jdact
Equívocos,
distracções e disparates que desmoronaram impérios, arrasaram economias e
alteraram o rumo do nosso mundo
Uma
Promessa Tonta. A Oferta de Godwinson. Ano de 1050
(…) Tem-se
como certo que, durante o período de exílio de Godwin, Eduardo recebeu a visita
de Guilherme, duque da Normandia. Terá sido durante esta visita que Eduardo ofereceu
a sucessão a Guilherme. Considerando o relacionamento de Eduardo com Godwin, é uma
coisa que parece muito segura. Mas quando se soube que a coroa teria sido oferecida
a um normando, Eduardo perdeu o apoio dos lordes ingleses. Godwin conseguiu com
isso recuperar alguns dos apoios perdidos e até ir recrutar soldados à Flandres.
E depois obrigou o rei a deixá-lo regressar. Eduardo voltou a acolher Godwin e os
filhos e deu-lhes as suas antigas posições e os respectivos títulos. Não foi preciso
muito tempo para Godwin voltar a exercer a sua autoridade. Com o seu regresso, muitos
normandos perderam os títulos e as terras. E quando Godwin finalmente morreu,
em 1051, os nobres que haviam sido espoliados começaram a acalentar esperanças
de conseguirem recuperar o seu anterior estatuto. Mas essas esperanças nunca se
concretizaram. Haroldo, o filho mais velho de Godwin, avançou e preencheu o lugar
do pai. Haroldo governou Inglaterra nos bastidores, com uma autoridade que não
encontrava oposição apesar do desassossego que se fazia sentir na corte, entre os
normandos, os saxões e os dinamarqueses. A única oposição veio de Tostig, o seu
próprio irmão, que rapidamente ganhou os favores do rei. Tostig estabeleceu
relações de amizade com muitos dos nobres normandos, o que o tornou querido de Eduardo.
Mas, ao receber o condado de Nortúmbria, despertou os ciúmes de Haroldo. Os dois
irmãos ficaram de costas voltadas, e até pode ter sido essa a intenção do rei,
desde o início. Talvez Eduardo tivesse sido subestimado pelos Godwinsons. Mas, quaisquer
que tivessem sido as suas intenções, Eduardo conseguiu afastar Haroldo e Tostig.
Rompida
a sua relação com o irmão, Haroldo veio inesperadamente a encontrar uma nova amizade.
Em 1064, o seu barco encalhou ao largo da costa francesa. O conde de Ponthieu
fê-lo prisioneiro e pediu um resgate. Guilherme enviou ao conde um pedido para libertar
o barão do rei inglês. E Haroldo achou-se assim na corte do duque Guilherme. Os
dois homens simpatizaram um com o outro e rapidamente se tornaram amigos. Foi por
meio desta amizade que certas alianças se formaram. De acordo com a crónica narrada
por imagens na Tapeçaria de Bayeux, Guilherme propôs a Haroldo que ele o apoiasse
como herdeiro do trono inglês. Em troca, Haroldo seria nomeado conde de Wessex e
receberia a filha de Guilherme como noiva. De acordo com a tradição, Haroldo prestou
juramento de fidelidade a Guilherme e prometeu-lhe que não faria nenhuma
tentativa de reivindicar a coroa. O juramento foi feito num altar onde se encontravam
os ossos de São Edmundo. Os juramentos prestados feitos sobre relíquias sagradas
eram considerados invioláveis, independentemente das circunstâncias.
Na fase
final do reinado de Eduardo, o país entrou numa espiral de declínio quando as várias
facções começaram a lutar entre si. o conselho anglo-dinamarquês, que julgava falar
em nome de toda a população, enfraqueceu o poder da monarquia e não se conseguiu
afirmar como órgão representativo com influência governamental. Os chefes locais
começaram a intrigar e a cuidar apenas dos seus próprios interesses enquanto eclodiam
conflitos por todo o país. No meio deste caos e desta incerteza quanto ao futuro,
Eduardo caiu à cama, já muito doente. Antes de expirar, terá indicado Haroldo como
seu sucessor, apesar de já ter prometido o trono a Guilherme, o duque da Normandia.
Numa coincidência muito oportuna, o arcebispo Stigand, um apoiante fiel do conde
Godwin, estava presente quando isso aconteceu e confirmou o anúncio. Eduardo, o Confessor, morreu em Janeiro de 1066. (A
Igreja canonizou-o mais tarde e Eduardo tornou-se o santo mais destacado de Inglaterra,
até ser substituído por São Jorge.) Desprezando o juramento feito na corte de Guilherme
e o facto de não ter um fundamento hereditário para poder reclamar o trono,
Haroldo foi coroado rei. As coisas complicaram-se rapidamente. Grande parte de Inglaterra
aceitou-o como rei, ao contrário das casas reais da Europa e da Igreja, em
Roma. Guilherme considerou que era seu dever destronar o usurpador. Atravessou o
canal da Mancha e, com uma pequena ajuda de Haroldo, derrotou os saxões». In
Bill Fawcett, 100 Mistakes That Changed History, 2010, Os 100 Grandes Erros da
História, tradução Pedro Rosado, Clube do Autor, Lisboa, 2012, ISBN
978-989-724-023-2.
Cortesia
do CAutor/JDACT