Erros da cúpula da Igreja
«(…) Nos primórdios do século que
agora termina (século XX), a Virgem Mãe de Deus proferia em Fátima, com grande
sofrimento do Papa, impotente, palavras duras sobre o comportamento dos
dignitários de topo da Igreja: bispos contra bispos e cardeais contra cardeais.
Fazia entender àquelas três crianças analfabetas que a Igreja seria sujeita a
violência a partir de dentro, como prostituta honrada, por parte de prelados em
escala da para o poder através de conjuras urdidas na corte. Tenta-se esconder
o fundamento da acusação, embora o prazo da revelação da mensagem profética já
tenha passado. Enquanto a humanidade desliza, uma avalanche de lama e de
podridão invade o sinédrio e espalha-se. Poderá a criatura contrariar a ordem
do Criador silenciando-o? Na verdade, durante as aparições de Fátima, o patriarca
de Lisboa, António Mendes Belo, várias vezes manifestou à opinião pública a sua
clara oposição ao que estava a acontecer, chegando a proibir aos seus padres a
sua deslocação a Fátima em peregrinação. Mas lá se deslocaram os papas. Que
Igreja via correctamente e que Igreja se enganava, então? O vértice ou a base?
Um caso bastante estranho é o do
padre Pio de Pietrelcina, que durante cinquenta anos foi simultaneamente
considerado um santo taumaturgo pelos fiéis cada vez mais numerosos que a ele
acorriam e um mistificador perigoso e corruptor dos costumes, pelo Santo Oficio
(maldito). Basta
recordar aqui a infamante acusação do dito dicastério que, por diversas vezes,
intimou a rodos, mas em especial aos clérigos, a não se aproximar do padre Pio,
religioso a evitar pela sua santidade impostora, visionária e milagreira. Por essa
razão, aquele pouco santo oficio tomou a estranha iniciativa, jamais repetida nem
antes nem depois, de trocar o director espiritual do padre Pio, interditando o religioso
de se confessar por escrito, a partir daí (2 de Junho de 1922). Não satisfeita,
a mesma suprema congregação, em 31 de Maio de 1923, promulgou um decreto contra
o dito Padre, no qual declarava nada constar acerca da sobrenaturalidade dos factos,
no respeitante ao fenómeno místico da estigmatização, decreto devidamente publicado
no Osservatore Romano de 5 de Julho seguinte, para conhecimento de toda
a Igreja. Mas que Igreja, responda, se souber, se enganava: a do vértice que proibia
ou a da base que o venerava, se dirigia a ele e contrariava as directivas do vértice?
A declaração foi retomada no fascículo Analecta Cappuccinorum através do
qual o padre Pio soube da notícia, que lhe dizia respeito, ao abri-lo logo na página
exacta, o que o entristeceu e fez chorar.
Para
fazer cessar o escândalo, o mesmo dicastério, não satisfeito com a imposição da
pena da suspensão sem prazo de celebrar a missa em público (de 1931 a 1933), projectava
também a transferência secreta do padre Pio para a Itália Setentrional ou mesmo
para Espanha. Atenuadas as condenações, foram, depois, retomadas com maior veemência
em 1960, quando aquele religioso, já com73 anos, foi novamente considerado como
pessoa imoral, invocando-se relações sexuais com algumas das suas penitentes, segundo
constava de bobinas viciadas de um gravador colocado por um padre no confessionário
do padre Pio por incumbência do visitador apostólico, que se atribuía, como se vê,
poderes que nem o papa podia conferir-lhe». In I Millenari, Via col vento in
Vaticano, Kaos Edizioni, 1999, O Vaticano contra Cristo, tradução de José A.
Neto, Religiões, Casa das Letras, 2005, ISBN 972-46-1170-1.
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