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De Volta de Ceuta
«(…)
Pois ventura
me subiu a tanta altura,
que me sejais valedoras,
ditosa seja a tristura,
que se cura
por vossos rogos.
Senhoras.
Ser minha pena mortal.
Já que intendeis que é
assi,
não quero fallar por mi,
que por mi falia meu
mal.
Sois formosas,
haveis de ser piedosas,
por ser tudo de uma côr;
que pois Amor vos fez
rosas
milagrosas,
fazei milagres d'amor.
Pedi a quem vós sabeis
que saiba de meu
trabalho,
não pelo que eu nisso
valho,
mas pelo que vós valeis.
Que o valer
de vosso alto merecer,
com lh'o pedir de
giolhos.
fará que em meu padecer
possa ver
o poder que tem seus
olhos.
Vossa muita formosura
com a sua tanto val,
que me rio de meu mal,
quando cuido em quem me
cura.
A meus ais
peço-vos que lhe
valhais,
damas, de Amor tão
validas,
que nunca tal dôr
sintais,
que queirais,
onde não sejais queridas.
Olvidada e aborrecida por causa da infanta (olvide y aborreci.
Hasse de entender assi: que, desque os di mi cuidado, a quantas hove mirado, olvide
y aborreci), exposta á irrisão com expressões equivocas para a sua honra delicada, a menina dos olhos verdes
tinha o coração morto para o falso cavalheiro
ingrato (falso cavalheiro ingrato! Enganais-me! Vós dizeis que eu vos mato,
e vós matais-me! Costumadas artes são, para enganar innocenciais, piedosas aparências
sobre o isento coração. Eu vos amo e vós, ingrato, magoais-me, dizendo que eu
vos mato, e vós matais-me!), que ella tanto havia amado. Para Falsos amores, falsos,
maus, enganadores (apartaram-se os meus olhos de mi tão longe… Falsos amores!
Falsos, maus, enganadores! Trataram-me com cautela, por me enganar mais asinha.
Dei-lhe posse da minha alma, foram-me fugir com ella. Não há vê-los, nem há vê-la.
De mi tão longe… Falsos amores! Falsos, maus, enganadores!), bastara uma vez.
Ao desolado poeta não
restava senão lastimar a sua sorte e explicar por outros amores a invencível
pertinácia da gentil menina.
E pois fé verdadeira,
amor perfeito,
tormento desigual e vida
triste,
junta com um continuo
soffrimento
e um mal, em que o mal
todo, emfim, consiste.
não puderam mover teu
duro peito
a mostrares sequer
contentamento
de ver o meu tormento,
antes tudo, soberba,
desprezaste,
e a outrem te
entregaste,
por nada me ficar em que
esperasse,
senão quando acabasse
a vida, a pesar meu, já
tão cumprida.
perca quem te perdeu
também a vida.
(Egloga 4.ª).
E a infanta? A infanta
continuava a ser a obsessão constante do poeta, apesar dos esforços que elle
empregava para afastar do seu espirito as doces
lembranças da passada gloria.
Doces lembranças da
passada gloria.
que -me tirou fortuna
roubadora,
deixai-me descansar em
paz uma hora,
que comigo ganhais pouca victoria.
Impressa tenho na alma
larga historia
deste passado bem, que
nunca fôra,
ou fôra e não passára;
mas já agora
em mi não póde haver
mais que a memoria.
Vivo em lembranças,
morro de esquecido
de quem sempre devêra
ser lembrado,
se lhe lembrára estado
tão contente.
Oh quem tornar pudéra a
ser nascido!
Soubera-me lograr do bem
passado,
se conhecer soubera o
mal presente!
(Soneto 18)».
In José Maria Rodrigues, Camões e a Infanta D. Maria, Separata do
Instituto, Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra, 1910, há memória do
Mal-Aventurado Príncipe Real Luís Philippe (3 1761 06184643.2), PQ 9214 R64 1910 C1 Robarts/.
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