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«(…) O embaixador defende a identidade cristã, olhando para
os missionários como pessoas úteis à causa social chinesa. À lógica contestação
do governo chinês que tenta perceber as razões pelas quais se seguia a Vossa Magestade de mandar Homens a China a emsinar a Ley da
Europa Alexandre Sousa Meneses responde simplesmente que um dos principais
preceitos da lei de Cristo era amaremse os Homens huns aos outros, e ajudarem-se
resiprocamente e que em nenhuma couza se podia exersitar tanto esta caridade
como ensinando aos Homens a viver com fellicidade. Mas as demoradas conversas
com os grandes mandarins sobre este assunto não parecem derrubar o muro da
incompreensão: o Imperador me dizia que não nesesitava no seu Imperio da Ley da
Europa, nem os Mesionarios lhe ensinavão couza que na China se não soubesse. Com
a mesma capacidade diplomática, e talvez encontrando idênticas dificuldades, o
embaixador português trata a importância da sobrevivência daquela parcela de
mundo macaense e a expansão dos portugueses na terra asiática.
Para este assunto Alexandre Sousa Meneses, na presença do imperador,
não fala directamente em favor do mercado macaense, mas apresenta o tema como
uma vantagem para os chineses: a defesa dos portugueses contra os holandeses. O
embaixador, de facto, não protege frontalmente as frotas mercantis de Macau:
ele dá a conhecer ao imperador as atitudes antichinesas dos maiores adversários
portugueses, os holandeses, defendendo os interesses da Coroa e denegrindo aos
olhos de Yongzheng as atitudes morais deles: e porque sendome presizo aribar a
Betavia, terra de Olandezes, ali vira ser a maior parte daquella povação de
Homens da China muitos dos coais se conservavão do tempo que os Olandezes
tiverão Ilha Fremosa, uzando dos seus antigos trages, e deyxando crescer o cabelo,
e que o mesmo praticavão a maior parte dos chinas, que todos os annos navegavão
para Betavia, encoanto estavão naquella Cidade vivendo ali contra os estillos,
e leis da China, e que coando se querião recolher ao Imperio, tornavão a cortar
o seu cabello, e conseryavão correspondensia com os Chinas de Betavia, aonde
tinhão parentes, e amigos e que isto não sabia o Imperador pois não premetiria
estas correspondensias externas, contra as leis de Imperio; e menos se soubese
a grande forsa com que os Olandezes pretendião atrair a si os Chinas.
A estas considerações Metelo acrescenta um outro elemento
escandaloso para o imperador, que era o de ser a Holanda um território que se
achava sem Rey, couza que muito abominarão as doctrinas dos Reinos da China, e
avisa Yongzheng das relações que correm entre os holandeses e o governo
moscovita, cujo representante diplomático tinha precedido o mesmo embaixador
português: que tinhão estreita amizade com os Moscoviras, e que o Zar defunto
marido da Imperatriz, então Reynante coando andou vendo varias cortes da Europa
se demorou em Olanda com gosto, e com estreita união com os Olandezes, e dispois
contraiu com elles serto parentesco espiritual, que os Cristãos contrae na
ocazião em que Batizão os filhos. Diselhe tambem que heu não sabia com que fim
o Embaxador de Moscovia pretendia comersio por mar com a China porque os
olandezes lhe podiam dar as mesma conveniencias sem os navios de Moscovia virem
a China, porque dentro de Betavia se achavão as fazendas da China, pelos mesmos
presos que tinhão dentro do Imperio, aonde avião de pagar direitos de saida.
Mas, perante estas apaixonadas motivações, os mandarins
ficam impassíveis, como se através das palavras percebessem outras finalidades.
E a atirude imperial para com o pedido de protecção dos portugueses sintetiza-se
nas seguintes palavras: a minha primeyra attenção foy imitar a meo Pay no seu
modo de governo com tudo e principalmente na affeyção que teve aos esrrangeyros,
o vos mesmo (falando para o reverendo padre Parrenin) o sabeis. Em relação ao
quadro económico, Yongzheng mostra-se aparentemente disponível: no mesmo
relatório do secretário de Metelo, o monarca chinês afirma: aqui vos deixo em
Pekim, e em Cantão para o commercio, e correspondencia com os Reys da Europa. Contudo,
ele declara que não privilegiará particularmente as suas relações com os
portugueses: demais todos sabem que eu no bom trato não faço distinção de estrangeyros,
e ao mestiços». In Mariagrazia Russo, Embaixada de D. João V de Portugal ao Imperador
Yongheng, da China, 1725-1728, Fundação Oriente, 2005, António V. Saldanha,
2005, ISBN 972-785-083-9.
Cortesia de F. Oriente/JDACT