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de wikipedia e jdact
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A testadora era ainda parente de Maria Eanes, viúva de Mestre Julião, que foi
sobrejuiz do rei Dinis I, o que prova a sua proximidade em relação às esferas
do poder. É inequívoca a ligação de Maria Raimundo a Santarém, nomeadamente ao
convento das clarissas, sendo uma delas, Maria Dias, expressamente contemplada
no seu testamento. Nas primeiras décadas de Trezentos, era também dona de Santa
Clara, Maria Martins de Coruche, filha de Martim de Coruche, proprietário em
Santarém, mas desconhecemos se entre elas existia alguma ligação familiar (a
mesma dúvida subsiste em relação a Maria Raimundo, dita Lagoa, que, em 1343,
era proprietária de uma herdade nos Bairros de Santarém, confinante com a
propriedade de João Eanes de Coruche, reposteiro de Afonso IV). Ao contrário do
testamento de Maria Raimundo, o de Maria Simões é muito parco em informações de
carácter biográfico. Diz-nos que é viúva de Fernando Afonso Baveca, mas não
lográmos identificar tal personagem. Embora a sua capela se destine também a
sufragar as almas dos seus progenitores, nada nos diz sobre as suas
identidades. Sabemos, no entanto, que é tia de Estêvão Esteves, clérigo
raçoeiro de S. Mateus de Santarém, que lhe notou o testamento e foi nomeado seu
testamenteiro e capelão.
Procurámos,
nas chancelarias de Dinis e de Afonso IV, referências a personagens
possivelmente aparentadas com a instituidora e verificámos que o nome Simão e o
respectivo patronímico eram, à época, relativamente comuns. Entre os portadores
mais destacados contam-se João Simão, mordomo de Dinis I; João Simão, sacador
dos dinheiros das casas e tendas do rei Afonso IV, em Lisboa; ou ainda Simão
Martins, notário deste rei; ou mesmo Vasco Simões, tabelião do Ribatejo. Nenhuma
destas informações nos permite estabelecer correlações entre a instituidora e
os homónimos seus contemporâneos, mas é possível conjecturar que Maria Simões,
com uma fortuna relativamente pequena, pertencia ao estrato superior da
cavalaria vilã, com possíveis ligações com a classe do tabelionado e dos
técnicos da escrita. Não sendo, ao que parece, natural de Coruche, visto que
não se declara vizinha, mas apenas moradora, está perfeitamente radicada na
vila. Vive na paróquia de S. João e pertence à confraria de S. Brás (porque os
seus bens, nomeadamente a albergaria e o hospital, foram integrados no
património da Misericórdia). Viveu o medo da peste negra redigindo o seu
testamento a 3 de Dezembro de 1348, não por se sentir doente, mas por temor da
morte que rondava perto (esta terrível epidemia teria entrado em Portugal por
via marítima e terrestre, em finais de Setembro de 1348 ou ainda antes,
tendo-se a mortandade prolongado até inícios de Janeiro de 1349).
Maria
Eanes Garavinha, pelo contrário, ao fazer o seu testamento, a 19 de Maio de 1394,
encontrava-se já doente: de dor que me deos deu. Afirma-se moradora e
vizinha de Coruche, viúva de Vicente Gonçalves, filha de João Garavinho e de
Margarida Pires e neta de Maria Pires. Ao definir-se como filha de e neta de,
não faz mais do que reclamar-se de uma linhagem prestigiada e prestigiante.
Contudo, não nos é possível, no estado actual dos nossos conhecimentos,
identificar as referidas personagens». In Maria Ângela Beirante, Salvação e Memória
de Três Donas Coruchenses do século XIV, Território do Sagrado, Edições
Colibri, 2011, ISBN 978-989-689-109-1.
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