Alexandre Herculano, num artigo publicado em 15 de
Setembro de 1838 na revista O Panorama, denunciou
vigorosamente esse facto: … dentro em pouco os inválidos que lá existem
terão de ir mendigar o pão, que a pátria tem obrigação de lhes dar, havendo
eles ganho o direito a recebê-lo com o seu sangue, e com os perigos e fadigas
da guerra, que só sabem avaliar aqueles que os têm passado. O encargo deste
estabelecimento está actualmente sob a jurisdição do Ministério da Defesa Nacional,
através do Instituto de Acção Social das Forças Armadas. Quando visitar o CAS
Runa, será ecebido por um corpo de algumas dezenas de funcionários militares e
civis que garantem os seguintes serviços: lar residencial, centro de repouso,
centro de recuperação, alojamento temporário. O Boletim Ecos da Princesa, é uma
publicação bimensal do CAS Runa com a participação dos residentes. É um espaço
de divulgação de memórias dos residentes e informação das vivências do
dia-a-dia». In Wikipédia, transcrito por Manuel Amaral, IASFA.
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