quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Os Cavaleiros da Cruz Vermelha. Ademir L. Silva. «Provavelmente Hugo e os primeiros oito eram idealistas, devotos da mística da cruzada. Mas em seguida agirão como cadetes em busca de aventuras. O novo reino de Jerusalém é um pouco a Califórnia daqueles tempos, pode-se fazer fortuna»

Cortesia de wikipedia

Resumo
«O objectivo deste trabalho é analisar o papel desempenhado pela Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo do Templo de Salomão, ou simplesmente os Templários, na Reconquista e no processo de expansão urbana portuguesa, ocorrido ao longo dos séculos XII e XIII. O Templo foi uma confraria monástica / militar, fundada em Jerusalém no rastro do êxito da Primeira Grande Cruzada. Tinha como função primordial proteger os peregrinos cristãos de ataques muçulmanos ao longo do perigoso caminho para o Santo Sepulcro e outros lugares com simbologia mística cristã, na chamada Terra Santa. A Ordem dos Templários prosperou rapidamente e, com o apadrinhamento e orientação intelectual do célebre abade cisterciense Bernardo de Claraval, logo espalhou-se por toda a Europa, assumindo importantes papeis na história política, religiosa e económica do medievo. Foram fundamentais, por exemplo, nas guerras de Reconquista da Península Ibérica. No então nascente reino português, os Templários assumiram a cabeça da defesa da capital afonsina, Coimbra, e foram os principais protectores da linha do rio Tejo, então fronteira portucalense natural com os domínios muçulmanos. Em pagamento por estes serviços militares a Ordem recebeu, em doações régias, o controle sobre vastas regiões, nas quais ergueram fortificações que serviram como base para a fundação de inúmeros núcleos urbanos. Povoados que viviam literalmente sob a sombra dos muros dos castelos templários, ao mesmo tempo em que serviam como principal fonte de sustento material e portanto sustento institucional para a confraria».

«E o amigo o que faz?, me havia perguntado, agora o sei, com simpatia. Na vida ou no teatro?, disse, acenando para o palco do Pílades. Na vida. Estudo. Frequenta a universidade ou estuda? Não lhe parecerá verdade mas as duas coisas não se contradizem. Estou terminando uma tese sobre os Templários. Que coisa horrível, disse. Isso não é coisa de doidos? Provavelmente Hugo e os primeiros oito eram idealistas, devotos da mística da cruzada. Mas em seguida agirão como cadetes em busca de aventuras. O novo reino de Jerusalém é um pouco a Califórnia daqueles tempos, pode-se fazer fortuna». In Umberto Eco

O signo da peregrinação
A Ordem dos Templários, ou simplesmente o Templo, ou ainda, como se designava nos seus documentos oficiais, Frates militiae Templi ou Pauperes commilitones Christi Templique Salomonis, Irmãos Guerreiros do Templo e Pobres Cavaleiros de Cristo do Templo de Salomão, confraria monástico / militar criada em meados do século XII, na chamada Terra Santa, para proteger pelas armas os peregrinos que percorriam a rota rumo ao Santo Sepulcro de Jerusalém, foi um subproduto da febre das cruzadas. As diversas expedições militares ao Próximo Oriente organizadas pela cristandade europeia entre 1096 e 1270, representaram o ponto culminante de uma vasta rede de relações históricas abrangendo o Ocidente Medieval, o Império Bizantino e o avanço imperialista muçulmano, alicerçadas no ambíguo conceito de guerra santa: a expansão territorial fomentada pela expansão religiosa, seja sobre o ponto de vista do djihâd islâmico ou no de reconquista cristão. Sendo um intrinsecamente oposto ao outro, por definição, a ideia de cruzada pode ser entendida como equivalente ao djihâd e mesmo como uma contra-djihâd. A Primeira Grande Cruzada foi sem sombra de dúvidas um dos mais extraordinários acontecimentos da Idade Média. Da colossal movimentação bélica de muitos milhares de crentes abastados e humildes, instigada pela pregação de Urbano II, em 1095, seguida da extenuante marcha forçada de anos e anos rumo aos desertos da Palestina, até o espantoso genocídio final dentro dos muros da cidade que era o prémio maior da vasta empresa, a velha Jerusalém, o que se viu foi uma epopeia real, de dimensões homéricas, como nenhuma outra nos dez séculos que se convencionaram chamar de medievais. Prova do heroísmo, grandeza de espírito e fé inquebrantável do povo cristão europeu ou mera pirataria em larga escala, contra uma civilização culturalmente superior, o facto é que o sucesso da Primeira Grande Cruzada provocou espanto e deslumbramento ímpar no seu tempo. Nem sequer as conquistas de Carlos Magno igualaram-se à aventura cruzada. Mesmo a tragédia da Cruzada dos Pobres, longe de manchar a magnitude do evento principal, não fez mais do que aumentar sua dramaticidade». In Ademir L. Silva, Os Cavaleiros da Cruz Vermelha, Séculos XII e XIII, Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Goiás, Faculdade de CHeFilosofia, Goiãnia, 2003.

Cortesia de FdeCHeFilosofia/UniversidadeFGoiás/JDACT