terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

A Sismologia e a Dinâmica Planetária. Luís Mendes Victor. «... pequenos sinais de certa ilha antiga..., podemos conjecturar que nesta ruína pereceria a antiga ilha Eritreia que, segundo Pomponio Mella, esteve na costa da Lusitânia»


Cortesia de wikipedia e jdact



Sismicidade histórica
«(…) Para uma melhor compreensão dos vários sismos, apresentam-se por ordem cronológica algumas descrições da época: 309, 22 de Fevereiro, antes de amanhecer ocorreu um espantoso terramoto em Portugal e em toda a Europa. (Rodriguez, 1932); 382, frei Bernardo Brito, na Monarquia Lusitana, baseando-se em Amiano Marcelino e em Laymudo, refere-se a um terramoto que causou grandes danos na Sicília, Grécia e Palestina e também nas terras marítimas da Península Ibérica. Submergiram-se ilhas situadas em frente do Cabo de S. Vicente, das quais actualmente ainda existem vestígios, e esclarece Laymudo faz grande fundamento desta inundação do mar, referindo-se quase as formais palavras do monge Eutrópio..., a crescente do mar abriu algumas ilhas que antigamente se povoavam..., das quais ficaram no meio do mar algumas rochas que o mar deixou descarnadas da terra, as quais se vê..., principalmente no Cabo de S. Vicente, onde ficaram uns pequenos sinais de certa ilha antiga..., podemos conjecturar que nesta ruína pereceria a antiga ilha Eritreia que, segundo Pomponio Mella, esteve na costa da Lusitânia. (...) (...) A existência de ilhas ao largo de S. Vicente é assinalada por Estrabão nos seguintes termos: o litoral adjacente ao promontório sagrado (Cabo de S. Vicente) forma o começo do lado ocidental da Ibéria até à boca do Tejo e o começo do lado meridional até à foz de outro rio chamado Anas (Guadiana)... Este cabo (promontório Sagrado) marca o extremo ocidente não só da Europa, mas de toda a terra habitada... Artimidoro, que diz ter estado naquele sítio, compara-o na forma de um navio; segundo ele, o que ainda mais faz lembrar um navio é a proximidade das três ilhotas de tal modo colocadas, que uma figura o esporão, e as outras duas com o duplo porto assaz considerável que formam, figuram epótides do navio. São estas as ilhas que, segundo Eutrópio, desapareceram em consequência do sismo e maremoto. No que se refere à ilha Eritreia que frei Bernardo Brito conjectura que tenha desaparecido por ocasião deste terramoto, não pode ser localizada com precisão, pois parece ter havido mais do que uma com o mesmo nome. (Moreira, 1991)
Moreira Mendonça diz que neste ano houve um grande terramoto no qual padecerão muito as terras marítimas de Portugal. Subverterão-se ilhas, de que ainda ao presente apparecem algumas eminencias defronte ao cabo de S. Vicente. A zona epicentral talvez fosse o afundiamento em oval lusitano-hispano-marroquino. No ano 345, antes da era cristã, o mesmo autor diz que houve grandes terramotos de terra em Espanha, tendo-se submergido uma parte da ilha de Cadiz e, portanto, talvez a zona epicentral tivesse sido no mesmo afundimento. (Sousa, 1919) Neste ano houve terramotos por quase todo o mundo, sofrendo muito as costas marítimas de Portugal. Apareceram e desapareceram ilhas, das quais ainda existem alguns vestígios frente ao Cabo de S. Vicente. (Rodriguez, 1932); 1356, no dia 24 de Agosto, quarta-feira, pouco antes do pôr do Sol houve um grande terramoto em toda a Península que provocou o badalar dos sinos das igrejas e abriu de alto a baixo a capela-mor da Sé de Lisboa que poucos dias antes se acabara de edificar por ordem de el-rei Afonso IV. Esta capela já tinha sido destruída pelo terramoto de 1344. (...) (...) Este terramoto provocou grande pânico e destruições em Espanha, especialmente na Andaluzia. Em Sevilha houve estragos na torre da catedral (Giralda) e em Córdova também houve destruições, tendo morrido muitas pessoas e arruinaram-se bastantes igrejas. Ayala (1591) diz que houve um terramoto em dia de S. Bartolomeu, caíram as manzanas que estavam na torre de Santa Maria de Sevilha, e tremeu a terra em muitos lugares do reino e fez grande estremecimento no reino de Portugal e do Algarve. (...) (...) Não se encontrou todavia qualquer referência a maremoto provocado por este sismo. (Moreira, 1991); 1504 (...) No dia 5 de Abril um sismo com epicentro na região de Carmona (Espanha) causou aí grandes destruições, arruinando a catedral e outras igrejas, além de muitas casas, e causou a morte de muitas pessoas. Este sismo parece ter causado destruição no Algarve. Navarro Neuman, Montandon (1953) e Ferreras (1724) referem todavia que, em Portugal, os abalos ocorreram no fim do Outono. Alguns autores referem-se ainda a réplicas durante o ano de 1505. (Moreira, 1991)» In Luís Mendes Victor, A Sismologia e a Dinâmica Planetária, Seminário Internacional sobre Prevenção e Protecção das Construções contra Riscos Sísmicos, Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, Lisboa, 2004, ISBN 972-865-414-6.

Luís Alberto! Que estejas na paz!

Cortesia de SIPCR Sísmicos/JDACT