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A
assembleia dos templários
«(…)
O incêndio lavra por toda a parte. A Suíça, a Inglaterra, a França, a Itália,
escutam com avidez os apóstolos das novas ideias. O poder pontifício está por
toda a parte cercado de homens que, às ocultas o minam, o atacam, e que hão de
com certeza destruí-lo. Irmãos, nós, que somos os Senhores do Templo; nós, que
temos amigos e partidários por toda a parte; nós, que possuímos os tesouros
arrancados pelos nossos antepassados à cúbica de Filipe o Belo e multiplicados
até o infinito no decurso de séculos, unamo-nos todos, e, auxiliando a grande obra
de Martim Lutero, destruamos a Igreja e das suas ruínas façamos ressurgir a
ordem dos Templários! Apoiado!... Apoiado!, gritaram de todos os lados. Um dos
irmãos levantou-se: tens tu, disse ele, tens tu, venerável príncipe, um plano
pronto para a execução da empresa? Tenho um plano, não meu, mas estudado e
pensado conjuntamente com os meus colegas, respondeu o presidente. Não
esqueçais, irmãos, que depois da desgraça de Jacques Molay, a nossa ordem não
admitiu mais nenhum mestre; delegou todos os poderes no conselho dos sete
Senhores, o mais velho dos quais será o presidente, e, pelo triste privilégio
da idade, é a mim que presentemente cabe esse lugar. Mas eu e os meus companheiros
de grau, excepto o irmão Inácio de Loiola, que estava ausente, tínhamos combinado
alguns capítulos, que vos vão ser lidos. O ancião tirou do seio algumas folhas
de pergaminho: fez-se um profundo silêncio, pois que todos os Templários tinham
a mais profunda veneração pelo senhor de Beaumanoir, e além disso tinham jurado
a obediência mais absoluta ao conselho dos sete senhores.
Beaumanoir
leu: a assembleia constituída por cavaleiros, padres, vassalos, plebeus e
escravos, para libertar a humanidade das cadeias dos padres e dos soberanos,
compõe-se de três classes. A
primeira classe compreende os que se associam a esta obra com pureza de
coração, e têm intenção de se instruir nos mistérios da ordem. Estes deverão
durante três anos estudar os meios de se realizar o fim externo da associação,
e dividir-se-á em dois ramos, aprendizes e mestres. A segunda classe
compreenderá os irmãos que do estado de ensino tiverem chegado ao estado de
operar. Estes terão a seu cargo executar no mundo dos profanos o que tiver sido
deliberado ou resolvido pelo supremo conselho; terão sob as suas ordens os
aprendizes e mestres, e serão iniciados nos segundos mistérios da ordem, que
dizem ao fim político e às reformas a obter. A
terceira classe,
finalmente, compor-se-á de um número limitadíssimo de pessoas, que serão
iniciadas nos terceiros mistérios. Estes iniciados supremos conhecerão as
forças da ordem o seu fim principal, os tesouros de que pode dispôr; serão de:
ligados de todos os laços, excepto dos que dizem respeito à ordem e,
conjuntamente com o Grão Mestre, governarão a terceira classe de associados. Nenhum
poderá ser promovido à classe superior sem ter completado pelo menos três anos na
classe inferior. O Grão-Mestre será eleito entre os dignitários da classe
suprema. A ordem, aliada a todos os apóstolos da razão, sustentar uma luta de
morte contra a Igreja e os tiranos, e não considerar cumprido o seu fim senão
quando a liberdade do homem e de consciência forem absolutamente reconhecidas.
O
presidente terminara a leitura. Os senhores que o rodeavam, e que, à excepção
de Loiola, tinham tomado parte na redacção daquele programa, conservavam-se
impassíveis. Não acontecia o mesmo com os outros associados, que, salvo raras
excepções, mostravam verdadeiro entusiasmo. Na verdade, aquelas normas claras,
simples, com um fim determinado, eram já de per si um poderoso meio de
propaganda. A divisão em classes permitia utilizar as faculdades de cada um,
segundo os melhores interesses da ordem; ao passo que a possibilidade de
passagem de um grau para outro abria um vasto horizonte à mais nobres das
ambições, e destruía a disposição aristocrática, tão prejudicial a qualquer corporação
instituída para governar os homens. Todavia, houve um dos irmãos que se
levantou: era este um nobre holandês, que vinha procurar, no meio dos
Templários aliados para o seu país, que se preparava para se insurgir contra a
Espanha. Devemos então procurar por toda a parte filiados para a nossa ordem?,
disse ele. Devemos abrir as fileiras da nossa instituição, até agora tão
zelosamente recusadas, a todos aqueles que nos parecerem aptos para nos
auxiliarem na empresa?» In Ernesto Mezzabota, O Papa Negro, 1947,
tradução de Adolfo Portela, Brasil,
Exilado dos Livros, Epub, 2001, ISBN 858-671-001-6.
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