Manuscrito 17202
«(…) Embora o documento em questão tenha
sido conhecido por muitos nomes no mundo antigo, os académicos actuais
referem-se-lhe sob a designação de José e Assenat. A obra é curiosa. Por
um lado, o nome é terrivelmente enganador. Foi apelidado José e Assenat porque
sugere que trata do antigo patriarca israelita José e da sua obscura esposa
egípcia, Assenat. Segundo o livro bíblico do Génesis, estas personalidades viveram
há cerca de três mil e setecentos anos, algumas gerações depois de Abraão, mas
muito antes de Moisés e mil e quinhentos a mil e setecentos anos antes do
nascimento de Jesus de Nazaré. Contrastando com a história bíblica de José e
Assenat, o manuscrito da Biblioteca Britânica narra uma história aparentemente
diferente. Trata-se de amor, sexo sagrado, política, traição e homicídio. Uma
história extremamente interessante, mesmo segundo os padrões antigos. De facto,
muito pouco do que está no manuscrito corresponde ao relato bíblico de José
e Assenat. Não é, de modo algum, a mesma história. Existem demasiados
pormenores que nos convidam, exigem mesmo, a transpor a sua camada superficial
e a entrar no sentido subjacente; uma história secreta. Por outras palavras,
suspeitamos fortemente de que a narrativa à superfície é na realidade uma
história falsa para ocultar uma mensagem mais profunda, que faz todo o sentido,
mas só no contexto dos primeiros tempos do cristianismo.
O que diz?... E o que não diz?
José e Assenat da Biblioteca
Britânica constitui uma história diferente da que se encontra no Livro do
Génesis. Parece usar os nomes José e Assenat como códigos, para nos dizer de
forma disfarçada, uma coisa muito importante acerca da história de duas outras
pessoas. Oculta sob a narrativa superficial uma mensagem mais profunda, com
maior premência. Existem quatro episódios no documento. Para fazer uma
distinção clara entre o nosso comentário e a sinopse, separámos a segunda e
usámos para ela um tipo de letra diferente. Eis, pois, A História de José, o Justo, e Assenat, Sua Esposa, as questões que
levanta e a história oculta que sugere.
Sinopse
José, o antigo
patriarca israelita, está no Egipto e aproxima-se da cidade de Heliópolis. Envia
mensageiros a Potifera, um sacerdote de Heliópolis e conselheiro do faraó,
indicando que gostaria de almoçar com ele. Potifera tem uma filha muito bela,
Assenat, uma virgem de dezoito anos que se tem afastado dos homens. José também
é virgem. Embora Assenat seja egípcia, é descrita como nobre e gloriosa como
Sara, bela como Rebeca e virtuosa como Raquel, a matriarca do antigo Israel. A
propriedade de Potifera é descrita em pormenor. Inclui uma casa e um jardim luxuriante.
E, o mais importante, contém uma torre alta. Assenat vive no andar superior da
torre, com dez divisões, descritas pormenorizadamente, incluindo uma sala
dedicada a uma série de divindades. É servida por sete belas virgens. Toda a
propriedade é rodeada por muros e portões. Para saudar José, Assenat veste um
trajo de fino linho branco e rubis. Depois coloca uma coroa na cabeça e
cobre-se com véus nupciais. Os pais rejubilam ao vê-la ornada como uma Noiva de
Deus. Potifera descreve José como o Poderoso de Deus e como o salvador. Continua,
dizendo a Assenat que José te será dado como teu noivo para sempre. Assenat começa
por desprezar José por ser estrangeiro, o filho de um pastor de Canaã, diz ela
desdenhosamente, mas quando o vê muda de opinião. José chega no seu carro
triunfal dourado. Veste uma túnica branca e um manto púrpura e a sua cabeça
está ornada com uma coroa de ouro. Doze luminosos raios dourados, como os raios
do Sol a brilhar, emanam da sua cabeça. Na mão esquerda segura um ceptro real;
na direita, uma planta semelhante a um ramo de oliveira. Assenat modifica a
primeira impressão desdenhosa e diz: agora vejo o sol a brilhar que emana do
seu carro que chegou até nós, acrescentando que não se apercebera de que José
era o Filho de Deus. José come separado dos egípcios (presumivelmente por
questões relacionadas com a dieta judaica). Assenat saúda José: abençoado do
Deus Supremo, a paz esteja contigo. José responde: possa o Senhor, portador da
vida para todas as coisas, abençoar-te. José e Assenat são proclamados como irmão
e irmã. Potifera encoraja-os a beijarem-se. Quando estão prestes a fazê-lo,
José coloca a mão direita entre os seios de Assenat e diz: não está certo que
um homem que venera Deus, que abençoa o Deus vivo e come o pão abençoado da
vida e bebe a taça abençoada da imortalidade e da incorruptibilidade e que é
ungido com o unguento perfumado da santidade tenha relações sexuais e beije uma
mulher estrangeira que abençoa os mortos, ídolos ocos e come imundas comidas estranguladas
e bebe a libação do embuste e foi ungida com o unguento da corrupção. Assenat
fica desconcertada com esta rejeição. Vendo a dor de Assenat, José comove-se e
ora. Em nome do Deus que chama as pessoas da escuridão para a luz, do erro para
verdade e da morte para a vida, implora-Lhe que renove e transforme Assenat.
Reza para que ela possa comer o pão eterno da vida, beber da taça abençoada e
figure entre o povo de Deus e viva para sempre. Dito isto, José sai, prometendo
regressar dentro de oito dias». In
Simcha Jacobovici e Barrie Wilson, A Vida Privada de Jesus, 2014, tradução
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