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A
assembleia dos templários
«(…)
Sem dúvida, respondeu com certa altivez o presidente, e parece-me que todos os poderão
aceitar, desde que não tem dúvida em o fazer o senhor de Beaumanoir, que é tão nobre
como o rei de França! Oh!, não foi como censura ou queixa que eu disse isto,
apressou-se a declarar o holandês. O que eu queria fazer sentir era que o nome
da nossa antiga ordem, o sagrado nome do Templo, soaria mal aos ouvidos de um
povo, que nos esqueceu, ou que só se lembra de nós pelas vis calúnias que os
inimigos do Templo espalham contra nós. Por isso, entendo que na nova
organização do Templo é necessário que mudemos de nome. Irmão, disse afectuosamente
o senhor de Beaumanoir, o que propões já foi pensado pelos Sete Senhores, que
acharam que isso era razoável e sensato. O antigo Templo desmoronou-se; mas nós
trabalharemos para edificar outro, e sem dúvida o havemos de conseguir. A obra,
que empreendemos, é uma obra de reedificação; somos os pedreiros da humanidade.
Temos, pois, deliberado chamar-nos Pedreiros Livres. Apoiado!, gritou quase
unânime a assembleia, na qual a voz do príncipe de conde ressoava não menos
entusiástica do que a dos outros filiados. Então, disse Beaumanoir, erguendo-se,
a assembleia aprova as deliberações dos Sete Senhores? Então sois unânimes em
aprovar esta transformação, que deve por a nossa ordem a par dos maiores
potentados da terra? Sim! Sim, gritaram muitíssimas vozes. Mas uma voz potente
dominou aquele tumulto e proferiu estas palavras: oponho-me eu! Quem?, perguntaram
ameaçadoramente alguns associados, mais excitados do que os outros. Eu,
trovejou o peregrino, levantando-se majestoso impotente, apesar da miséria dos seus
andrajos. Eu, um dos Sete Senhores! Eu, Inácio de Loiola! Um longo frémito de
surpresa percorreu toda aquela multidão. Oito ou dez fidalgos, quase todos
espanhóis, aproximaram-se de Loiola, prontos a defenderem-no fazendo dos seus corpos
um escudo, se as disposições hostis da assembleia aumentassem. Mas Beaumanoir
com um gesto restabeleceu o silêncio na sala. Depois, voltando-se para Inácio
de Loiola, perguntou com brandura: irmão, então tu és partidário da consagração
do estado actual? E és precisamente tu, o mais audaz e empreendedor de todos
nós, aqueles que nós teríamos escolhido para chefe supremo se os nossos
estatutos nos consentissem ter um chefe…, és tu precisamente que te opões aos
nossos planos de reforma e sustenta as antigas ordens? Pelo contrário, disse
Inácio de Loiola, eu desejo uma transformação muito mais vasta e completa do
que a vossa; mas quero que ela se faça com outra inteligência, e segundo um plano
já preparado e escrito por mim. E porque é que, segundo os nossos usos, não
falaste dessas tuas intenções no Conselho dos Sete Senhores? Ter-te-íamos
escutado com afecto de irmãos, e teríamos procurado satisfazer os teus justos
desejos. Tinha a certeza de que havíeis de fazer-me oposição, e por isso
resolvi dirigir-me directamente à assembleia. Estou no meu direito; pelo nosso
estatuto os Sete Senhores são todos iguais entre si, e a preeminência concedida
ao mais velho é de honra, mas não de autoridade.
Fala,
então, disse Beaumanoir. Conhecemos os teus direitos e respeitá-lo-emos; mas
lembra-te também dos teus deveres, Inácio de Loiola, porque senão… O peregrino
respondeu com um gesto altivo àquelas ameaçadoras palavras. Fez-se um grande
silêncio na assembleia; os espanhóis amigos de Loiola chegaram-se ainda mais
para os Senhores para ouvirem e defenderem o seu amigo. Inácio de Loiola tirou
de sob o hábito algumas cartas manuscritas, pôs-se em pé e começou: Irmãos! Bem
sabeis qual a razão que me obrigou a abandonar o capítulo do Templo. Meu primo,
António Manriquez, duque de Najare e grande de Espanha, tinha-me chamado para
ir servir sob a sua bandeira. Os meus sete irmãos já me tinham precedido na
carreira das armas, e eu, tinha completado os meus vinte anos, considerar-me-ia
vil e desonrado se hesitasse um momento; por isso, corri a alistar-me no número
dos defensores de Pamplona. Segundo as condições do tratado de Noyon, aquela
fortaleza devia ser restituída à França; mas o nosso glorioso rei Carlos V, por
ofensas que tinha recebido do rei de França, resolveu puni-lo conservando
aquela praça. Foi-me confiado o comando da praça, quando em 1521 André Foix a
atacou à frente das tropas francesas». In Ernesto Mezzabota, O Papa Negro, 1947,
tradução de Adolfo Portela, Brasil,
Exilado dos Livros, Epub, 2001, ISBN 858-671-001-6.
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