«As pessoas que são loucas o suficiente
para achar que podem mudar o mundo são aquelas que o mudam». In
Pense diferente, Apple, 1997
Infância.
Abandonado e escolhido. A adopção
«(…) Seu pai possuía refinarias
de petróleo e muitas outras empresas, com grandes propriedades em Damasco e
Homs, e a certa altura chegou a controlar o preço do trigo na região. Tal como
a família Schieble, os Jandali valorizavam a educação; durante gerações, os membros
da família foram mandados a Istambul ou à Sorbonne para estudar. Abdulfattah
Jandali, embora muçulmano, foi enviado para um internato jesuíta e fez a graduação
na Universidade Americana, em Beirute, antes de ir para a Universidade de
Wisconsin como estudante de pós-graduação e assistente de ensino de ciência política.
No verão de 1954, Joanne foi com Abdulfattah
para a Síria. Passaram dois meses em Homs, onde ela aprendeu com a família dele
a fazer pratos sírios. Quando voltaram para Wisconsin, ela descobriu que estava
grávida. Tinham ambos 23 anos, mas decidiram não se casar. O pai dela estava muito
doente na época, e havia ameaçado deserdá-la se ela se casasse com Abdulfattah.
Tampouco o aborto era uma opção fácil numa pequena comunidade católica. Assim,
no início de 1955, Joanne viajou
para San Francisco, onde ficou sob a protecção de um médico bondoso que
abrigava mães solteiras, fazia o parto de seus bebés e cuidava discretamente de
adopções sigilosas. Joanne fez uma exigência: seu filho deveria ser adoptado
por pessoas com estudos universitários Então o médico providenciou para que o
bebê fosse adoptado por um advogado e esposa. Mas quando o menino nasceu, em 24
de Fevereiro de 1955, o casal
designado decidiu que queria uma menina e recuou. Assim, o menino tornou-se
filho, não de um advogado, mas de um mau aluno da escola secundária e com paixão
por mecânica e da sua carinhosa esposa, que trabalhava então como
guarda-livros. Paul e Clara deram ao recém-chegado bebé o nome de Steven
Paul Jobs.
No entanto, ainda havia a questão
da exigência de Joanne de que os novos pais de seu filho tivessem estudos
universitários: quando descobriu que ele fora adoptado por um casal que não
tinha sequer completado os estudos básicos do secundário, ela recusou-se a
assinar os papéis da adopção. O impasse durou semanas, mesmo depois que o bebé
Steve já estar a viver na casa dos Jobs. Por fim, Joanne cedeu, mas, estipulou
que o casal prometesse, na verdade, eles assinaram um compromisso, que iria criar
poupanças e enviar o menino para a faculdade. Havia outra razão para que Joanne
fosse recalcitrante quanto a assinar os papéis da adopção. O pai estava prestes
a morrer e ela planeava casar-se com Jandali logo depois da sua morte. Ela mantinha
a esperança, como contaria mais tarde a membros da família, às vezes com lágrimas
nos olhos, ao lembrar, de que, depois que estivessem casados, ela poderia recuperar
o seu bebé.
Com efeito, Arthur Schieble
morreu em Agosto de 1955, poucas semanas
após a adopção ser oficializada. Logo depois do Natal daquele ano, Joanne e
Abdulfattah Jandali casaram-se na igreja católica de São Filipe, o Apóstolo, em
Green Bay. Ele obteve o seu doutoramento em política internacional no ano
seguinte, e mais tarde tiveram outra criança, uma menina chamada Mona.
Depois, ela e Jandali divorciaram-se em 1962,
e Joanne deu início a uma vida fantasiosa e peripatética, que sua filha, que se
tornaria a grande romancista Mona Simpson, captaria em seu pungente romance Anywhere
but here (Em qualquer lugar, menos aqui).
Mas, tendo em conta que a adopção de Steve havia sido
particular e sigilosa, demoraria vinte anos para que eles todos se encontrassem.
Steve
Jobs
soube desde cedo que havia sido adoptado: Meus
pais eram muito abertos comigo em relação a isso. Ele tinha uma memória vívida
de estar sentado no relvado de sua casa, quando tinha seis ou sete anos, e
contar esse facto a uma menina que morava do outro lado da rua. Então isso significa que os teus pais
verdadeiros não te queriam, a menina perguntou. Ooooh! Relâmpagos explodiram na minha cabeça, segundo Jobs. Lembro-me de correr para casa, chorando.
E meus pais disseram: Não, tu tens de
entender. Estavam muito sérios e olharam-me directamente nos olhos. Eles
disseram: Nós escolhemos-te. Ambos disseram isso e repetiram devagar para mim.
E puseram ênfase em cada palavra daquela frase». In Walter Isaacson, Steve Jobs
(Edição 1), tradução de Berilo Vargas, Denise Bottmann, Pedro Soares, Editora Companhia
das Letras, Wikipedia, iOS Books, LegiLibro, 2011, ISBN 978-853-591-971-4.
Cortesia
ECdasLetras/JDACT