Resumo
«O
objectivo deste trabalho é analisar o papel desempenhado pela Ordem dos Pobres
Cavaleiros de Cristo do Templo de Salomão, ou simplesmente os Templários, na
Reconquista e no processo de expansão urbana portuguesa, ocorrido ao longo dos
séculos XII e XIII. O Templo foi uma confraria monástica / militar, fundada em
Jerusalém no rastro do êxito da Primeira Grande Cruzada. Tinha como função primordial
proteger os peregrinos cristãos de ataques muçulmanos ao longo do perigoso caminho
para o Santo Sepulcro e outros lugares com simbologia mística cristã, na
chamada Terra Santa. A Ordem dos Templários prosperou rapidamente e, com o
apadrinhamento e orientação intelectual do célebre abade cisterciense Bernardo de
Claraval, logo espalhou-se por toda a Europa, assumindo importantes papeis na história
política, religiosa e económica do medievo. Foram fundamentais, por exemplo, nas
guerras de Reconquista da Península Ibérica. No então nascente reino português,
os Templários assumiram a cabeça da defesa da capital afonsina, Coimbra, e
foram os principais protectores da linha do rio Tejo, então fronteira
portucalense natural com os domínios muçulmanos. Em pagamento por estes
serviços militares a Ordem recebeu, em doações régias, o controle sobre vastas
regiões, nas quais ergueram fortificações que serviram como base para a
fundação de inúmeros núcleos urbanos. Povoados que viviam literalmente sob a
sombra dos muros dos castelos templários, ao mesmo tempo em que serviam como
principal fonte de sustento material e portanto sustento institucional para a
confraria».
«E
o amigo o que faz?, me havia perguntado, agora o sei, com simpatia. Na vida ou
no teatro?, disse, acenando para o palco do Pílades. Na vida. Estudo. Frequenta
a universidade ou estuda? Não lhe parecerá verdade mas as duas coisas não se contradizem.
Estou terminando uma tese sobre os Templários. Que coisa horrível, disse. Isso
não é coisa de doidos? Provavelmente Hugo e os primeiros oito eram idealistas,
devotos da mística da cruzada. Mas em seguida agirão como cadetes em busca de aventuras.
O novo reino de Jerusalém é um pouco a Califórnia daqueles tempos, pode-se
fazer fortuna». In Umberto
Eco
O signo da peregrinação
A Ordem
dos Templários, ou simplesmente o Templo, ou ainda, como se designava nos seus
documentos oficiais, Frates militiae Templi ou Pauperes commilitones
Christi Templique Salomonis, Irmãos Guerreiros do Templo e Pobres Cavaleiros
de Cristo do Templo de Salomão, confraria monástico / militar criada em meados
do século XII, na chamada Terra Santa, para proteger pelas armas os peregrinos
que percorriam a rota rumo ao Santo Sepulcro de Jerusalém, foi um subproduto da
febre das cruzadas. As diversas expedições militares ao Próximo Oriente organizadas
pela cristandade europeia entre 1096 e 1270, representaram o ponto culminante
de uma vasta rede de relações históricas abrangendo o Ocidente Medieval, o
Império Bizantino e o avanço imperialista muçulmano, alicerçadas no ambíguo
conceito de guerra santa: a expansão territorial fomentada pela expansão
religiosa, seja sobre o ponto de vista do djihâd islâmico ou no de
reconquista cristão. Sendo um intrinsecamente oposto ao outro, por definição, a
ideia de cruzada pode ser entendida como equivalente ao djihâd e mesmo
como uma contra-djihâd. A Primeira Grande Cruzada foi sem sombra de
dúvidas um dos mais extraordinários acontecimentos da Idade Média. Da colossal
movimentação bélica de muitos milhares de crentes abastados e humildes,
instigada pela pregação de Urbano II, em 1095, seguida da extenuante marcha
forçada de anos e anos rumo aos desertos da Palestina, até o espantoso
genocídio final dentro dos muros da cidade que era o prémio maior da vasta
empresa, a velha Jerusalém, o que se viu foi uma epopeia real, de dimensões
homéricas, como nenhuma outra nos dez séculos que se convencionaram chamar de
medievais. Prova do heroísmo, grandeza de espírito e fé inquebrantável do povo
cristão europeu ou mera pirataria em larga escala, contra uma civilização
culturalmente superior, o facto é que o sucesso da Primeira Grande Cruzada provocou
espanto e deslumbramento ímpar no seu tempo. Nem sequer as conquistas de Carlos
Magno igualaram-se à aventura cruzada. Mesmo a tragédia da Cruzada dos Pobres,
longe de manchar a magnitude do evento principal, não fez mais do que aumentar
sua dramaticidade». In Ademir L. Silva, Os Cavaleiros da Cruz Vermelha, Séculos XII e XIII,
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
CHeFilosofia, Goiãnia, 2003.
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