«(…) De Diogo de Teive, que
também esteve preso, como Buchanan, perdeu-se a tragédia que foi representada
nesses anos, intitulada Judith, mas chegou até nós outra que escreveu
depois de 1554, a Tragoedia Ioannes
Princeps, sobre a morte do príncipe herdeiro, pai do futuro rei Sebastião I.
Mais tarde, quando o Colégio das Artes passou para as mãos dos jesuítas, depois
de 1555, a tradição das
representações dramáticas continuou. Por Coimbra se demorou mesmo um dos
maiores dramaturgos da Ordem, Miguel Venegas, que viria a ser licenciado, como
então se dizia, isto é, expulso da Companhia de Jesus. E sabe-se que em 1570, o rei Sebastião I assistiu
durante horas à representação do Sedecias do padre Luís Cruz. Também o
uso das máscaras nos cortejos universitários está documentado em legislação do
tempo de João III que as proibiu. Regressemos, porém, às glórias da vida
universitária local, segundo o Conimbricae Encomium de Inácio Morais.
O poeta trata seguidamente dos
concursos para as vagas de professor, as chamadas oposições. Aos candidatos dava-se o nome de opositores. Sirvo-me, de novo, da tradução que publiquei no artigo
já referido: … e não menos exulta
[Coimbra], quando alguém, em formosa competição de talento, alcança com a
vitória os prémios, e sufrágios em maior número lhe atribuem a cátedra para
que, a seguir, muito transmita sabiamente aos alunos. A multidão dos seus
partidários, com um rumor aprovativo, dobra os aplausos e grita de alegria;
proclama-o vencedor e aponta-o ao povo, por onde passa, e ergue-o aos ombros e
senta-o na cátedra. Ao invés, o vencido em vão suspira, está desconsolado, tem
os olhos fixos em terra. Rodeiam-no os companheiros e ao triste dizem palavras
de consolação e exortam-no a que suavize as tristezas com uma esperança melhor.
Podemos dizer que esta é ainda a
face luminosa da medalha. O reverso, porém, cobre-se de sombras espessas de
cepticismo em face da natureza humana. Na verdade, estas oposições eram a
ocasião das maiores arbitrariedades e injustiças, e até de autênticas infâmias.
Os grandes mestres, convidados por João III com esplêndidos ordenados, como
Martin Azpilcueta ou Fábio Arcas, viam-se providos nas cátedras sem oposição. Também não havia oposição, quando o candidato era único e
aceite pelo Conselho. Ao passo que nos lugares ocupados por concurso entre
vários ficavam os candidatos sujeitos aos votos dos ouvintes que durante um
certo tempo assistiam às suas lições e depois votavam. Nem sempre, venciam os
melhores. E havia na juventude, entre os estudantes, uma tendência para votar nos
que estavam mais perto de si, pela idade, pela nacionalidade, por várias outras
razões que não tinham que ver com a competência. Em Salamanca, onde o sistema
era idêntico, professores distintos como Antonio Nebrija ou o português Aires
Barbosa foram preteridos, nestas votações, por concorrentes muito inferiores.
Contemos brevemente o caso do
nosso compatriota, a quem até o facto de ser português deve ter prejudicado.
Penso que esta era uma das razões da má vontade que um outro grande humanista,
André Resende, guardou toda a vida a nuestros
hermanos. E se Manuel Costa e Aires Pinhel tiveram êxito, em 1561, é preciso não esquecer que eram
filhos da escola salmantina. Voltando ao caso típico de Aires Barbosa. Ele foi,
como é sabido, o introdutor do Grego
na Península Ibérica, ao ensinar na Universidade de Salamanca, a partir de 1495, a língua helénica que aprendera
em Itália. O Grego era, porém, uma
catedrilha não obrigatória e menos rendosa que a de Gramática Latina. Em
Coimbra, nos meados do séc. XVI, as duas primeiras classes de Latinidade eram
pagas a 100 000 réis por ano e o Grego a 50 000. Mas voltando a Salamanca.
Tendo vagado a cadeira de Gramática, Aires Barbosa apresentou-se a concurso com
um outro candidato que de modo algum podia comparar-se-lhe. Era, porém, Pedro
Espinosa, o rival, castelhano e mais jovem. O prestigioso mestre Grego, como lhe chamavam, foi
batido». In Américo Costa Ramalho, Alguns aspectos da vida universitária em
Coimbra nos meados do século XVI (1548-1554), Revista Humanitas, volume
XXXVII-XXXVIII, 1985-1986, Universidade de Coimbra.
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