quinta-feira, 17 de maio de 2018

A Verdadeira História. Margaret George. «Quem é ele?, perguntou Quezia. Aquele é o filho mais velho, Jesus, respondeu o rapaz que mostrara a família. É o preferido de José. Por quê? É bom carpinteiro?»

jdact

Olá. Após intervenção cirúrgica, estou de volta!

A Mulher que Amou Jesus
«(…) O que é que está olhando?, perguntou Quezia. Então, riu-se e deu-lhe a mão. Vamos lá, vamos continuar a exploração. Encontraram-se com outro grupo que parecia comedido. Quando ouviram que vinha de Nazaré, riram. Não temos de nos preocupar, disse Sara. Ninguém presta atenção aos nazarenos. Eles não contam. Por quê? Não contam, em que sentido?, perguntou Maria. Segurava a sua nova amiga, Quezia, bem próximo a si, como se tivesse encontrado um tesouro perto da estrada e não o largasse. É um vilarejo de gente pobre, disse Sara. Até surpreende como conseguiram juntar um grupo para viajar a Jerusalém. Mas têm uma porção de camelos, disse Maria. E ela achava que pessoas que têm camelos deveriam ser mais interessantes que as que têm jumentos, pois os camelos têm mais personalidade que os jumentos. É verdade, disse Quezia. Vamos lá, vamos tentar juntar-nos ao grupo e aí poderemos saber como é que são.
Com cuidado, foram se aproximando, pouco a pouco, até se juntarem a uma família que caminhava bem devagar. Tentaram começar uma conversa, perguntando sobre Nazaré. Mas as pessoas respondiam com frases curtas, secas. Não temos muitos forasteiros em Nazaré, disseram. Nazaré era uma cidade tranquila. Boa para criar uma família, foi o que disseram. Como não há muito o que fazer, talvez por isso as crianças não se metem em encrencas, disse uma senhora mais velha. Como aquela família ali. Apontou um grupo de pessoas que caminhavam juntas, com duas crianças pequenas sentadas no jumento. Aquele pessoal. José e a sua família. Maria olhou para ver de quem a mulher falava. Um homem ainda jovem, simpático, caminhava na frente, seguido, presumia-se, por sua mulher e várias outras pessoas, com o jumento com as crianças no fim da fila. É carpinteiro, disse um jovem. Não faz a viagem todos os anos, mas com bastante frequência. Tinha um irmão em Cafarnaum cujos filhos ficaram rebeldes e se juntaram àquelas insurreições. Suponho que José queira evitar esse tipo de problemas. Logo atrás de José e da sua mulher, caminhava um jovem, alto, resoluto, quase um homem, mas ainda bem jovem, de cabelo espesso e escuro que parecia ruivo à luz do sol de meio-dia. A seu lado, caminhava outro rapaz e em seguida um bando de outros.
Nesse momento, o jovem voltou-se para olhar Maria e as suas amigas. Tinha olhos escuros e profundos. Quem é ele?, perguntou Quezia. Aquele é o filho mais velho, Jesus, respondeu o rapaz que mostrara a família. É o preferido de José. Por quê? É bom carpinteiro? O rapaz encolheu de ombros. Não sei. Deve ser, senão José não teria orgulho dele. Mas todos os adultos gostam dele. E as pessoas da idade dele? Bom, nós gostamos dele, mas ele é muito... sério. Mas ele gosta de brincar e é um bom amigo. Mas..., riu-se, gosta muito de ler e tenta guardar segredo disso. Talvez por gostar tanto de ler e estudar, quando todos nós achamos tão maçante. Dizem que ele até sabe ler grego. Aprendeu sozinho. Isso é impossível, disse uma moça alta. Ninguém aprende grego sozinho. Bom, talvez o tenham ajudado, mas ele estudou sozinho. E em segredo. Tenho a certeza de que isso não era segredo para os amigos mais próximos dele, disse a moça, com desdém. Maria e as amigas decidiram conhecer de perto aquela família intrigante. Não foi difícil aproximar-se e juntar-se a eles. José, o patriarca, conduzia o grupo, batendo, a cada passada, com o cajado no chão. Maria notou que o cajado tinha uma bela talha e, no castão, tinha esculpida uma tâmara: um toque de artista.Que lindo cajado, disse Quezia, aproximando-se. José olhou para elas e sorriu. Gostou? Fui eu que fiz a talha, mas foi Jesus, este moço aqui, que esculpiu a tâmara». In Margaret George, A Paixão de Maria Madalena, 2002, Saída de Emergência, Edições Fio de Navalha, 2005, ISBN 972-883-911-1.

Cortesia de SdeEmergência/JDACT