segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Edifício do Asilo de Inválidos Militares. Runa (Torres Vedras). «Alexandre Herculano, num artigo publicado em 15 de Setembro de 1838 na revista O Panorama, denunciou: … dentro em pouco os inválidos que lá existem terão de ir mendigar o pão, que a pátria tem obrigação de lhes dar…»


Cortesia de wikipedia

Dona Maria Francisca Benedita (25 de Julho de 1746 – 18 de Agosto de 1829)
«(…) Durante este largo prazo os rendimentos da princesa, assim como os de toda a família real, haviam diminuído consideravelmente por causa dos franceses. Dona Maria I havia consignado a sua irmã uma pensão anual de 100.000 cruzados, que não fora paga desde a partida para o Brasil. As cortes, porém, de 1822 lha restituíram. Além disso os desperdícios e as despesas excessivas nas obras do asilo de Runa, obrigaram a princesa a suspender as obras e satisfazer todas as dívidas que, segundo as contas que lhe apresentavam, pesavam sobre ela. Os trabalhos prosseguiram afinal com toda a actividade, e o asilo inaugurou-se a 25 de Julho de 1827, dia em que a bondosa princesa completava 81 anos. Chegaram até nós vários testemunhos desse dia, que dão conta do programa das festas. Depois de uma parte religiosa celebrada com grande solenidade, foi a própria princesa quem serviu a primeira refeição aos 16 veteranos militares que ali deram entrada naquele dia. As palavras que então lhes dirigiu estão gravadas em letras douradas no átrio central do edifício: Estimo ter podido concluir o hospital que mandei construir para descansardes dos vossos honrosos trabalhos; em recompensa, só vos peço a paz e o temor a Deus.
Foram 16 os militares inválidos que se albergaram: 1 primeiro-tenente de artilharia, 3 sargentos e 12 cabos, anspeçadas e soldados. A fundadora presidiu a todas as cerimónias da inauguração, a que assistiram muitas pessoas da corte e das vizinhanças. Ela própria, com a maior benevolência, serviu os primeiros pratos aos asilados, sendo o resto servido pelo seu mordomo-mor, o marquês de Lavradio, e pelos criados da Casa Real. O edifício, e a majestosa capela, com os seus ornamentos e alfaias, importaram em 600.000$000 réis. A princesa reservou uma parte do edifício para sua habitação. Dona Maria Francisca Benedita sobreviveu apenas dois anos à inauguração do asilo, não chegando a ver completo o zimbório da igreja. Enquanto duraram as obras a princesa ia frequentes vezes a Runa, dirigindo e activando os trabalhos, recebendo ali a visita de João VI, numa ocasião em que o monarca regressava das Caldas da Rainha. Convivia com as pessoas que moravam nas vizinhanças do asilo, dando largas esmolas aos pobres que a ela recorriam. A princesa conservou-se sempre estranha às intrigas e conspirações que agitavam o paço e a corte, durante a regência e reinado de João VI. Em 1829 preparava-se a viver alguns meses em Runa, quando adoeceu gravemente, falecendo pouco tempo depois. Fez testamento deixando ao hospital dos inválidos de Runa quase todos os bens de raiz e acções que possua, bem como tudo quanto estava dentro do edifício e capela, incluindo a bela e riquíssima custódia, um primor artístico, que ela mandara fazer por um desenho seu. O resto da herança foi distribuído em legados pios e por todas as pessoas da família real, sendo a mais contemplada a infanta dona Isabel Maria, como regente que era na época em que fora feito o testamento. Em virtude dos legados recebidos da princesa ficou o asilo de Runa com um rendimento de perto de 9.000$000 réis, provenientes dos seguintes valores: comenda de S. Tiago de Beduído; apólice de 26.000$000 réis com juro de 5% ao ano; título da dívida pública de 14.999$960 réis; duas acções da Companhia das Vinhas do Alto Douro no valor de 800$000 réis; as quintas de Runa, Enxara do Bispo e da Amora com seus anexos. A legislação liberal que suprimiu os rendimentos das comendas, e o não pagamento dos juros da chamada divida mansa, afectaram consideravelmente a receita do asilo. O infante Miguel havia confirmado o testamento, fazendo passar a administração das rendas para um conselho administrativo, ficando todo o estabelecimento sob a intendência do ministério da guerra, em cumprimento da vontade da doadora.
Alguns anos depois do seu falecimento, com a extinção das comendas e dos dízimos, o Real Hospital de Veteranos passou a defrontar muitas dificuldades de financiamento. Alexandre Herculano, num artigo publicado em 15 de Setembro de 1838 na revista O Panorama, denunciou vigorosamente esse facto: … dentro em pouco os inválidos que lá existem terão de ir mendigar o pão, que a pátria tem obrigação de lhes dar, havendo eles ganho o direito a recebê-lo com o seu sangue, e com os perigos e fadigas da guerra, que só sabem avaliar aqueles que os têm passado. O encargo deste estabelecimento está actualmente sob a jurisdição do Ministério da Defesa Nacional, através do Instituto de Acção Social das Forças Armadas. Quando visitar o CAS Runa, será ecebido por um corpo de algumas dezenas de funcionários militares e civis que garantem os seguintes serviços: lar residencial, centro de repouso, centro de recuperação, alojamento temporário. O Boletim Ecos da Princesa, é uma publicação bimensal do CAS Runa com a participação dos residentes. É um espaço de divulgação de memórias dos residentes e informação das vivências do dia-a-dia». In Wikipédia, transcrito por Manuel Amaral, IASFA.

Cortesia de IASFA/JDACT