sexta-feira, 18 de maio de 2018

O Vaticano contra Cristo. I Millenari. «Mas lá se deslocaram os papas. Que Igreja via correctamente e que Igreja se enganava, então? O vértice ou a base?»

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Erros da cúpula da Igreja
«(…) Nos primórdios do século que agora termina (século XX), a Virgem Mãe de Deus proferia em Fátima, com grande sofrimento do Papa, impotente, palavras duras sobre o comportamento dos dignitários de topo da Igreja: bispos contra bispos e cardeais contra cardeais. Fazia entender àquelas três crianças analfabetas que a Igreja seria sujeita a violência a partir de dentro, como prostituta honrada, por parte de prelados em escala da para o poder através de conjuras urdidas na corte. Tenta-se esconder o fundamento da acusação, embora o prazo da revelação da mensagem profética já tenha passado. Enquanto a humanidade desliza, uma avalanche de lama e de podridão invade o sinédrio e espalha-se. Poderá a criatura contrariar a ordem do Criador silenciando-o? Na verdade, durante as aparições de Fátima, o patriarca de Lisboa, António Mendes Belo, várias vezes manifestou à opinião pública a sua clara oposição ao que estava a acontecer, chegando a proibir aos seus padres a sua deslocação a Fátima em peregrinação. Mas lá se deslocaram os papas. Que Igreja via correctamente e que Igreja se enganava, então? O vértice ou a base?
Um caso bastante estranho é o do padre Pio de Pietrelcina, que durante cinquenta anos foi simultaneamente considerado um santo taumaturgo pelos fiéis cada vez mais numerosos que a ele acorriam e um mistificador perigoso e corruptor dos costumes, pelo Santo Oficio (maldito). Basta recordar aqui a infamante acusação do dito dicastério que, por diversas vezes, intimou a rodos, mas em especial aos clérigos, a não se aproximar do padre Pio, religioso a evitar pela sua santidade impostora, visionária e milagreira. Por essa razão, aquele pouco santo oficio tomou a estranha iniciativa, jamais repetida nem antes nem depois, de trocar o director espiritual do padre Pio, interditando o religioso de se confessar por escrito, a partir daí (2 de Junho de 1922). Não satisfeita, a mesma suprema congregação, em 31 de Maio de 1923, promulgou um decreto contra o dito Padre, no qual declarava nada constar acerca da sobrenaturalidade dos factos, no respeitante ao fenómeno místico da estigmatização, decreto devidamente publicado no Osservatore Romano de 5 de Julho seguinte, para conhecimento de toda a Igreja. Mas que Igreja, responda, se souber, se enganava: a do vértice que proibia ou a da base que o venerava, se dirigia a ele e contrariava as directivas do vértice? A declaração foi retomada no fascículo Analecta Cappuccinorum através do qual o padre Pio soube da notícia, que lhe dizia respeito, ao abri-lo logo na página exacta, o que o entristeceu e fez chorar.
Para fazer cessar o escândalo, o mesmo dicastério, não satisfeito com a imposição da pena da suspensão sem prazo de celebrar a missa em público (de 1931 a 1933), projectava também a transferência secreta do padre Pio para a Itália Setentrional ou mesmo para Espanha. Atenuadas as condenações, foram, depois, retomadas com maior veemência em 1960, quando aquele religioso, já com73 anos, foi novamente considerado como pessoa imoral, invocando-se relações sexuais com algumas das suas penitentes, segundo constava de bobinas viciadas de um gravador colocado por um padre no confessionário do padre Pio por incumbência do visitador apostólico, que se atribuía, como se vê, poderes que nem o papa podia conferir-lhe». In I Millenari, Via col vento in Vaticano, Kaos Edizioni, 1999, O Vaticano contra Cristo, tradução de José A. Neto, Religiões, Casa das Letras, 2005, ISBN 972-46-1170-1.

Cortesia Casa das Letras/JDACT